Nesta segunda-feira, 24 de novembro, o conceituado programa “Caminhos da Reportagem”, veiculado pela TV Brasil às 23h, lança um episódio especial que destaca a crucial relevância da informação e de uma robusta rede de apoio no resgate de mulheres vítimas de violência doméstica. Este programa, intitulado “Rompendo o silêncio: a informação que salva mulheres”, não apenas compartilha narrativas de superação, mas também celebra as duas décadas de atuação do Ligue 180, um serviço essencial no combate a esse tipo de agressão.
Histórias de Superação e o Impacto da Informação
A atração televisiva mergulha em comoventes relatos de mulheres que, apesar de terem vivenciado um ciclo de violência doméstica, encontraram caminhos para se libertar. Este rompimento foi possível graças ao acesso à informação qualificada, ao acolhimento recebido, às oportunidades surgidas e, sobretudo, ao suporte de uma rede abrangente de serviços de atendimento. Entretanto, a realidade da violência é alarmante em todo o país. Uma pesquisa recente, “Visível e Invisível: Vitimização de Meninas e Mulheres”, conduzida em 2024 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revela que uma em cada três mulheres no Brasil enfrentou alguma forma de violência. Este cenário sublinha a importância de iniciativas como o Dia Internacional de Luta pelo Fim da Violência contra a Mulher, comemorado anualmente em 25 de novembro.
Entre as vozes que ecoam no programa está a de Vanusa Pereira, que narra um relacionamento de 17 anos. Após doze anos de convivência com seu ex-companheiro, as agressões escalaram, começando com violência verbal, evoluindo para empurrões e, subsequentemente, para ataques físicos com qualquer objeto à disposição do agressor. Vanusa descreve a vergonha e a dificuldade de buscar ajuda, relembrando um atendimento policial inicial que a deixou constrangida. Mesmo assim, ela persistiu em sua busca por liberdade e, eventualmente, conseguiu escapar da situação de risco, recebendo auxílio fundamental de sua sogra e de vizinhos, demonstrando a importância do apoio comunitário.
Similarmente, Carollyna Oliveira compartilha sua jornada para romper com a violência praticada por seu ex-parceiro. Em seu depoimento ao “Caminhos da Reportagem”, ela revela que as agressões ocorreram mesmo durante sua gravidez, aos sete meses de espera da primeira filha. Inicialmente motivadas por ciúmes, as agressões incluíam tapas, empurrões e puxões de cabelo. Apesar de perdoar repetidamente, as violências se tornaram cada vez mais severas, tornando sua decisão de buscar ajuda uma questão de sobrevivência.
Ligue 180: Duas Décadas de Atendimento e Esperança
Antes de procurar uma delegacia, Carollyna Oliveira buscou orientação no Ligue 180. Este serviço público, que comemora 20 anos de existência, foi concebido especificamente para combater a violência contra a mulher. Ele opera de forma gratuita, ininterruptamente, 24 horas por dia, sete dias por semana, oferecendo um canal vital de apoio.
Ademais, o Ligue 180 oferece uma gama abrangente de serviços essenciais. Ele proporciona informações detalhadas sobre leis e direitos das mulheres, além de direcionar para os serviços especializados da rede de atendimento. Outrossim, o canal permite o registro e encaminhamento de denúncias aos órgãos competentes, ao passo que também acolhe reclamações e elogios sobre os serviços prestados. Para ilustrar a magnitude de sua atuação, entre janeiro e outubro de 2025, o Ligue 180 contabilizou mais de 870 mil chamados, realizados por telefone, WhatsApp, e-mail e até videochamadas em Libras.
Conforme Ellen dos Santos Costa, coordenadora-geral do Ligue 180, a central de atendimento se estabelece como um canal especializado de escuta e acolhimento para mulheres em situação de violência. Ela enfatiza que o serviço está acessível a todas as mulheres, independentemente de sua idade ou condição. O principal objetivo é identificar os requisitos mínimos para compreender a existência da violência, fornecer informações cruciais e apontar os caminhos para que a vítima possa romper o ciclo de agressões e denunciar a violência que está vivenciando.
A Abrangente Rede de Proteção à Mulher
O Ligue 180 não atua isoladamente; pelo contrário, ele está intrinsecamente articulado a uma vasta rede de proteção à mulher em todo o Brasil. Essa rede é composta por instituições vitais, tais como as Casas da Mulher Brasileira, os Centros de Referência, as Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam), as Defensorias Públicas e os Núcleos Integrados de Atendimento às Mulheres, entre outros. Essa interconexão garante um suporte multifacetado e integrado.
A Casa da Mulher Brasileira, por exemplo, foi estabelecida em 2015 com o propósito de centralizar diversos serviços de proteção em um único local, facilitando o acesso das vítimas. Segundo a Ministra das Mulheres, Márcia Lopes, o país conta atualmente com 11 unidades em funcionamento, e a previsão é expandir esse número para 42 até o final de 2026. A ministra reitera a importância de empoderar as mulheres com conhecimento, argumentando que o aumento de informações, motivação, incentivo, e o apoio da mídia e dos governos, farão com que mais mulheres se sintam seguras para falar. Consequentemente, a meta é ver as denúncias crescerem, embora o desejo primordial seja erradicar qualquer ato de violência no país.
Um exemplo notável do impacto dessa rede é a história de Rutiely Santos, conhecida como Morena, empresária e cabeleireira do Distrito Federal. Ela buscou apoio em um desses espaços durante um período de profunda vulnerabilidade, após se separar do ex-marido e se encontrar sem moradia, sem renda e com três filhos pequenos. Rutiely relata que a certeza de aprender uma habilidade por meio de um curso oferecido foi sua principal esperança. Assim, essa oportunidade representou a chance de prover para sua família e de reconstruir sua vida. Posteriormente, com a nova profissão, Rutiely e sua irmã abriram um salão de beleza, e hoje ela descreve sua vida como significativamente melhor.
Em conclusão, Renata Gil, conselheira do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e supervisora da Política Judiciária Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres no Poder Judiciário, sintetiza a essência da questão ao afirmar que o conhecimento é fundamental. Ela observa que, embora muitos jovens conheçam a Lei Maria da Penha, frequentemente não conseguem correlacionar as violências que presenciam ou vivenciam em casa com as disposições legais. Portanto, faz-se imperativo unir a realidade dos fatos com a legislação, educando e capacitando as mulheres para que compreendam e utilizem plenamente os instrumentos legais e as redes de apoio disponíveis em sua defesa.



