O tenente-coronel Mauro Cid, peça-chave na investigação sobre a tentativa de golpe no governo anterior, acusou advogados ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro de assediar sua família, incluindo sua filha menor de idade, com o objetivo de obstruir seu acordo de delação premiada. A revelação levou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a ordenar que a Polícia Federal (PF) colha os depoimentos dos advogados Paulo Cunha Bueno e Fabio Wajngarten.
Defesa de Bolsonaro sob suspeita de obstrução da Justiça
A defesa de Mauro Cid alega que os contatos dos advogados com sua família configuram uma tentativa de obstruir a Justiça. Segundo Cid, os advogados buscaram informações sobre sua delação e tentaram dissuadi-lo de colaborar com as autoridades na investigação sobre o complô golpista.
Moraes determina depoimentos de advogados
Diante das acusações, o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal que investiga o “núcleo crucial” da trama golpista, determinou que a PF interrogue Paulo Cunha Bueno e Fabio Wajngarten. Wajngarten, além de advogado, foi assessor de Bolsonaro.
Detalhes da acusação de Cid
Em depoimento à PF, Mauro Cid relatou que identificou, ao analisar o celular de sua filha, contatos constantes dos advogados Luiz Eduardo de Almeida Kuntz e Fabio Wajngarten com a menor, por meio dos aplicativos WhatsApp e Instagram.
Contatos frequentes e perfil falso no Instagram
Segundo Cid, os contatos ocorreram de forma “constante” entre setembro de 2023 e o início de 2024. Luiz Eduardo Kuntz, que também defende o coronel Marcelo Câmara, outro réu na ação penal sobre o golpe, chegou a solicitar ao Supremo a anulação da delação de Cid. Kuntz alegou que Cid teria discutido informações sobre a delação em um encontro pessoal e por meio de um perfil falso no Instagram, violando o sigilo de seus depoimentos e, portanto, invalidando sua colaboração.
Investigação sobre o perfil “Gabrielar702”
A empresa Meta, dona do Instagram, confirmou ao STF que o perfil “Gabrielar702” foi criado com o e-mail [email protected]. A Google, por sua vez, informou que o endereço pertence a um usuário que registrou como data de nascimento a mesma de Cid.
Cid nega envolvimento com o perfil e reitera voluntariedade da delação
O tenente-coronel Mauro Cid nega ter discutido a delação com Kuntz ou ter qualquer relação com a conta no Instagram. Ele reafirmou que sua delação foi feita de forma voluntária e alegou que o advogado o cercou, assim como sua família, com encontros em eventos nas hípicas de Brasília e São Paulo.
Abordagens à família em eventos
Cid relatou, inclusive, uma abordagem à sua mãe, Agnes, em um evento na Hípica de São Paulo, onde o advogado Paulo Bueno também estava presente, durante uma competição em que sua filha menor participava.
Intenção de obstruir as investigações
Questionado sobre o motivo das abordagens dos advogados a sua família, Cid afirmou acreditar que Kuntz “estabeleceu esse contato para obter informações sobre o acordo de colaboração firmado pelo declarante e, com isso, obstruir as investigações em andamento, aproveitando-se da inocência de sua filha menor de idade”.
Áudios e edição de material
Em relação aos áudios em que parece discutir a delação com Kuntz por meio do Instagram, Mauro Cid declarou acreditar que foi gravado involuntariamente e que o material teria sido recortado e editado.
Prisão de coronel Marcelo Câmara
Apesar da negativa de Kuntz sobre qualquer tentativa de obstrução de Justiça, Moraes determinou a prisão de seu cliente, o coronel Marcelo Câmara, por entender que o réu teria violado a determinação de não usar as redes sociais ou tentar manter contato com outros investigados.
Reação de Wajngarten
Após a decisão de Moraes ordenando seu depoimento à PF, Wajngarten se manifestou nas redes sociais, argumentando que “a criminalização da advocacia é a cortina de fumaça para tentar ocultar a expressa falta de voluntariedade do réu delator Mauro Cid e a consequente nulidade da colaboração”.
Em conclusão, a acusação de Mauro Cid contra advogados ligados a Bolsonaro intensifica as investigações sobre a tentativa de golpe e coloca em xeque a atuação da defesa do ex-presidente. A determinação de Moraes para que a PF ouça os advogados envolvidos demonstra a seriedade com que o STF está tratando o caso.