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Cartel de anestesistas no DF: operação revela esquema de monopólio na saúde

Médicos no Brasil

Foto: Marcelo Leal/Unsplash

Autoridades desmontam monopólio em hospitais do DF

A Polícia Civil do Distrito Federal, com apoio do Ministério Público, desarticulou um esquema que dominava o mercado de anestesiologia local. A Operação Toque de Midaz ocorreu na quinta-feira (10/4) e revelou a atuação de um grupo ligado à Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do DF (Coopanest-DF).

Os investigadores identificaram um sistema que impedia médicos independentes de atuarem em hospitais estratégicos. Além disso, o grupo coagiu colegas com ameaças, exclusões da cooperativa e barreiras comerciais. Por isso, a atuação no setor ficou concentrada nas mãos de poucos.

Enquanto isso, os pacientes enfrentavam menos opções e os custos se mantinham elevados. A investigação apontou que os líderes do esquema impunham tabelas de honorários e negociavam pacotes com operadoras de planos de saúde, eliminando qualquer concorrência real.

Alvos da operação incluem nomes influentes da medicina

Entre os investigados estão José Silvério Assunção, vice-presidente da Coopanest-DF, e Pablo Pedrosa Guttenberg, conselheiro fiscal da entidade. Os dois receberam mandados de busca e apreensão em seus imóveis de alto padrão. A polícia também apreendeu documentos e equipamentos eletrônicos.

José Silvério já havia sido condenado por erro médico em um caso ocorrido em 2006. Uma paciente ficou em estado vegetativo após uma cirurgia de apendicite. Depois disso, a vítima viveu por mais de uma década nessa condição. O caso se arrastou até 2018 e terminou com a condenação do médico em todas as instâncias, incluindo o Superior Tribunal de Justiça.

Esquema minava a ética e impedia novos profissionais

A cooperativa, segundo as autoridades, funcionava como instrumento de exclusão. O grupo selecionava quem poderia atuar nos principais hospitais e impunha regras para manter o controle do mercado. Com isso, afastava jovens profissionais e impedia renovação na área.

A operação recebeu o nome Toque de Midaz em alusão ao sedativo Midazolam e ao rei Midas, figura mitológica que transformava tudo em ouro. Portanto, o nome reforça a crítica à ganância e à busca por lucros abusivos.

Especialistas avaliam que a ação representa um marco. Afinal, o sistema de saúde pode se tornar mais justo, transparente e acessível com o fim de práticas monopolistas.

Setor da saúde pode iniciar nova fase de valorização ética

A Coopanest-DF negou todas as acusações e declarou, por nota, que atua com ética há mais de 40 anos. A cooperativa também afirmou que colaborará com as investigações. No entanto, a gravidade dos indícios exige apuração rigorosa e ampla responsabilização, se confirmadas as irregularidades.

As autoridades afirmaram que os investigados poderão responder por crimes como organização criminosa, cartel, constrangimento ilegal e lavagem de dinheiro. Por isso, o caso pode impactar o modelo de gestão hospitalar em todo o país.

Além disso, médicos e entidades já começaram a debater a necessidade de novas formas de organização profissional que valorizem a meritocracia e a livre concorrência.

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