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Brasil avança no ranking de liberdade de imprensa e mostra sinais de recuperação democrática

Após anos de retração, país sobe 47 posições no ranking da RSF; melhora reflete cenário menos hostil ao jornalismo e maior abertura institucional.
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Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

Avanço expressivo na liberdade de imprensa

O Brasil alcançou um marco importante em 2025 ao subir 47 posições no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa, divulgado pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF). O país saltou da posição 110ª para a 63ª em apenas dois anos. Segundo os especialistas, esse avanço se deve principalmente a um ambiente menos hostil ao jornalismo no período pós-governo Bolsonaro.

A pesquisa da RSF considera a liberdade de imprensa como a capacidade real de jornalistas produzirem e divulgarem informações de interesse público, sem interferência política ou econômica, e sem ameaças à integridade física ou mental.

Embora o Brasil tenha avançado, o relatório traz um alerta global: seis em cada dez países regrediram em 2025. Pela primeira vez, a situação do jornalismo é considerada “ruim” em metade das nações do mundo.

Indicadores e desafios no cenário brasileiro

O ranking da RSF avalia cinco indicadores: político, social, econômico, legal e de segurança. No caso do Brasil, as melhorias foram percebidas especialmente no ambiente político e na segurança dos profissionais da imprensa.

No entanto, o cenário econômico ainda representa um desafio significativo. A concentração da propriedade dos meios de comunicação, o corte de subsídios públicos e a pressão de anunciantes afetam diretamente a independência editorial. Além disso, veículos pequenos e independentes ainda lutam para sobreviver financeiramente.

“Sem independência econômica, não há imprensa livre. A fragilidade financeira torna veículos vulneráveis a pressões políticas ou comerciais”, alerta Anne Bocandé, diretora editorial da RSF.

Situação global inspira atenção

Apesar da melhora brasileira, o panorama global é preocupante. Países como Argentina e Peru perderam posições importantes no ranking. A Argentina, sob o governo Javier Milei, caiu 47 posições e ocupa agora a 87ª colocação. A pesquisa aponta desmonte da mídia pública e perseguição a jornalistas.

O Peru, por sua vez, ocupa a 130ª posição após forte queda. As causas incluem assédio judicial, desinformação e pressão sobre a mídia independente. Nos Estados Unidos, que ocupam a 57ª colocação, o segundo mandato de Donald Trump trouxe uma nova onda de polarização e hostilidade contra a imprensa.

Além disso, a RSF destacou a situação crítica no Oriente Médio, especialmente em Gaza, onde jornalistas enfrentam riscos extremos. Apenas o Catar (79º) apresenta uma situação “menos grave” na região.

O papel das big techs e da economia digital

Outro ponto abordado pelo relatório é o impacto das big techs na sustentabilidade da imprensa. A RSF critica o domínio de empresas como Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft na distribuição de notícias. Essa concentração reduz as receitas publicitárias dos veículos jornalísticos tradicionais.

Em 2024, o gasto com anúncios em redes sociais chegou a US$ 247,3 bilhões, 14% a mais que no ano anterior. No entanto, esse crescimento não se reverteu em investimentos no jornalismo de qualidade. Ao contrário, plataformas digitais seguem espalhando conteúdo manipulado, o que aprofunda crises de desinformação e reduz a confiança pública na imprensa.

Perspectiva otimista e necessidade de vigilância

O avanço do Brasil no ranking de liberdade de imprensa é motivo de celebração, mas também de responsabilidade. Ainda há muito a ser feito para garantir um ecossistema midiático plural, acessível e economicamente viável.

A recuperação da liberdade de imprensa exige continuidade de políticas públicas de proteção aos jornalistas, apoio financeiro transparente e incentivo à diversidade de vozes. O momento é promissor, mas, para que o progresso seja sustentável, será preciso combinar abertura institucional com responsabilidade social.