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Caminhos da Reportagem expõe riscos de crimes virtuais para jovens

Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, exibe nesta segunda (11) um alerta sobre os perigos reais da internet para jovens, como crimes virtuais e aliciamento de crianças e adolescentes.
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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O programa “Caminhos da Reportagem”, da TV Brasil, exibe nesta segunda-feira (11) um episódio alarmante que mergulha nos perigos latentes da internet para crianças e adolescentes. A atração destaca, sobretudo, como crimes virtuais e o aliciamento se tornam ameaças concretas no ambiente online, demandando atenção urgente de pais e responsáveis.

Adolescência Conectada: Riscos e Vulnerabilidades Digitais

Com efeito, a edição do “Caminhos da Reportagem”, intitulada “Adolescência conectada ao perigo”, vai ao ar às 23h, focando na intrincada relação entre a participação de jovens em grupos online e o alarmante aumento de crimes envolvendo essa faixa etária. Em primeiro lugar, o programa desvenda como ambientes aparentemente inofensivos podem se transformar em palcos para atividades ilícitas, expondo a fragilidade de um universo digital sem a devida supervisão.

No Brasil, a vastidão da conexão é inegável: aproximadamente 95% das crianças e adolescentes com idades entre 9 e 17 anos, o que equivale a cerca de 25 milhões de jovens, estão imersos no ciberespaço. Contudo, apesar de plataformas populares como Discord (indicada para maiores de 13 anos), TikTok (14+), Instagram/Facebook (16+) e X/Twitter (18+) possuírem classificações etárias, o acesso a esses ambientes é frequentemente livre, carecendo de mecanismos eficazes de fiscalização. Dessa forma, a ausência de controle parental ou técnico robusto expõe os mais novos a riscos consideráveis.

Segundo Thiago Tavares, presidente da SaferNet Brasil, uma organização não governamental dedicada à defesa dos direitos humanos na internet, os problemas enfrentados pelos jovens online variam desde a participação em desafios virtuais perigosos até a adoção de comportamentos de alto risco. Tavares adverte que, por meio de um simples aparelho celular, jovens podem ser expostos a conteúdos de violência extrema, estabelecer conexões com indivíduos mal-intencionados e, em casos mais graves, serem recrutados para o envolvimento em crimes bárbaros. Em outras palavras, a tela do smartphone, que deveria ser um portal para o conhecimento e o entretenimento, pode se converter em uma porta de entrada para a criminalidade.

O Impulso do Pertencimento e os Efeitos Psicológicos

A psiquiatra Gianna Guiotti, entrevistada pelo “Caminhos da Reportagem”, esclarece que o desejo intrínseco de pertencimento social impulsiona os adolescentes a aceitarem situações prejudiciais. Portanto, a busca por aceitação em grupos online pode levá-los a se submeterem a atitudes que comprometem seu bem-estar e segurança. Além disso, a médica Evelyn Eisenstein, representante da Sociedade Brasileira de Pediatria, complementa essa visão ao classificar as redes sociais como uma espécie de “droga digital”. Para ela, a natureza viciante e a gratificação instantânea oferecidas por essas plataformas podem gerar uma dependência, com impactos significativos na saúde mental e comportamental dos jovens.

O programa ilustra essas preocupações com relatos reais e impactantes. Por exemplo, em 2022, um jovem de 18 anos, ex-aluno de uma instituição de ensino em Vitória, Espírito Santo, orquestrou um ataque meticuloso por meio de grupos online. A mãe do agressor relembrou as mudanças de comportamento do filho, que passou a vestir-se predominantemente de preto, isolar-se em seu quarto conectado à internet e exibir um aumento notável na irritabilidade. Similarmente, Timpa, um jovem negro de origem humilde, narrou sua experiência angustiante de cooptação por grupos extremistas. Ele foi atraído por discursos depreciativos contra mulheres e somente depois percebeu a presença de elementos racistas, neonazistas e ameaçadores. Ao tentar se desvencilhar, Timpa enfrentou ameaças severas e desenvolveu problemas de saúde, demonstrando a gravidade das consequências do aliciamento digital.

Alerta: Sinais e Monitoramento Contínuo

O procurador de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul, Fábio Costa Pereira, reforça a necessidade de os pais estarem vigilantes aos sinais de alerta. Ele observa que muitos responsáveis subestimam o tempo que seus filhos passam isolados, engajados apenas em jogos no quarto, sem estranhar jornadas de seis ou sete horas seguidas de reclusão. Essa desatenção pode ocultar o início de comportamentos de risco ou o envolvimento em atividades perigosas.

No âmbito governamental, o Ciberlab, um centro de segurança cibernética vinculado ao Ministério da Justiça, mantém uma vigilância ininterrupta, monitorando crimes virtuais 24 horas por dia. Alessandro Barreto, coordenador do laboratório, revelou a natureza perversa de alguns casos detectados, citando situações onde meninos forçaram meninas a se automutilarem com estiletes e a marcarem seus nomes em partes íntimas. Esses exemplos chocantes evidenciam a crueldade e a profundidade dos crimes orquestrados no ambiente digital.

Em São Paulo, a delegada Lisandrea Colabuono destaca um ponto crucial: o cyberbullying, frequentemente minimizado por muitos, atua como um gatilho significativo para atos de automutilação entre os jovens. Nesse sentido, o núcleo paulista de monitoramento conseguiu, nos últimos seis meses, rastrear 300 alvos e, como resultado, resgatou mais de 120 vítimas, demonstrando a eficácia do trabalho de inteligência. Contudo, Luiza Teixeira, especialista do Unicef, sublinha que, apesar da existência de ferramentas eficazes para detectar e remover conteúdos abusivos, há uma carência de legislação que torne seu uso obrigatório. Para ela, as grandes empresas de tecnologia, conhecidas como “big techs”, carregam uma responsabilidade inerente na implementação dessas medidas protetivas.

Capacitação, Diálogo e Prevenção

Após uma série de ataques a escolas registrados no Rio Grande do Sul, o Ministério Público da região intensificou seus esforços, passando a capacitar educadores para que possam identificar precocemente sinais de risco em alunos. Fábio Costa, promotor envolvido nessas iniciativas, exemplifica o sucesso de tal abordagem: “Houve um caso em que a diretora agiu após uma capacitação. O aluno, que sofria bullying e apresentava comportamento estranho, foi atendido a tempo”. Este relato sublinha a importância da formação e da intervenção precoce.

A pediatra Evelyn Eisenstein reforça que o isolamento repentino e um interesse exacerbado por temas violentos são indicadores que merecem atenção redobrada. Ela detalha outros sinais de alerta que devem ser observados por pais e educadores: mudanças drásticas de comportamento, transtornos do sono e da alimentação, um estilo de vida excessivamente sedentário, o surgimento de problemas de saúde mental, além de irritabilidade e agressividade incomuns. Todos esses fatores, quando combinados ou apresentados de forma persistente, acendem uma luz de alerta fundamental para a proteção e o bem-estar dos jovens na era digital.