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Câncer de mama: veja seus direitos previdenciários e financeiros

Mulheres com câncer de mama têm direitos previdenciários e financeiros, como auxílio-doença, aposentadoria e isenção de IR, para garantir proteção durante o tratamento.
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Foto: José Cruz/Agência Brasil

O câncer de mama, uma doença que anualmente afeta milhares de mulheres no Brasil, traz consigo não apenas desafios de saúde, mas também significativas implicações financeiras e sociais. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) projeta um alarmante total de 73.610 novos casos para 2025, solidificando sua posição como o tipo de câncer que mais vitimiza mulheres no país. Neste cenário complexo, as pacientes em tratamento possuem uma série de direitos previdenciários e financeiros que se mostram fundamentais para garantir amparo e dignidade durante o período desafiador da recuperação. Estes incluem auxílio por incapacidade temporária, aposentadoria por incapacidade permanente e, em alguns casos, o Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS), além de outras garantias essenciais.

Direitos Previdenciários Essenciais para Pacientes

A jornada de combate ao câncer de mama exige um suporte abrangente. Portanto, conhecer os direitos previdenciários é um passo crucial para as mulheres afetadas. Conforme ressalta Danielle Guimarães, vice-presidente da Comissão de Previdência Social Pública da OAB-RJ, a doença impacta profundamente a saúde física, emocional e, consequentemente, a capacidade de trabalho e a segurança financeira das pacientes. A legislação brasileira, ademais, oferece mecanismos de proteção social vitais para assegurar a dignidade durante o tratamento.

Auxílio por Incapacidade Temporária (Antigo Auxílio-Doença)

Este benefício é direcionado a seguradas que se encontram temporariamente incapacitadas para suas atividades profissionais por mais de quinze dias consecutivos devido ao câncer de mama ou aos efeitos de seu tratamento, como cirurgias, quimioterapia e radioterapia, que frequentemente geram consequências físicas e emocionais severas. Danielle Guimarães explica que, em casos de câncer, a lei dispensa a exigência de carência — ou seja, um número mínimo de contribuições ao INSS. Segundo o artigo 26, inciso II, combinado com o artigo 151 da Lei nº 8.213/91, que lista as doenças graves, basta que a segurada mantenha sua qualidade de segurada (seja empregada, contribuinte individual, doméstica, facultativa ou segurada especial) e comprove sua incapacidade para o trabalho através de laudos e relatórios médicos detalhados.

Aposentadoria por Incapacidade Permanente (Antiga Aposentadoria por Invalidez)

Em situações onde o câncer de mama é maligno e causa uma incapacidade total e definitiva para o trabalho, a segurada tem o direito de requerer a aposentadoria por incapacidade permanente, conforme estabelecido pelo artigo 42 da Lei nº 8.213/91. Similarmente ao auxílio por incapacidade temporária, este benefício também não exige carência mínima. Para sua concessão, é necessário comprovar a incapacidade total e a manutenção da qualidade de segurada. Entretanto, a aprovação depende de uma perícia médica do INSS, que avaliará se a paciente está, de fato, incapaz de exercer qualquer atividade profissional de forma permanente. A advogada previdenciária enfatiza que “estes benefícios garantem dignidade humana e segurança financeira às mulheres que estejam em tratamento enquanto durar a incapacidade ou não podem mais retornar ao mercado de trabalho devido à gravidade da doença.”

O Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS)

Para as mulheres que enfrentam o câncer de mama e não contribuem para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), existe a possibilidade de acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS), regulamentado pela Lei nº 8.742/93. De acordo com Danielle Guimarães, este benefício visa garantir um salário-mínimo mensal a idosos ou pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade social, mesmo sem contribuições previdenciárias. Portanto, para ter direito ao BPC, a paciente deve comprovar não apenas a deficiência causada pela doença, mas também sua hipossuficiência econômica.

Critérios para Acesso ao BPC/LOAS

A elegibilidade para o BPC/LOAS depende de alguns requisitos específicos. Primeiramente, é necessário um impedimento de longo prazo, o que significa que a doença deve causar um tratamento de duração mínima de dois anos ou um diagnóstico de doença grave ou deficiência definitiva. Em segundo lugar, a hipossuficiência econômica é crucial: a renda familiar per capita deve ser igual ou inferior a um quarto do salário-mínimo. Contudo, este critério pode ser flexibilizado em casos específicos, considerando gastos adicionais com a doença, como medicamentos e consultas médicas. Por último, o requerente não pode estar recebendo outro benefício previdenciário ou assistencial, garantindo que o BPC seja um recurso para aqueles que realmente não possuem outra fonte de amparo.

Como Acessar os Benefícios Previdenciários

O processo para solicitar os benefícios do INSS é centralizado e deve ser realizado através dos canais oficiais da instituição. As seguradas podem iniciar o requerimento pelo site ou aplicativo Meu INSS ou, alternativamente, pelo telefone 135. Para facilitar a análise, é imprescindível reunir uma série de documentos essenciais. Primeiramente, a identidade e o CPF da requerente são obrigatórios. Além disso, o comprovante de vínculo previdenciário, como Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), carnês de contribuição ou o Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS), deve ser apresentado. O aspecto mais crítico é a documentação médica: laudos, exames e relatórios detalhados que comprovem a doença e a incapacidade são fundamentais. No caso específico do auxílio por incapacidade temporária, um relatório médico indicando o tempo estimado de afastamento é igualmente necessário.

Caso o pedido seja negado pelo INSS, a segurada ainda possui o direito de interpor recursos, seja pela via administrativa, buscando uma reavaliação interna do processo, ou pela via judicial, onde um tribunal analisará a decisão. A advogada previdenciária reafirma que “os benefícios de incapacidade temporária e incapacidade permanente representam mais do que uma compensação financeira. São instrumentos de proteção social, dignidade e cuidado com a saúde, permitindo que a mulher se dedique ao tratamento sem preocupações econômicas.”

Outros Direitos Cruciais para Pacientes de Câncer de Mama

Além dos benefícios previdenciários, pacientes com câncer de mama possuem outros direitos que visam garantir um tratamento adequado e suporte financeiro adicional. Carolina Mynssen, presidente da Comissão de Direito Médico da OAB-RJ, enfatiza a importância de conhecer e reivindicar essas prerrogativas. Primeiramente, a advogada destaca que, após o diagnóstico, a paciente tem o direito de iniciar seu tratamento em até 60 dias. Se este prazo não for cumprido, uma ação judicial pode ser o caminho para assegurar o acesso. Ademais, caso não haja especialista ou tratamento disponível no município de residência, a paciente também tem o direito de buscar atendimento em outra localidade. O acesso a medicamentos específicos para doenças graves também é um direito fundamental.

Isenção de Imposto de Renda e Saque do FGTS

Pacientes diagnosticados com doenças graves, incluindo neoplasia maligna (câncer), têm direito a uma importante isenção tributária. Conforme explica Carolina Mynssen, eles podem obter a isenção do Imposto de Renda sobre salários ou aposentadorias. Esta medida se torna um alívio financeiro significativo, visto que “são muitos meses ou anos de tratamento, a pessoa, muitas vezes, não consegue retornar à atividade laboral. Assim, com a isenção do imposto de renda, ela passa a ter menos cortes no rendimento que obviamente vai ser impactado pela necessidade do tratamento”, conforme declara a advogada da área médica. Além da isenção, a legislação permite que portadores de diversas doenças graves, como tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, esclerose múltipla, hepatopatia grave, neoplasia maligna (câncer), cegueira, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante), síndrome da deficiência imunológica adquirida (AIDS) ou contaminação por radiação, saquem os valores depositados em suas contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Essa possibilidade proporciona um recurso financeiro extra crucial para cobrir despesas médicas e outras necessidades durante o período de enfermidade.