Pela primeira vez em uma década, o Brasil registra uma notável melhoria em seu desempenho no Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC-BR) de 2025. O país alcançou a média de 49,9 pontos, um avanço significativo em comparação aos 46,7 pontos registrados no ano anterior. Esta elevação, divulgada em Brasília nesta quarta-feira (15), sinaliza um ponto de virada na trajetória rumo à sustentabilidade urbana, apesar de a classificação geral ainda ser considerada baixa.
Avanço Nacional e Desafios Persistentes
A melhoria observada na média nacional do IDSC-BR 2025 representa um marco histórico. Conforme destacou Jorge Abrahão, diretor-presidente do Instituto Cidades Sustentáveis, essa é a primeira inflexão positiva em dez anos na média das cidades, onde, aliás, vive 90% da população brasileira. Isso não significa que cidades individualmente não tenham progredido antes, mas a média nacional, de fato, mostra um novo cenário. O índice avalia os progressos e os obstáculos enfrentados pelos municípios brasileiros na busca pela erradicação da pobreza e pela proteção ambiental, fundamentando-se em 100 indicadores nacionais alinhados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Ademais, os municípios são categorizados em cinco níveis distintos: muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto. Em 2025, o Brasil testemunhou um movimento positivo nas classificações das cidades. Por exemplo, 47% dos municípios alcançaram o nível “médio”, um aumento em relação aos anos anteriores. Em contrapartida, 45,7% das cidades permaneceram na classificação “baixa”. Vale ressaltar que, em 2024, 51,3% das 5.570 cidades analisadas apresentavam um nível “baixo” de desenvolvimento sustentável. Embora nenhuma cidade brasileira tenha atingido o nível “muito alto” este ano, 3% receberam a classificação “alta” e apenas 3,8% foram classificadas como “muito baixa”.
Desigualdades Regionais e Plataforma de Dados
Apesar dos avanços, os dados do IDSC-BR ainda revelam profundas desigualdades territoriais em todo o país. Jorge Abrahão enfatiza que as regiões Norte e Nordeste, em particular, enfrentam desafios consideráveis para atingir os objetivos de sustentabilidade. Para facilitar o acesso a essas informações cruciais, os índices estão disponíveis em uma plataforma online interativa. Esta ferramenta permite a consulta por cidade, oferece um ranking detalhado e um mapa interativo com diversos filtros, como ODS, estado ou bioma. Assim, a plataforma visa estimular o intercâmbio de experiências entre os municípios e fomentar um olhar mais aprofundado sobre a situação de cada localidade, conforme Abrahão aponta.
Em um panorama mais específico, entre as grandes metrópoles, São José dos Campos (SP), com 58,3 pontos, São Paulo, com 57,9 pontos, e Brasília, com 57,6 pontos, registraram os maiores níveis de desenvolvimento sustentável. Por outro lado, Belém, com 40,1 pontos, Maceió, com 41,7 pontos, e São Luís, com 42,2 pontos, apresentaram os piores índices entre as capitais analisadas.
A Relevância da Agenda 2030
Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) integram a Agenda 2030, um plano de ação global estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) com metas voltadas para a erradicação da pobreza, a proteção do meio ambiente e a garantia da segurança climática. No lançamento do IDSC-BR de 2025, durante o Fórum de Desenvolvimento Sustentável das Cidades, em Brasília, Lavito Bacarissa, secretário-executivo da Comissão Nacional para os ODS, recordou que a Agenda 2030 é fruto de um consenso alcançado por 193 países em 2015. Nesse contexto, a Agenda 2030 é reiteradamente apresentada a gestores municipais e líderes territoriais como um instrumento vital para o desenvolvimento local, orientando-se por uma lógica clara de objetivos, metas e indicadores.
Declaração de Prefeitos e a COP30
Na sequência da apresentação do IDSC-BR, a Frente Nacional de Prefeitos e Prefeitas (FNP) lançou um importante apelo. Os prefeitos convocam o país a enfrentar a emergência climática, a crescente perda de biodiversidade e as persistentes desigualdades sociais. A Declaração das Cidades pelo Clima na COP30, que é a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, detalha dez ações essenciais para os territórios brasileiros. Essas ações incluem, por exemplo, cuidados com o ar, a água e o solo, prevenção e gestão de riscos climáticos, aumento de áreas verdes e promoção de compras públicas sustentáveis. Além disso, o documento aborda o tratamento de resíduos sólidos, a educação ambiental, a agricultura local e a justiça climática. A adesão voluntária dos municípios a esta declaração estará aberta até a realização da COP30, em Belém, no mês de novembro.