O Brasil reafirmou nesta quinta-feira (14), por meio do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, em São Paulo, sua posição firme na defesa da soberania nacional diante das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos. O governo brasileiro, ao mesmo tempo em que busca o diálogo para reduzir essas taxas, implementa um pacote de apoio de R$ 30 bilhões para os setores afetados e fomenta a competitividade interna por meio de investimentos em infraestrutura, como o recente leilão de rodovias.
Defesa da Soberania em Meio a Barreiras Comerciais
Em sua declaração, o ministro Carlos Fávaro enfatizou que o diálogo com os Estados Unidos permanece aberto, por determinação expressa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entretanto, ele foi categórico ao afirmar que o Brasil não abrirá mão de sua soberania, nem negociará temas que não são atribuição do Poder Executivo, como, por exemplo, interferências no Poder Judiciário. De fato, as tarifas impostas pela administração do ex-presidente Donald Trump integram um conjunto de ações que parecem visar a interferência em processos judiciais no Brasil, especialmente aqueles relacionados ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados, em conexão com a tentativa de golpe de Estado e os ataques de 8 de janeiro de 2023. Além disso, a iniciativa norte-americana incluiu uma investigação comercial contra o Brasil e sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, relator de processos sensíveis.
Plano de Apoio Econômico e Medidas Complementares
Em resposta direta a este cenário, o governo federal anunciou na quarta-feira (13) um abrangente pacote de medidas destinado a amparar o setor produtivo nacional impactado pelas tarifas. Este plano de apoio, que prevê a liberação de R$ 30 bilhões em crédito, será viabilizado por meio da Medida Provisória (MP) batizada de Brasil Soberano. O ministro Fávaro classificou essas iniciativas como as “primeiras medidas” do governo para mitigar os efeitos do tarifário de Trump. Consequentemente, ele antecipou a necessidade de ações complementares, considerando as particularidades de cada setor. Ele citou, por exemplo, o caso do suco de laranja, cuja tarifa foi retirada, mas cujos desdobramentos ainda podem demandar ajustes. Por isso, a escuta ativa dos setores produtivos é fundamental para que o governo possa continuar formulando medidas de auxílio precisas. Adicionalmente, Fávaro destacou que indústrias com alta dependência do mercado norte-americano (onde 80% a 90% da produção é exportada para os EUA, em contraste com 20% ou 30% em outros casos) receberão tratamento específico, embora os detalhes dessas soluções ainda estejam sendo estudados.
Expansão de Mercados Globais e Estratégias de Consumo Interno
Paralelamente à defesa contra as barreiras tarifárias, o governo brasileiro intensifica sua busca por novos mercados para os produtos exportados. O ministro Fávaro comemorou a recente marca de 400 novos mercados abertos para o agronegócio nacional, um recorde histórico. De acordo com ele, a orientação do presidente Lula é acelerar ainda mais essa estratégia de diversificação de destinos. Além disso, para fortalecer o apoio aos exportadores mais afetados, o governo planeja implementar um programa de compras públicas, que se somará às linhas de crédito e isenções tributárias já existentes. Um exemplo prático dessa iniciativa seria a inclusão de produtos como manga e pescado na merenda escolar e nas aquisições destinadas às Forças Armadas, o que visa suprir momentaneamente a demanda que seria originalmente direcionada aos Estados Unidos.
Infraestrutura Rodoviária: Um Pilar para a Competitividade
Ainda na quinta-feira, Carlos Fávaro, acompanhado do ministro dos Transportes, Renan Filho, marcou presença na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, para o leilão da concessão da Rota do Agro. O certame foi vencido pelo Consórcio Rota Agro Brasil, que ofereceu um deságio de 19,70% sobre o pedágio, o maior percentual. Fávaro interpretou o sucesso do leilão como um sinal positivo aos investidores, indicando que o crescimento do agronegócio garantirá maior volume de carga para as rodovias e, consequentemente, a viabilidade dos projetos. Em contrapartida, uma infraestrutura de transporte mais eficiente é crucial para assegurar a competitividade do Brasil no cenário global. Por sua vez, Renan Filho classificou o evento como o leilão de rodovias mais concorrido dos últimos anos, atribuindo o êxito à solidez do projeto, à segurança jurídica e à previsibilidade. Ele também ressaltou um marco histórico: pela primeira vez, o setor rodoviário superou o de saneamento em interesse das empresas privadas, e os investimentos privados em rodovias ultrapassaram os públicos. Desde 2023, foram contratados R$ 176 bilhões em investimentos privados, contrastando com os R$ 129 bilhões executados entre 1998 e 2022.
Reforçando a Posição Brasileira Frente à “Guerra Tarifária”
O ministro Renan Filho adiantou que, até o final deste ano, estão previstos mais cinco ou seis leilões de rodovias. Somando-se aos oito já realizados pelo governo atual, o total pode chegar a 14 ou 15 concessões, configurando o maior volume de leilões da história do Brasil. Para ele, uma infraestrutura rodoviária aprimorada eleva a “competitividade internacional” do país e o prepara melhor para enfrentar o que chamou de “guerra tarifária”. O ministro enfatizou que as tarifas, ao criarem barreiras artificiais, distorcem a competitividade. Em seu ponto de vista, o ideal seria o avanço em direção ao livre comércio, sem a construção de “muros” tarifários, pois é nesse ambiente que o Brasil poderia demonstrar plenamente sua eficiência. No entanto, ele concluiu que essas barreiras são, muitas vezes, erguidas por outras nações como forma de proteção contra a própria eficiência brasileira.