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Chico Buarque: Cirurgia de sucesso trata hidrocefalia normobárica

Chico Buarque foi submetido a uma cirurgia bem-sucedida para tratar hidrocefalia normobárica. A intervenção, realizada nesta terça (3), corrigiu o acúmulo de líquido no cérebro do cantor, que já se recupera e deve ter alta em breve.
Hidrocefalia normobárica Chico Buarque
Foto: Arte InterFisio

O renomado cantor e compositor Chico Buarque passou por uma cirurgia neurológica bem-sucedida na terça-feira, 3 de julho, para tratar uma hidrocefalia normobárica, também conhecida como hidrocefalia de pressão normal.

Cirurgia de Chico Buarque: sucesso e recuperação

A intervenção médica, realizada com êxito, corrigiu o acúmulo de líquido cefalorraquidiano (líquor) no cérebro do artista. Apesar de não apresentar aumento da pressão intracraniana, esse acúmulo excessivo de líquor, fluido que envolve o sistema nervoso central, pode afetar a mobilidade, a cognição e o controle da bexiga. A assessoria de Chico Buarque informou que ele se recupera bem, “com seu habitual bom humor”, e a previsão de alta hospitalar é de 48 horas.

O procedimento consistiu em uma derivação ventrículo-peritoneal, técnica que envolve a implantação de uma válvula para drenar o excesso de líquido do cérebro para a cavidade abdominal. O diagnóstico precoce, realizado durante um exame de rotina, foi fundamental para o sucesso do tratamento.

Entendendo a Hidrocefalia Normobárica

Segundo o neurocirurgião Fernando Gomes, professor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a cirurgia, embora de complexidade intermediária, permite a recuperação das funções afetadas à medida que a drenagem do líquido se normaliza. Atualmente, são utilizadas válvulas com tecnologia avançada, inclusive nacional, permitindo ajustes na quantidade drenada mesmo após a implantação, se necessário. A eficácia do procedimento é evidente, contrastando com os graves riscos da ausência de tratamento.

Sem intervenção médica oportuna, as consequências podem ser devastadoras, alerta o Dr. Gomes. Ele explica que “a pessoa pode ficar totalmente incapacitada para caminhar, desenvolver um quadro demencial grave e apresentar incontinência urinária e fecal. Embora a hidrocefalia de pressão normal não seja diretamente fatal, a piora das condições de saúde pode levar a um encurtamento da expectativa de vida”. Além disso, o Dr. Gomes, coordenador do grupo de Hidrodinâmica Cerebral do Hospital das Clínicas, destaca a maior prevalência da doença em indivíduos acima de 60 anos, o que dificulta o diagnóstico, uma vez que os sintomas iniciais podem ser confundidos com o processo natural de envelhecimento. Ele estima que cerca de 480 mil brasileiros sofram com essa condição.

Diagnóstico e Sintomas: Um Desafio Clínico

A dificuldade de diagnóstico reside no fato de os sintomas iniciais muitas vezes serem confundidos com o envelhecimento natural, conforme observa o Dr. Gomes. Ele acrescenta que “muitas vezes, fazemos o diagnóstico e, retrospectivamente, o paciente já apresentava um quadro clínico. Inicialmente, a condição pode ser confundida com dificuldades para caminhar, incontinência urinária (que pode ser consequência de outros problemas, como cirurgia de próstata), ou mesmo associada a doenças como o Alzheimer, impactando a cognição, o que retarda o diagnóstico”.

Em consonância com essa observação, o neurologista Lucas Savelli, do Grupo Valsa Saúde e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, enfatiza a importância da avaliação médica diante de qualquer redução da capacidade cognitiva ou motora. Ele destaca um sintoma característico, a “marcha magnética”, descrita como dificuldade para levantar os pés do chão ao caminhar. Incontinência urinária e declínio cognitivo também são comuns, porém nem sempre esses sintomas se manifestam simultaneamente.

Para confirmar o diagnóstico, além da avaliação clínica dos sintomas, são utilizados exames de imagem, principalmente a ressonância magnética do cérebro, e o teste TAP (teste de pressão do líquido cefalorraquidiano), que avalia a melhora cognitiva após a retirada de uma amostra do líquido, indicando a presença de um acúmulo que causa o declínio cognitivo, explica o Dr. Savelli.

Causas e Prognóstico

Por fim, Dr. Gomes destaca que muitas vezes a hidrocefalia normobárica é idiopática, de origem desconhecida. Entretanto, existem casos secundários, em que a condição surge como consequência de outras enfermidades, como traumas cranianos com sangramento que afeta a drenagem do líquor, meningite (mesmo viral), ou como sequela de cirurgias neurológicas. Após tais eventos, a atenção aos sintomas de hidrocefalia se torna ainda mais crucial.

Em conclusão, embora o procedimento cirúrgico apresente um bom prognóstico e a recuperação das funções seja possível, a intervenção precoce é fundamental para o sucesso do tratamento. A demora no diagnóstico e no tratamento pode comprometer significativamente a qualidade de vida do paciente.