A Caixa Econômica Federal e a Universidade de São Paulo (USP) lançaram, nesta segunda-feira (3), em São Paulo, uma plataforma inovadora. Esta ferramenta pioneira tem o objetivo de medir e, consequentemente, reduzir tanto o carbono incorporado quanto os custos associados a empreendimentos habitacionais financiados pela instituição financeira.
Esta colaboração, anunciada no início do mês, marca um passo significativo em direção à construção civil sustentável. A iniciativa visa otimizar os projetos estruturais das moradias, diminuindo o consumo de materiais. Assim, busca-se uma redução direta e expressiva nas emissões de dióxido de carbono (CO₂) e, ao mesmo tempo, nos custos de produção.
Detalhes da Inovação e Foco Inicial
O anúncio oficial ocorreu durante o evento “Habitação de baixo carbono: experiências globais e soluções locais”, realizado na capital paulista. A plataforma, denominada Benchmark Iterativo para Projetos de Baixo Carbono (BIPC), concentrará seus esforços iniciais nos projetos estruturais de empreendimentos imobiliários. Em particular, a ferramenta será aplicada a projetos vinculados ao programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.
De acordo com informações fornecidas pela Caixa, a padronização, que é uma das características inerentes ao programa Minha Casa, Minha Vida, oferece uma oportunidade substancial para alcançar a redução das emissões de CO₂. Além disso, a ferramenta promete elevar a qualidade das habitações e impulsionar a inovação tecnológica em todo o setor da construção civil, um aspecto crucial para o avanço da sustentabilidade no país.
O professor Vanderley Moacyr John, coordenador do projeto pela Escola Politécnica da USP, explicou a premissa central da BIPC. Segundo ele, a plataforma foi desenvolvida para orientar projetistas e construtoras na diminuição da quantidade de materiais empregados nas edificações. Ao fazer isso, duas vantagens simultâneas são alcançadas: primeiramente, a pegada de CO₂ é significativamente reduzida e, subsequentemente, os custos de construção tornam-se mais baixos. Este é, portanto, o principal benefício e “o segredo da ferramenta”.
Benefícios Econômicos e Ambientais
Adicionalmente, a BIPC oferece uma capacidade detalhada de análise. Ela permite avaliar o impacto ambiental dos empreendimentos considerando diversos fatores, como a tipologia construtiva, o número de pavimentos, os elementos estruturais (por exemplo, vigas e pilares) e os materiais utilizados. Ademais, a plataforma facilita a comparação entre diferentes projetos, confrontando-os com as melhores práticas de mercado, o que incentiva a busca contínua por eficiência e sustentabilidade.
John reforçou a escala do impacto da iniciativa, afirmando que “a Caixa é 80% do mercado imobiliário”. Consequentemente, a vasta maioria das novas habitações no país será influenciada por esta ferramenta. Ele destacou que estão desenvolvendo uma solução “única que vai baixar a pegada de CO₂, deixando o mundo mais seguro, a um custo negativo, baixando o custo”. Em outras palavras, a redução de carbono ocorrerá sem custos adicionais, e sim com economia.
Em um cenário comum, quase todas as estratégias voltadas para a redução de CO₂ implicam em um custo agregado. Entretanto, a BIPC se diferencia justamente por conseguir, simultaneamente, diminuir a chamada pegada de carbono e reduzir o custo final da habitação. Essa característica é de suma importância em um país onde uma parcela significativa da população ainda não possui acesso à sua própria casa, tornando a sustentabilidade mais acessível.
Impacto no Setor e Acesso Público
A iniciativa tem como propósito principal subsidiar as políticas habitacionais do banco com informações concretas e dados relacionados à sustentabilidade dos empreendimentos. Além disso, busca ativamente estimular o mercado da construção civil a adotar métodos e práticas mais sustentáveis em suas operações. Surpreendentemente, a plataforma também disponibiliza uma área aberta ao público em geral, permitindo que qualquer pessoa consulte a linha de base de carbono de diversos tipos de construção, promovendo transparência e conscientização.
O presidente da Caixa, Carlos Vieira, sublinhou a relevância da construção civil para a economia nacional. Ele destacou que o setor responde por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) e gera entre 20% e 25% de todos os empregos no país. Conforme Vieira, com a introdução desta ferramenta, a Caixa “irá democratizar o acesso à mensuração do impacto ambiental”, facilitando a compreensão e gestão da responsabilidade ecológica no setor.
Compromissos Ampliados de Sustentabilidade da Caixa
Paralelamente ao lançamento da BIPC, o banco anunciou novos e abrangentes compromissos voltados para o desenvolvimento sustentável. Entre as medidas, destaca-se a ampliação das linhas de crédito verde, priorizando investimentos que comprovadamente gerem impactos positivos tanto no meio ambiente quanto na sociedade. Em uma projeção ambiciosa, a Caixa prevê que sua carteira de crédito verde aumente em 50% até 2030, atingindo um saldo expressivo de R$ 1,25 trilhão.
Ademais, outro pilar desses compromissos é a promoção da igualdade de oportunidades e diversidade. A Caixa estabeleceu a meta de aumentar para, no mínimo, 36% a proporção de cargos de chefia de unidade (funções gerenciais) ocupados por mulheres até 2030. No que diz respeito às posições de alta gestão, como diretores e vice-presidentes, o estatuto atual da Caixa já prevê que pelo menos um terço dessas vagas seja preenchido por mulheres, demonstrando um compromisso pré-existente com a equidade de gênero.
Finalmente, a instituição financeira traçou uma meta ambiciosa para o clima: obter saldo de zero emissões líquidas de carbono até 2050. Este objetivo engloba tanto as emissões diretas da Caixa quanto as indiretas, considerando as emissões geradas em operações financiadas pelo banco. Nos próximos 25 anos, a Caixa também se compromete a implementar um modelo robusto baseado na economia circular, visando minimizar a destinação de resíduos a aterros sanitários e zerar completamente o envio de resíduos para incineração, consolidando sua postura em prol de um futuro mais verde.



