O presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs uma forma inovadora de reparar a dívida histórica do Brasil com a África: a transferência de tecnologia agrícola brasileira. Em um encontro de grande importância realizado em Brasília, o mandatário defendeu uma cooperação estratégica para combater a fome e a pobreza no continente africano, reconhecendo o passado de exploração e a necessidade de reparação.
Uma Dívida Histórica, Uma Solução Inovadora
Durante a abertura do 2º Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural, realizado entre os dias 19 e 22 de novembro, Lula enfatizou a necessidade de solidariedade e transferência de conhecimento como forma de compensação pelos séculos de exploração sofridos pelo povo africano. Segundo o presidente, a experiência brasileira no setor agropecuário, especialmente no combate à fome, é um ativo valioso que pode ser compartilhado para impulsionar o desenvolvimento agrícola na África.
Em suas palavras, Lula reconheceu a impossibilidade de quantificar ou compensar financeiramente a dívida histórica: “Nós devemos 350 anos em que este país explorou uma grande parte do povo africano. E eu tenho consciência que o Brasil não pode pagar isso em dinheiro e também porque isso não pode ser mensurado em dinheiro. O Brasil pode pagar em solidariedade, em transferência de tecnologia, para que vocês possam produzir parte daquilo que nós produzimos”. Essa declaração demonstra uma mudança de paradigma, propondo uma reparação baseada não em recursos financeiros, mas em conhecimento e desenvolvimento sustentável.
Cooperação para Segurança Alimentar e Desenvolvimento
Além da transferência de tecnologia, o evento em Brasília teve como objetivo principal fortalecer as relações entre o Brasil e os países africanos, fomentando a cooperação em prol do desenvolvimento sustentável. O encontro, que contou com a presença de mais de 40 delegações africanas, representantes de organismos internacionais e instituições de pesquisa, buscou identificar oportunidades de investimento no setor agropecuário e discutir políticas públicas eficazes para combater a fome e a pobreza. A iniciativa visa construir um futuro onde a segurança alimentar seja uma realidade para todos.
Em seguida, Lula abordou a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, aprovada durante a presidência brasileira no G20 em 2024. Ele enfatizou que a fome não é um problema natural, mas sim resultado da irresponsabilidade governamental: “A fome não é por conta da natureza ou por conta de qualquer outro evento. Muitas vezes a fome é causada pela irresponsabilidade de quem governa os países, que não coloca a fome como prioridade para ser resolvida no seu país”, declarou o presidente, criticando a ineficácia de ações governamentais em diversos países. Lula também defendeu a necessidade de transformar declarações de intenções em ações concretas, alertando para a diferença entre “altos discursos e baixa execução de programas”.
Tecnologia e Desenvolvimento Sustentável como Foco da Parceria
A aliança, segundo o presidente, visa não apenas garantir a produção de alimentos, mas também sensibilizar o resto do mundo sobre a importância da erradicação da fome. Lula destacou seu interesse no continente africano e a importância das cooperações promovidas durante seus mandatos, demonstrando continuidade em sua política externa. A programação do evento incluiu visitas técnicas a diferentes regiões do Brasil, como Brasília e Petrolina (Vale do São Francisco), para mostrar exemplos concretos de tecnologias e práticas agrícolas sustentáveis.
Portanto, as visitas técnicas tiveram como foco demonstrar a diversidade das soluções brasileiras para diferentes desafios agrícolas. Em Brasília, os temas incluíram agricultura familiar, sistemas de integração, saúde do solo, acervo genético de hortaliças, bioinsumos e reuso de esgoto. Já em Petrolina, o destaque foi para tecnologias de convivência com a seca, criação de rebanhos resistentes, agricultura irrigada e fruticultura tropicalizada. Esse intercâmbio de experiências pretende capacitar os países africanos a implementar soluções eficazes e sustentáveis.
Em conclusão, a proposta brasileira de compensar a dívida histórica com a África por meio da transferência de tecnologia agrícola representa uma abordagem inovadora e promissora para a cooperação internacional. O evento em Brasília marcou um passo importante nesse sentido, reunindo representantes de diversos países e instituições para discutir e implementar soluções concretas para combater a fome e a pobreza no continente africano, utilizando a experiência brasileira como base para o desenvolvimento sustentável.