O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) lançou a terceira edição da Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas. Com o objetivo primordial de oferecer respostas e alívio a famílias em busca de entes queridos, a iniciativa disponibiliza 334 pontos de coleta espalhados por todo o território nacional, funcionando até o dia 15 de agosto.
A Angústia da Espera: O Testemunho de Vera Lúcia Ranu
Vera Lúcia Ranu, mãe de Fabiana Renata, desaparecida em São Paulo aos 13 anos em 1992, personifica a angústia de quem busca há mais de três décadas. Apesar do tempo, a ausência da filha ainda impõe uma dor diária. Nesta terça-feira, dia 5 de março, Vera esteve no Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), em Brasília, para o lançamento da campanha, representando o Movimento Nacional de Familiares de Pessoas Desaparecidas. A campanha se estenderá até 15 de agosto de 2025.
Anteriormente, Vera acompanhou a edição inaugural em 2021 e expressou grande esperança com a criação do cadastro nacional e do banco de DNA. Ela recordou que a nova fase, com o cadastro nacional e o banco de DNA, reacendeu uma vasta esperança, especialmente para aqueles que buscam há mais tempo, sinalizando a possibilidade de um desfecho. Vera descreve a experiência de ter um familiar desaparecido como um processo prolongado, árduo e profundamente doloroso, mas reafirma sua dedicação contínua à busca. “Prosseguimos em frente e depositamos nossa confiança em todas as possibilidades”, afirmou Vera, elogiando a iniciativa governamental.
O Propósito e Abrangência da Campanha Nacional
A campanha nacional visa incentivar a doação voluntária de material genético por parte de parentes de pessoas desaparecidas. Este material é então integrado aos bancos de dados de perfis genéticos em níveis estadual, distrital e nacional. Nesta edição, são 334 locais de coleta disponíveis nas 27 unidades federativas, contando com peritos devidamente capacitados para acolher os familiares que ainda não contribuíram com amostras biológicas.
Durante a cerimônia de lançamento da terceira edição, Mario Sarrubbo, secretário Nacional de Segurança Pública do MJSP, enfatizou que esta mobilização busca restaurar a dignidade e oferecer uma conclusão às famílias afetadas pelo desaparecimento. Ele ressaltou que a iniciativa “representa a dignidade das famílias, visto que, enquanto o processo de desaparecimento não encontra solução, a dor é amplificada; é um caso que permanece aberto, uma interrogação constante na vida das famílias, exigindo, consequentemente, uma resposta”.
Procedimento de Coleta de DNA e Suas Diretrizes
Em relação à coleta de DNA, o MJSP orienta que a doação de material biológico deve ser feita, preferencialmente, por familiares de primeiro grau da pessoa desaparecida, seguindo uma ordem específica: pais e mães, filhos e o genitor do filho do desaparecido, e por fim, irmãos. Adicionalmente, os familiares podem entregar itens de uso pessoal do desaparecido, como uma escova de dente, ou amostras biológicas antigas, como um dente de leite.
Isabel Seixas de Figueiredo, diretora do Sistema Único de Segurança Pública do Ministério da Justiça, explicou que o procedimento de coleta é contínuo e acessível à população durante todo o ano, ocorrendo nos institutos de Criminalística das polícias civis dos estados e do Distrito Federal para identificação de indivíduos desaparecidos. Ela detalhou que, nestes dez dias de campanha, há uma intensificação da divulgação deste serviço e da articulação interfederativa de laboratórios para ampliar a capacidade total de atendimento aos familiares de pessoas desaparecidas para coletar o DNA e processá-lo. “Não basta que o familiar doe seu padrão genético, se não houver o processamento e a inclusão desses dados no Banco Nacional de Perfis Genéticos [BNPG]”, acrescentou Isabel de Figueiredo.
Para realizar a coleta, os familiares devem apresentar um documento de identificação, uma cópia do boletim de ocorrência do desaparecimento (com número, estado de registro e delegacia), e assinar um termo de consentimento para a análise do material. O procedimento da coleta de DNA consiste em esfregar um cotonete na bochecha do familiar ou, alternativamente, retirar uma gota de sangue do dedo do voluntário. O ministério assegura que o DNA coletado será utilizado exclusivamente para a finalidade de localizar parentes desaparecidos.
O Caminho do DNA no Banco de Dados e os Desfechos Possíveis
As informações genéticas obtidas são inseridas no Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG) e comparadas com dados de restos mortais humanos não identificados. Além disso, os perfis são cruzados com material genético de indivíduos vivos cuja identidade é desconhecida, frequentemente encontrados em hospitais, lares de repouso, abrigos e outras instituições de saúde e assistência social. Caso a comparação dos perfis genéticos do familiar com um perfil existente no banco resulte positiva, a instituição responsável entrará em contato com o doador.
Se a pessoa estiver viva, a família será informada sobre sua localização atual. Contudo, se o resultado indicar a identificação de uma pessoa falecida, a família será acionada para dar prosseguimento aos procedimentos legais. Se a pessoa desaparecida não for localizada imediatamente, o banco de perfis genéticos continua a busca de forma automática a cada nova atualização da base de dados. “Imaginamos que a resposta será imediata, porém a segurança pública prossegue atuando”, esclareceu Isabel de Figueiredo, diretora do Ministério da Justiça e Segurança Pública, ao comentar os casos de confirmação de vínculo genético entre familiares e desaparecidos. Ela complementou que é fundamental que este DNA seja incluído no banco, pois alimentamos um sistema que continua em funcionamento e, por vezes, após quatro ou cinco anos, oferece uma resposta que talvez não desejássemos, mas que, no mínimo, nos provê um desfecho.
Resultados e Impacto das Edições Anteriores
Os desfechos das edições anteriores demonstram a relevância da campanha. Na segunda edição da Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas, realizada em 2024, foram coletadas 1.645 amostras de familiares. Graças à análise científica, foi possível identificar 35 pessoas desaparecidas. Desses casos, nove tiveram suas histórias compiladas no caderno digital “Transformando Números em Histórias”, também lançado nesta terça-feira.
Mario Sarrubbo, secretário do Ministério da Justiça, ponderou: “Pode parecer que 35 casos resolvidos são poucos. No entanto, são 35 famílias que finalmente colocam um ponto final em uma agonia, em um desaparecimento, em uma interrogação que as impedia de viver dignamente”. Da mesma forma, Isabel de Figueiredo reforçou a perspectiva humana: “Não estamos discutindo números, mas sim pessoas, casos. Falamos de dores genuínas. Este caderno apresenta parte dessas histórias para que sempre nos lembremos de que cada ocorrência é verídica, uma dor real”.
Um exemplo tocante apresentado na cerimônia de lançamento da publicação digital é o caso do filho mais velho da servidora aposentada Glaucia Lira, de Brasília, que desapareceu há 12 anos, em 2013. Em 2021, Glaucia e seu marido forneceram amostras de sangue na edição da campanha daquele ano. A confirmação do óbito do filho chegou quatro anos depois, em 2025. Embora não fosse o desfecho almejado pela mãe, a identificação dos restos mortais do filho trouxe fim à espera familiar. “Eu gostaria muito que tudo tivesse terminado de outra forma. Meu filho, infelizmente, não está mais aqui. No entanto, hoje sei que ele está em um local específico, sei o que lhe aconteceu. Tenho essas informações, e este trabalho é vital e merece reconhecimento”, ela declarou, elogiando os resultados da primeira edição da Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas.