Colaboração entre saberes é fundamental para o futuro sustentável
Pesquisadores indígenas e cientistas ocidentais publicaram um artigo inédito na prestigiada revista Science, defendendo a integração do conhecimento ancestral indígena com a ciência ocidental. O estudo, assinado por representantes dos povos Tuyuka, Tukano, Bará, Baniwa e Sateré-Mawé, em parceria com universidades brasileiras e o Brazil LAB da Universidade de Princeton (EUA), aponta que essa colaboração é fundamental para salvar a Floresta Amazônica e enfrentar a emergência climática global.
Os cientistas destacam que a visão holística dos povos originários, que consideram cultura e natureza como elementos inseparáveis, oferece soluções eficazes para a conservação dos ecossistemas. A região do Alto Rio Negro, no Amazonas, conhecida pela diversidade cultural e biológica, foi o ponto central da pesquisa.
Conhecimento ancestral: base para a conservação da Amazônia
No artigo, os autores explicam que os povos indígenas entendem o mundo dividido em domínios terrestre, aéreo e aquático, todos interligados. Para acessar os recursos da natureza, é necessário respeitar rituais e dialogar com outros seres, como animais, plantas e elementos naturais. Essa compreensão complexa e respeitosa com o ecossistema é um diferencial que a ciência ocidental só começou a valorizar recentemente.
“Enquanto a ciência ocidental trata os seres como matéria, os indígenas entendem que tudo possui vida e deve ser respeitado”, destacou Justino Sarmento Rezende, pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e um dos autores.
Os cientistas indígenas acumulam, há milênios, conhecimento empírico sobre ecologia, biodiversidade e sustentabilidade. Para eles, o equilíbrio ambiental depende do entendimento de que os humanos são participantes ativos do ecossistema, e não agentes superiores ou independentes.
A importância do diálogo entre ciências
Carolina Levis, pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), reforça que a integração entre as ciências é essencial. “Precisamos de múltiplos saberes para resolver problemas tão complexos, como a emergência climática e a crise da biodiversidade. Esse diálogo é urgente e transformador.”
No artigo, os autores também destacam a influência dos ciclos naturais e dos movimentos das constelações na vida terrestre. Povos indígenas utilizam esses conhecimentos para o cultivo de alimentos e a organização de rituais, demonstrando uma relação equilibrada e integrada com o meio ambiente.
Reconhecimento e inclusão
O estudo conclui que o envolvimento direto de líderes e especialistas indígenas é essencial para a conservação da Amazônia. Segundo Carolina Levis, a inclusão respeitosa desses saberes nos processos científicos e decisórios pode garantir uma abordagem mais eficaz e sustentável.
“Os especialistas indígenas cuidam da Terra há milênios, e é fundamental que a ciência ocidental reconheça e valorize esse conhecimento”, pontua a pesquisadora.