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Ceará atrai data centers com água de reúso e isenção fiscal federal

Ceará atrai data centers ao Porto do Pecém com oferta de água de reúso e tecnologias de baixo consumo, impulsionado também por regime federal de isenção fiscal para o setor.
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Foto: Thiago Gaspar/Gov. Ceará

O Ceará tem se consolidado como um polo de atração para grandes centros de dados, conhecidos como data centers, especialmente no Complexo do Porto do Pecém. A estratégia de desenvolvimento do estado combina a oferta de água de reúso para refrigeração de equipamentos e a implementação de tecnologias de baixo consumo, somadas a um regime federal de incentivos fiscais, que posicionam a região como um hub digital emergente.

A Estratégia Hídrica do Ceará para Data Centers

O governador do Ceará, Elmano de Freitas, anunciou um plano robusto para atender às necessidades hídricas das empresas de armazenamento e processamento de dados que se instalarem no estado. Primeiramente, está em curso a construção de uma estação de tratamento de água, que utilizará efluentes tratados como fonte, garantindo assim um suprimento sustentável para o novo polo industrial situado na região metropolitana de Fortaleza.

Essa iniciativa, entretanto, surge em um contexto de preocupação, visto que o Ceará possui um histórico de secas severas e os data centers são notoriamente grandes consumidores de água para o resfriamento de seus equipamentos. Em resposta a essa apreensão, o governador Freitas enfatizou que as empresas em negociação com o estado empregam inovações tecnológicas que reduzem significativamente o consumo de água.

Além disso, ele destacou que os data centers mais modernos adotam sistemas de refrigeração fechados, o que minimiza a necessidade de reabastecimento constante e, consequentemente, alivia a demanda sobre os recursos hídricos locais.

O Alto Consumo de Energia e o Cenário Brasileiro

Para além da água, os data centers demandam grandes volumes de energia elétrica. Nesse sentido, o Brasil apresenta uma vantagem competitiva considerável, pois sua matriz energética é predominantemente renovável, o que atrai investimentos do setor. A Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais (Brasscom) revelou que, em 2024, os 189 data centers operacionais no país consumiram 1,7% de toda a energia produzida, totalizando cerca de 11,3 terawatts-hora (TWh).

Este volume de consumo equivale à demanda energética combinada das cidades de Fortaleza e Salvador, com base no consumo médio por habitante calculado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Posteriormente, em maio, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) aprovou a implantação de dois projetos de data center no Complexo do Pecém, no Ceará. Contudo, a efetivação do segundo projeto está condicionada à expansão da rede de transmissão de energia do estado.

O ONS ressaltou que esses dois data centers, ao serem conectados à Rede Básica do Nordeste, representarão uma carga substancial para o sistema elétrico da região, exigindo um planejamento cuidadoso da infraestrutura existente.

Incentivos Fiscais e o Potencial Nacional

Na quarta-feira, dia 17, o presidente Lula sancionou uma medida provisória crucial que institui o Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center no Brasil, conhecido como Redata. Esta medida estratégica zera a cobrança do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), PIS (Programa de Integração Social) e Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) para a aquisição de equipamentos do setor, representando uma renúncia fiscal estimada em R$ 7,5 bilhões ao longo de três anos.

A iniciativa foi amplamente celebrada pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Geraldo Alckmin. Segundo ele, o Redata não apenas promove a soberania digital e incrementa a produtividade nacional, mas também fortalece o desenvolvimento da inteligência artificial no país. Adicionalmente, Alckmin avaliou que o Ceará possui todas as condições necessárias para sediar este novo polo tecnológico, citando a presença de cabos de comunicação, energia abundante e, notavelmente, a preponderância de energia renovável, características que se alinham perfeitamente com a vocação do estado.

Perspectivas Futuras e o Crescimento do Setor

Com a instalação de novos data centers, a Brasscom projeta que o consumo de energia elétrica pelo setor poderá mais que duplicar até 2029, atingindo aproximadamente 3,6% da energia total produzida no Brasil. Esta expansão sublinha a crescente importância da infraestrutura digital para a economia nacional e a necessidade contínua de investimentos em fontes de energia e redes de transmissão.