Na próxima semana, a cúpula do G20 discutirá uma das propostas mais ambiciosas do Brasil em sua presidência no grupo: a taxação de super-ricos para financiar iniciativas contra a desigualdade e as mudanças climáticas. A proposta, apresentada em fevereiro deste ano pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sugere um imposto mínimo de 2% sobre a renda dos bilionários do mundo.
Proposta do Brasil e Apoio Internacional
A proposta brasileira prevê arrecadar entre US$ 200 bilhões e US$ 250 bilhões anualmente com a taxação de cerca de 3 mil indivíduos no mundo, incluindo aproximadamente 100 bilionários da América Latina. Gabriel Zucman, economista francês e coautor da proposta, explica que essa medida, se aprovada, impactaria uma pequena parcela dos mais ricos globalmente, mas traria recursos significativos para projetos de desenvolvimento sustentável e de combate à desigualdade.
No Brasil, o potencial de arrecadação seria de cerca de R$ 41,9 bilhões por ano. Segundo o Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da USP (Made/USP), esse montante poderia triplicar o orçamento destinado ao Ministério da Ciência e Tecnologia e multiplicar em dez vezes o do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas.
A iniciativa conta com o apoio de países como França, Espanha, Colômbia, Bélgica e África do Sul, que assumirá a presidência do G20 após o Brasil. A União Africana, recentemente integrada ao grupo, também manifestou apoio. Contudo, alguns países desenvolvidos, como Estados Unidos e Alemanha, ainda demonstram resistência à ideia.
Desafios e Perspectivas
Apesar do forte apoio de vários países, a proposta de taxação enfrenta desafios. Em fevereiro, após a primeira apresentação oficial, o encontro terminou sem um comunicado conjunto, indicando que ainda há divergências entre os membros. Nos últimos meses, Haddad tem realizado esforços diplomáticos para consolidar o apoio ao projeto. Em abril, o ministro esteve nos Estados Unidos para discutir o tema e, em maio, reiterou o compromisso brasileiro durante o simpósio de tributação internacional do G20 em Brasília.
Para Haddad, a proposta é um passo essencial na agenda global para reduzir a desigualdade. Segundo ele, “a taxação de grandes fortunas é uma maneira justa de redistribuir a riqueza e financiar a aliança global contra a fome e a pobreza”.
G20 Social e Participação da Sociedade Civil
A proposta de taxação de super-ricos também será debatida no G20 Social, evento organizado pelo Brasil que reúne representantes de entidades, organizações e acadêmicos. O G20 Social, que ocorre entre 14 e 16 de novembro no Rio de Janeiro, antecede a reunião dos líderes do G20 e terá como foco o combate à fome, à pobreza, à desigualdade, e a promoção do desenvolvimento sustentável.
Segundo Márcio Macêdo, ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, o relatório final do G20 Social incluirá sugestões da sociedade civil e deverá enfatizar a importância da tributação dos super-ricos. Macêdo destacou que o G20 Social traz a perspectiva popular para a mesa de discussão, visando uma governança global mais inclusiva e comprometida com a justiça social.
Perspectivas para o Futuro
A reunião dos chefes de Estado e de Governo do G20 ocorrerá nos dias 18 e 19 de novembro, onde se espera que os líderes discutam detalhadamente a proposta brasileira. Caso aprovada, a medida representará um marco histórico na luta contra a desigualdade econômica e o financiamento de projetos climáticos.
Com uma visão ousada e focada na justiça social, o Brasil espera que o G20 adote a taxação dos super-ricos como um passo importante para enfrentar os desafios globais. A cúpula é uma oportunidade para estabelecer um compromisso conjunto de tornar a economia global mais justa e sustentável para todos.