O Brasil marca um importante avanço na saúde pública com a retomada da fabricação nacional de insulina, um acontecimento que não ocorria há mais de duas décadas. A entrega do primeiro lote ao Ministério da Saúde, realizada nesta sexta-feira (11) em Nova Lima, Minas Gerais, assegura maior autonomia ao Sistema Único de Saúde (SUS) e um suprimento mais estável para os pacientes brasileiros. Essa iniciativa representa um marco significativo para a soberania do país na produção de medicamentos essenciais, reforçando a capacidade interna de atendimento às demandas de saúde da população.
O Retorno da Produção Nacional
Nesta sexta-feira (11), o Ministério da Saúde formalizou o recebimento do lote inaugural de insulinas, fruto de uma colaboração estratégica inserida no programa Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDP). Este programa, por sua vez, é parte integrante da Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde. O país, assim, readquire a capacidade de fabricar o medicamento integralmente em território nacional, impulsionado por uma transferência tecnológica da renomada farmacêutica indiana Wockhardt. Este acordo fundamental envolveu também a Fundação Ezequiel Dias (Funed), um laboratório público de destaque, e a empresa brasileira Biomm, consolidando uma parceria vital.
Ademais, o ministro Alexandre Padilha esteve presente na fábrica da Biomm, localizada em Nova Lima (MG), para o evento de entrega. Ele supervisionou a chegada de um lote substancial, totalizando 207.385 unidades do medicamento. Detalhadamente, este carregamento compreendia 67.317 frascos de insulina regular e 140.068 frascos de insulina NPH, evidenciando o volume inicial robusto destinado ao abastecimento.
Soberania e Impacto Social
Durante o evento, o ministro Padilha enfatizou o significado histórico da retomada produtiva. Ele salientou que, “depois de mais de duas décadas sem produzir insulina humana, o Brasil retoma essa fabricação para ser entregue ao Sistema Único de Saúde e contribuir com a saúde da população”. Além disso, o ministro traçou um paralelo com o bloco econômico BRICS, destacando que essa colaboração internacional, envolvendo a Índia – país parceiro na transferência tecnológica –, exemplifica a concretização da integração global. Ele ressaltou ainda o impacto direto na vida dos brasileiros, por conseguinte, “gerando emprego, renda e tecnologia aqui em Minas Gerais”.
A pasta da Saúde projeta que, após a completa transferência tecnológica, o Brasil terá a capacidade de suprir 50% da demanda nacional por insulinas NPH e regular no âmbito do SUS. Este percentual representa um avanço considerável em direção à autossuficiência. Por exemplo, Padilha reforçou a segurança que essa iniciativa proporciona aos pacientes. Ele afirmou que “uma iniciativa como essa traz segurança aos pacientes de que, independentemente de qualquer crise — como a que vivemos durante a pandemia —, o país tem soberania na produção desse medicamento tão importante”. Concluiu, ainda, que aproximadamente 10% da população brasileira convive com diabetes, e uma parcela significativa desses indivíduos necessita de insulina. Portanto, a produção nacional “garante tranquilidade, segurança e estabilidade tanto para o SUS quanto para os cidadãos que dependem do medicamento”.
Investimento e Futuro da Autonomia
A concretização dessa iniciativa envolveu um investimento de R$ 142 milhões, direcionados à aquisição da tecnologia de produção. Estima-se que cerca de 350 mil pessoas que vivem com diabetes serão diretamente beneficiadas por este programa. Além disso, os contratos estabelecidos preveem a entrega de 8,01 milhões de unidades de insulina, que incluem tanto frascos quanto canetas, para a rede pública nos anos de 2025 e 2026. Esta provisão futura reforça o compromisso de longo prazo com o abastecimento do SUS.
Posteriormente à aquisição inicial da tecnologia, conforme detalhado pelo Ministério da Saúde, o processo de transferência tecnológica será intensificado, seguindo as diretrizes das PDPs. O objetivo final é que a produção do medicamento seja inteiramente brasileira. Dessa forma, a Funed e a Biomm estarão plenamente capacitadas para fabricar a insulina no país e abastecer o SUS de forma completamente autônoma, consolidando a independência produtiva nacional.
As Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) operam sob um modelo em que instituições públicas e empresas privadas compartilham responsabilidades. Esse arranjo visa à produção nacional do insumo farmacêutico ativo (IFA) e do produto final objeto da PDP, utilizando um processo de transferência de tecnologia reversa. A efetivação da transferência ocorre em etapas meticulosas, abrangendo a realização de embalagens, um rigoroso controle de qualidade dos insumos, e a produção do produto acabado. Mais adiante, inclui-se a fabricação do Insumo Farmacêutico Ativo no Brasil, o que, consequentemente, permite a produção local do medicamento a ser fornecido ao SUS.
A Assistência do SUS no Tratamento do Diabetes
O Sistema Único de Saúde (SUS) desempenha um papel crucial ao oferecer assistência integral às pessoas com diabetes, desde o diagnóstico inicial até o tratamento mais adequado para cada quadro clínico. A porta de entrada para esse cuidado essencial é a Atenção Primária à Saúde, que assegura um acompanhamento contínuo por meio de equipes multiprofissionais altamente capacitadas. Atualmente, o SUS disponibiliza uma gama variada de opções de tratamento. Por exemplo, são oferecidos quatro tipos de insulinas: as insulinas humanas NPH e regular, e as insulinas análogas de ação rápida e prolongada. Além dessas, o sistema também fornece medicamentos orais e injetáveis específicos para o tratamento do diabetes mellitus, garantindo uma abordagem completa e personalizada para os pacientes.