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BC busca alternativa à poupança em financiamento imobiliário

Para driblar a saída de recursos da poupança, o Banco Central busca alternativas para financiar imóveis. Galípolo afirma que um novo modelo, em discussão com bancos, será apresentado em breve.
Financiamento imobiliário pós-poupança
Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O Banco Central (BC) está buscando alternativas para financiar o mercado imobiliário brasileiro, diante da crescente saída de recursos da caderneta de poupança. Segundo o presidente da instituição, Gabriel Galípolo, um novo modelo de financiamento está em desenvolvimento e deve ser apresentado em breve, em parceria com instituições financeiras.

Mudanças Estruturais no Mercado Financeiro

A declaração de Galípolo foi feita durante um evento de inovação financeira promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em São Paulo, na terça-feira (10). Ele explicou que a equipe do BC está trabalhando em conjunto com os bancos, principalmente com a Caixa Econômica Federal, na elaboração de um “processo ponte”. Esse processo utilizará a captação de recursos no mercado para compensar a redução do fluxo de dinheiro proveniente da poupança, buscando normalizar as fontes de financiamento para o setor imobiliário.

Embora maio tenha registrado um saldo positivo de R$ 336,87 milhões em depósitos na poupança, o cenário geral é de preocupação. De janeiro a maio de 2025, os brasileiros retiraram R$ 51,77 bilhões a mais do que depositaram na caderneta. Para Galípolo, esse movimento reflete uma mudança comportamental definitiva dos investidores. Ele acredita que a diminuição dos recursos na poupança é uma tendência estrutural, motivada pela maior educação financeira da população e pela disponibilidade de investimentos com maior rendimento e baixo risco, como os títulos do Tesouro Direto. Afinal, a poupança tem se mostrado menos competitiva frente a essas novas alternativas.

O Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) em xeque

Atualmente, o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) é o principal financiador de imóveis no Brasil, recebendo 65% dos recursos depositados na poupança. Este sistema concede financiamentos para imóveis com valor até R$ 1,5 milhão, a uma taxa de juros de até 12% ao ano. Imóveis com valores superiores são financiados pelo Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), utilizando recursos de mercado, tais como Letras de Crédito Imobiliário (LCI).

A busca por alternativas de financiamento se intensifica em um momento crucial para o mercado financeiro. O governo estuda a possibilidade de taxar em 5% o Imposto de Renda das LCIs, títulos atualmente isentos de tributos. Essa medida, caso implementada, poderá impactar diretamente o SFI e a capacidade de financiamento de imóveis de maior valor.

Proposta do BC e seus Desafios

Em resumo, a iniciativa do BC de desenvolver um novo modelo de financiamento para imóveis surge como uma resposta à redução consistente dos recursos provenientes da poupança. Essa mudança no comportamento dos investidores, segundo o presidente do BC, é uma tendência estrutural, e não um fenômeno temporário. A solução proposta, ainda em discussão com os bancos, visa criar um sistema alternativo de captação de recursos no mercado, permitindo que o financiamento imobiliário se mantenha ativo e robusto, mesmo com a menor contribuição da poupança. Contudo, a proposta do governo de taxar as LCIs apresenta um desafio adicional para a estratégia do BC, exigindo uma solução criativa e eficaz para garantir a estabilidade e o desenvolvimento do mercado imobiliário brasileiro. O sucesso desta nova alternativa dependerá de sua capacidade de atrair investimentos suficientes e se mostrar competitiva diante das demais opções disponíveis para os investidores.