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Bonecas Quilombolas: Arte e História em Exposição no Rio

Bonecas Quilombolas Rio de Janeiro

Foto: Oscar Liberal

No Museu de Folclore Edison Carneiro, no Rio de Janeiro, uma exposição inédita celebra a arte e a história do Quilombo São José da Serra. Até 26 de junho, artesãs da comunidade apresentam suas bonecas de palha de milho e bucha, em uma mostra que destaca a cultura afro-brasileira e o empoderamento feminino.

Bonecas do Quilombo São José da Serra em Destaque no Rio

Pela primeira vez fora de sua comunidade, localizada no distrito de Santa Isabel, município de Valença (RJ), as artesãs do Quilombo São José da Serra, o mais antigo do estado do Rio de Janeiro, expõem suas criações. A mostra, intitulada “Bonecas que Contam Histórias – Saberes das Mulheres do Quilombo São José da Serra”, faz parte do Programa Sala do Artista Popular (SAP), do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan), órgão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). As peças, que vêm chamando atenção de compradores e admiradores da arte popular, estão disponíveis para apreciação no Museu de Folclore Edison Carneiro, no Catete, zona sul do Rio de Janeiro.

Para Rafael Barros Gomes, diretor do CNFCP, a exposição representa um passo significativo na divulgação do trabalho das artesãs. Em entrevista à Agência Brasil, ele destacou a importância do SAP como plataforma de projeção da arte popular brasileira, tanto em âmbito nacional quanto internacional, ao longo de suas mais de quatro décadas de existência. Além disso, ele salientou a relevância da exposição em maio, mês que celebra a ancestralidade negra e a luta pela liberdade dos povos escravizados, considerando que o dia 13 de maio marca uma data festiva tradicional para a comunidade.

Um Patrimônio Cultural e sua Tradição Artesanal

Situado no Vale do Café, região que, a partir do século XIX, tornou-se o maior polo produtor de café do Brasil, o Quilombo São José da Serra testemunha um passado rico em história e cultura. Cidades como Vassouras e Paty do Alferes, também localizadas nessa região, integraram um eixo de riqueza e poder econômico. A inauguração da exposição, realizada na quinta-feira, dia 22, contou com a apresentação de uma roda de jongo, dança e ritmo tradicional da cultura afro-brasileira e um atrativo turístico regional.

Luciene Estevão do Nascimento, diretora da Associação da Comunidade Negra Remanescente do Quilombo da Fazenda São José da Serra, expressou sua emoção com a estreia da mostra, afirmando, em entrevista à Agência Brasil, que a exposição representava a realização de um sonho compartilhado com as artesãs, suas famílias e toda a comunidade. Ela celebrou a oportunidade de apresentar o trabalho das mulheres quilombolas a um público mais amplo e vislumbrou a possibilidade de expandir as vendas através da internet, após uma recuperação nas vendas em 2023, após uma queda provocada pela pandemia.

O Legado de Tia Tetê e a Produção das Bonecas

O artesanato, segundo Luciene, é uma tradição marcante no Quilombo, com trabalhos em madeira, linha, tecido, pintura e cestaria comercializados para os turistas que visitam a região. Atualmente, 15 mulheres produzem as bonecas, embora a técnica não tenha origem ancestral na comunidade. A ideia de usar palha de milho e bucha surgiu a partir da sugestão de um técnico da Emater, que identificou um potencial de aproveitamento desse material abundante no Quilombo.

Terezinha do Nascimento Fernandes, conhecida carinhosamente como Tia Tetê, foi a primeira a aprender a técnica e a repassar seus conhecimentos para outras mulheres. Falecida em 2023 aos 79 anos, Tia Tetê, além de artesã, foi uma importante liderança na luta pelo reconhecimento territorial e contra o racismo, herdando de sua mãe, Zeferina do Nascimento, a responsabilidade de um centro de umbanda na comunidade. Luciene destacou o legado de Tia Tetê, que, através de um curso do Programa de artesanato Artesol, fundado pela antropóloga Ruth Cardoso, formou outras artesãs, transmitindo não só a técnica, mas também seu amor e carinho pelo trabalho. A influência de Tia Tetê na formação do grupo de artesãs foi fundamental para seu sucesso.

A Titularidade da Terra e o Sucesso da Exposição

A emoção de Luciene se intensifica ao falar sobre a titularidade da terra conquistada pelo Quilombo em 2015, após uma longa luta iniciada na década de 1990. Ela descreveu o dia da conquista como um momento histórico, marcado por uma ventania inesperada, que simbolizou para a comunidade a realização de um sonho ancestral. A liderança de Toninho Canecão também foi destacada por Luciene como essencial para esse processo.

A Sala do Artista Popular e o Futuro das Artesãs

A Sala do Artista Popular, que este ano celebra 43 anos de atividade e já trabalhou com mais de 4 mil artesãos, desempenha um papel fundamental na preservação e difusão do artesanato tradicional brasileiro. Rafael Barros Gomes, enfatizou o papel do programa na pesquisa, registro e documentação da produção de artistas e comunidades, além da geração de renda para os artesãos. Ele destacou a importância do apoio a comunidades quilombolas, povos indígenas e comunidades tradicionais, principalmente as mulheres, que são protagonistas e principais provedoras de suas famílias. As peças da exposição estão à venda e, após o término da mostra, as artesãs poderão comercializar suas produções diretamente no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular.

Informações Práticas

A exposição está aberta de terça a sexta, das 10h às 18h, e aos sábados, domingos e feriados, das 11h às 17h. A iniciativa é uma parceria entre a Associação Cultural de Amigos do Museu do Folclore Edison Carneiro (Acamufec) e o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Iphan.

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