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CGU: Falhas de Enel e Aneel agravaram apagões em São Paulo

A CGU revelou nesta segunda (21) que falhas da Enel e da Aneel agravaram os apagões de 2023 e 2024 na Grande São Paulo.
Apagões São Paulo Enel Aneel
Foto: Paulo Pinto/ Agência Brasil

A Controladoria-Geral da União (CGU) revelou, em um relatório de auditoria divulgado nesta segunda-feira (21), que falhas operacionais da concessionária Enel e deficiências regulatórias da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) agravaram significativamente as interrupções no fornecimento de energia elétrica que assolaram a Grande São Paulo nos anos de 2023 e 2024. A investigação da CGU focou nas áreas de atuação da Enel na região metropolitana, apontando problemas cruciais na resposta a crises e na supervisão.

Detalhes das Irregularidades Apontadas pela CGU

O extenso relatório da CGU detalhou as deficiências encontradas, destacando, primeiramente, a atuação da Enel. A auditoria identificou que a concessionária falhou em acionar seu plano de contingência de forma adequada e oportuna durante os eventos críticos. Tal omissão, segundo a Controladoria, contribuiu diretamente para a prolongada duração dos apagões e para o caos enfrentado pelos consumidores paulistanos. A ineficiência na gestão de emergências por parte da Enel, portanto, tornou-se um dos pilares da crítica da CGU, indicando a necessidade urgente de aprimoramento em suas práticas operacionais.

Adicionalmente, a CGU direcionou sua atenção para a Agência Nacional de Energia Elétrica, a Aneel, responsável pela regulamentação e fiscalização do setor elétrico brasileiro. A auditoria constatou que a própria estrutura regulatória e fiscalizatória da Aneel possuía lacunas. Essas falhas dificultaram sobremaneira a fiscalização efetiva das ações e das contramedidas adotadas pelas concessionárias, como a Enel, durante situações de crise. Em suma, a ausência de um arcabouço regulatório mais robusto e específico comprometeu a capacidade da Aneel de assegurar a qualidade e a continuidade do serviço, especialmente em momentos de alta demanda ou eventos climáticos extremos.

Fragilidades na Regulamentação da Aneel

O relatório público da CGU evidenciou duas principais fragilidades na atuação da Aneel, que podem ter inadvertidamente permitido que a Enel reduzisse suas equipes de resposta a situações emergenciais, como tempestades severas e enchentes, fenômenos cada vez mais frequentes na capital paulista. Tais lacunas regulatórias são consideradas fatores contribuintes para a ineficácia na resposta a crises.

Fiscalização Deficiente em Cenários de Emergência

A primeira crítica da CGU à Aneel refere-se à falta de um procedimento de fiscalização específico para situações de emergência. A Controladoria recomendou enfaticamente que a agência estabeleça um protocolo claro, capaz de avaliar a aderência das ações das concessionárias aos seus planos de contingência. O objetivo principal dessa recomendação é fornecer clareza sobre os critérios de avaliação, ao mesmo tempo em que se evita questionamentos por parte das concessionárias. Dessa forma, a implementação de um método de fiscalização mais transparente e objetivo impediria que as empresas buscassem brechas para “escapar” de uma fiscalização mais rigorosa, garantindo a responsabilização e a melhoria contínua dos serviços.

Monitoramento Inadequado do Desempenho em Crises

A segunda fragilidade identificada pela CGU na regulamentação da Aneel reside na deficiência do sistema de avaliação e monitoramento do desempenho das concessionárias em situações de emergência. Este ponto é particularmente crítico diante do aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos. Em outras palavras, a Aneel não dispunha de ferramentas ou critérios objetivos para medir a eficácia das respostas das concessionárias a esses eventos. Consequentemente, essa limitação dificultava significativamente a imposição de cobranças e a aplicação de sanções, criando um cenário onde a falta de responsabilidade se tornava uma possibilidade. Assim, a ausência de parâmetros claros para medir o desempenho em cenários de crise impede a melhoria contínua e a prestação de um serviço adequado à população.

Recomendações e o Futuro do Fornecimento de Energia

A Controladoria-Geral da União enfatizou a urgência de mudanças profundas no setor. O relatório da CGU sublinha que “é necessário um aprimoramento para garantir a continuidade, eficiência, segurança e celeridade na prestação do serviço nessas circunstâncias”. Esta declaração encapsula a essência das recomendações, mirando em um sistema de energia mais resiliente e capaz de responder rapidamente aos desafios impostos por eventos extremos. A CGU busca, por meio de suas auditorias, não apenas identificar problemas, mas também catalisar as reformas necessárias para proteger os consumidores e assegurar a estabilidade do fornecimento elétrico, um serviço essencial para a vida moderna e para o desenvolvimento econômico.

Posicionamento das Agências e Concessionária

Até o momento da publicação desta reportagem, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a concessionária Enel ainda não se manifestaram em resposta aos questionamentos da Agência Brasil sobre o relatório da CGU. A ausência de um posicionamento oficial das partes envolvidas levanta questões sobre as próximas etapas para a implementação das recomendações e sobre as medidas que serão tomadas para evitar a reincidência dos problemas que afetaram milhares de paulistanos.