O renomado climatologista Carlos Nobre, referência em mudanças climáticas, expressou sua preocupação com as propostas atuais na 29ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), realizada em Baku, Azerbaijão. Segundo Nobre, as metas estabelecidas até agora, apesar de serem um passo positivo, ainda são insuficientes para conter o aumento da temperatura global e evitar catástrofes ambientais futuras. Ele alerta que, se as emissões de gases de efeito estufa não forem drasticamente reduzidas, o mundo se aproxima do que chamou de “suicídio planetário”.
Nobre frisou que a meta do Acordo de Paris, que busca limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação ao período pré-industrial, já está comprometida. “Estamos com a temperatura elevada em 1,5°C há 16 meses. Se mantivermos esse nível por mais três anos, será difícil reverter”, afirmou.
A Urgência da Ação e o Papel dos Países na Redução das Emissões
O Brasil, que será a próxima sede da COP em 2025, atualizou sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), comprometendo-se a reduzir significativamente as emissões nos próximos anos. Essa decisão é um marco importante e evidencia o compromisso brasileiro em liderar a luta contra as mudanças climáticas. Nobre destacou que o Brasil tem uma responsabilidade especial, não apenas pelo seu papel como anfitrião, mas também pela sua rica biodiversidade e vastas áreas de floresta tropical, como a Amazônia.
Para Nobre, essa COP29 deve se destacar das conferências anteriores e trazer discussões sobre os riscos de um aumento de até 2,5°C até 2050, caso as metas não sejam cumpridas. Ele enfatizou que os países precisam adotar medidas ainda mais ambiciosas para frear o aquecimento global. “Se continuarmos como estamos, poderemos enfrentar um aumento de até 2,5°C, o que traria consequências devastadoras”, alerta.
Adaptação e Sustentabilidade: Alternativas para um Futuro Viável
Além das metas de redução, Nobre ressaltou a importância de preparar as nações para os impactos já inevitáveis. Ele mencionou que eventos extremos, como furacões e enchentes, têm se tornado mais frequentes e intensos em todas as regiões do mundo. Países menos desenvolvidos são os mais vulneráveis a esses eventos e precisam de apoio internacional para adaptação.
Uma das alternativas mencionadas pelo climatologista é o consumo consciente, que vem sendo facilitado pelos avanços tecnológicos. No Brasil, 75% das emissões são provenientes do desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Nobre destacou que já existem práticas sustentáveis, como a pecuária de baixa emissão de carbono e o consumo de energia solar, que pode ser mais acessível e eficiente que as fontes tradicionais.
Mudança de Consumo e o Papel do Cidadão no Combate às Mudanças Climáticas
Nobre enfatizou que todos podem contribuir na luta contra as mudanças climáticas. O consumo de carne oriunda da pecuária sustentável e a aquisição de carros elétricos são escolhas que beneficiam o meio ambiente sem representar um aumento significativo nos custos. Segundo ele, “Comprar carne de baixa emissão ou um carro elétrico é uma decisão economicamente vantajosa e ecologicamente necessária”.
O cientista conclui que, em uma sociedade democrática como a brasileira, é possível fazer escolhas que impactem positivamente o meio ambiente. Ele reforçou que, com ações coordenadas e escolhas sustentáveis, é viável enfrentar o desafio climático.