A vacina contra a chikungunya, aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, enfrenta um futuro incerto após sua licença ser suspensa nos Estados Unidos devido a relatos de efeitos adversos graves, incluindo casos de encefalite idiopática, hospitalizações e mortes. Esta decisão da Food and Drug Administration (FDA) norte-americana acende um alerta e pode levar a uma reavaliação do imunizante também em território brasileiro, conforme ressaltado por especialistas.
O Cenário da Chikungunya no Brasil
Mais de uma década após a identificação dos primeiros casos, o vírus da chikungunya continua a ser uma grande preocupação para a saúde pública no Brasil. A reumatologista Viviane Machicado Cavalcante, presidente da Sociedade Baiana de Reumatologia (Sobare), destacou que um dos desafios primordiais é o controle do vetor da doença. De fato, o combate aos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, responsáveis pela transmissão viral, permanece crucial para conter a propagação.
Durante uma conferência no Congresso Nacional de Reumatologia, em Salvador (BA), a especialista frisou as dificuldades inerentes ao controle da doença em uma zona tropical. Ela mencionou, em primeiro lugar, a complexidade de controlar o mosquito devido à precariedade do saneamento básico em muitas regiões. Além disso, a reumatologista pontuou a necessidade urgente de adequação do sistema de saúde para oferecer acompanhamento adequado aos pacientes, especialmente na rede pública, que frequentemente carece de ambulatórios especializados em diversas localidades brasileiras.
Surtos Regionais e Impacto Epidemiológico
Recentemente, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) manifestou preocupação com surtos localizados de chikungunya em diversos países das Américas. Segundo um alerta epidemiológico emitido pela Opas, os maiores surtos projetados para 2025 concentram-se na América do Sul, abrangendo Bolívia, Brasil, Paraguai e certas áreas do Caribe. Até 9 de agosto de 2025, quatorze nações da região reportaram um total de 212.029 casos suspeitos e 110 óbitos, com mais de 97% desses registros na América do Sul. Para ilustrar a gravidade da situação, a Opas alertou que a “presença simultânea desses e de outros arbovírus aumenta o risco de surtos, complicações graves e mortes, especialmente entre populações vulneráveis”.
No Brasil, especificamente, o Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde registrou 121.803 casos de chikungunya e 113 mortes confirmadas apenas neste ano de 2025, até 17 de setembro. Viviane Machicado Cavalcante explicou que a região Nordeste foi um grande epicentro inicial, onde os primeiros casos foram tratados com maior intensidade e a doença ainda impõe uma carga significativa. Posteriormente, o vírus se espalhou por todo o país, culminando em cerca de sete grandes ondas epidêmicas detectadas nos últimos dez anos. No ano anterior, por exemplo, os estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul registraram um número expressivo de casos.
A Vacina: Aprovação, Suspensão e Repercussões
O Instituto Butantan, em colaboração com a farmacêutica Valneva, desenvolveu uma vacina contra a chikungunya, composta por uma versão viva e atenuada do vírus. Este imunizante, apesar de promissor, pode ocasionalmente causar sintomas semelhantes aos da doença original. Em abril deste ano, a Anvisa concedeu aprovação para a aplicação da vacina em indivíduos acima de 18 anos, gerando expectativas para a prevenção da doença.
Contudo, em agosto de 2025, a situação tomou um rumo inesperado. A Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, que igualmente havia aprovado o imunizante, optou por suspender sua licença. Essa decisão drástica foi motivada por relatos de efeitos adversos graves em pessoas vacinadas, incluindo hospitalizações e, infelizmente, mortes. De acordo com Viviane Machicado Cavalcante, essa notícia, que é bastante recente, coloca a Anvisa em uma posição de potencialmente reavaliar sua própria decisão em relação à mesma vacina. Ela mencionou que foram evidenciados “alguns casos de efeitos adversos relacionados à vacina, inclusive de encefalite idiopática”. Embora a FDA tenha suspendido a licença, o posicionamento futuro da Anvisa sobre o assunto ainda não foi divulgado.
Compreendendo a Chikungunya
A chikungunya é uma doença viral transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue e do zika. Esta enfermidade é conhecida por causar dor crônica nas articulações, um sintoma que pode persistir por anos em casos graves. Os sinais mais comuns da doença incluem febre alta, dores articulares intensas, dor de cabeça, dor muscular, calafrios, dor atrás dos olhos e o surgimento de manchas vermelhas na pele.
Em suma, a principal medida preventiva contra a chikungunya é o combate ao mosquito transmissor. Isso envolve a eliminação de criadouros, como recipientes que acumulam água parada em vasos de plantas, pneus velhos, garrafas plásticas e piscinas sem uso. Afinal, é na água estagnada que o Aedes aegypti deposita seus ovos, perpetuando o ciclo de transmissão da doença.