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Brasil acelera testes de vacina contra gripe aviária e aposta em tecnologia nacional

Avanço em pesquisas com RNA mensageiro e imunizante do Butantan pode evitar uma nova pandemia, segundo especialistas em saúde pública.
Vacina contra a gripe aviária
Foto: Tony Winston/Agência Saúde-DF

Nova ameaça à saúde global

Cientistas e autoridades de saúde pública estão em alerta com a crescente disseminação do vírus da gripe aviária. O temor de que ele se adapte à transmissão entre humanos faz com que pesquisadores acelerem o desenvolvimento de vacinas mais modernas.

A presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, destacou que o mundo está diante de um risco real de pandemia, mas também com possibilidades concretas de prevenção. Segundo ela, o Brasil precisa investir na autonomia tecnológica e ampliar a produção de vacinas próprias.

Vacinas inovadoras e eficazes

Entre os projetos mais promissores está a chamada “vacina universal contra a gripe”. Desenvolvida com tecnologia de RNA mensageiro, ela inclui o sequenciamento genético de todos os subtipos conhecidos de influenza A e B.

Os testes pré-clínicos mostraram resultados animadores. Em animais como furões e ratos, os anticorpos produzidos reagiram a 20 cepas diferentes do vírus, com proteção garantida por ao menos quatro meses.

Além disso, 20 países já estocam vacinas específicas contra o vírus da gripe aviária. No Brasil, o Instituto Butantan lidera a produção de um imunizante nacional, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Após bons resultados em testes com animais, os pesquisadores agora buscam voluntários para a fase de testes em humanos, aguardando autorização da Anvisa para seguir com o estudo clínico.

Mutação viral preocupa cientistas

Mônica Levi reforça a urgência em agir porque o vírus H5N1, causador da gripe aviária, apresenta alta capacidade de adaptação. Já foram identificadas mutações que o tornaram capaz de infectar mais de 350 espécies, incluindo mamíferos como gatos.

“Se o vírus adquirir mais uma mutação que facilite a transmissão entre humanos, ele poderá causar uma nova pandemia. E as evidências mostram que falta muito pouco para isso acontecer”, alertou a médica.

Casos sob monitoramento constante

A Organização Mundial da Saúde (OMS) contabiliza 969 casos de gripe aviária em humanos desde 2003, com 457 mortes. Embora a letalidade histórica seja alta, os números mais recentes indicam queda: dos 72 casos registrados em 2025 nas Américas, apenas dois resultaram em óbitos.

O Brasil confirmou seu primeiro caso em 2023 e, até agora, registrou 166 focos da doença, principalmente em aves silvestres. O Ministério da Agricultura prorrogou o estado de emergência zoossanitária por mais 180 dias para conter os riscos.