O ativista nigeriano Olumide Idowu, uma figura proeminente nas discussões climáticas globais, intensificou seu apelo por financiamento justo e ações ambientais concretas para o continente africano durante a COP30, sediada em Belém. Em entrevista à Agência Brasil nesta quinta-feira, 20 de novembro de 2025, Idowu criticou veementemente as promessas não cumpridas e os mecanismos de apropriação de terras, defendendo uma postura mais assertiva e eficaz por parte das nações desenvolvidas. O experiente ativista, que já marcou presença em nove edições das Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, exige um protagonismo real para a África nas negociações.
O Grito de Alerta de Olumide Idowu na COP30
Olumide Idowu, diretor executivo e fundador da International Climate and Development Initiative Africa (ICCDI), tem dedicado sua carreira a amplificar as demandas climáticas da Nigéria e de toda a África. Em Belém, no espaço oficial da COP30, ele observou o momento decisivo das negociações, salientando a urgência de transitar da retórica para a prática. Afinal, para Idowu, a conversa em torno das mudanças climáticas se estende por mais de três décadas, mas as transformações necessárias ainda se mostram insuficientes.
Em outras palavras, o ativista enfatiza a busca da África por um financiamento climático que seja verdadeiramente compatível com suas necessidades específicas, afastando-se de qualquer modelo que promova a apropriação territorial. Ele destacou, com firmeza: “Já passou da hora de pararmos de falar e começarmos a implementar. Estamos falando há mais de 30 anos, e não parece que a mudança está acontecendo.”
ICCDI África: Conectando Comunidades e Governos
A ICCDI África, sob a liderança de Idowu, trabalha para cultivar uma geração consciente das questões climáticas em todo o continente, com foco especial nas comunidades locais. A organização atua em frentes diversas, abrangendo temas como energia renovável, gestão de água e saneamento, agricultura sustentável e preservação da biodiversidade. Ademais, o principal objetivo é encurtar a distância entre a população e os órgãos governamentais, facilitando a identificação de problemas e a formulação de soluções que partam das próprias comunidades.
No contexto da COP30, Idowu expressou seu interesse em monitorar o progresso dos acordos relativos ao Sul Global, que considera essenciais para resolver os desafios enfrentados. Além disso, ele acompanha de perto as discussões sobre financiamento climático e perdas e danos, pautas cruciais para a Nigéria. Similarmente, o ativista busca garantir que a voz do Grupo Africano de Negociadores represente todos os países do continente, assegurando a inclusão de suas diversas perspectivas.
A ICCDI já desenvolveu projetos em múltiplos países africanos, mesmo sem registro formal em todos eles. A comunicação da organização, por conseguinte, se apoia em redes sociais, e-mail e eventos presenciais, como reuniões da União Africana e convites da ONU. A plataforma Climate Wednesday, por exemplo, reúne jovens, acadêmicos e especialistas para debater desafios e soluções, conectando essas discussões às comunidades de base.
A Posição Africana: De Vítima a Potência de Recursos
Questionado sobre a representação africana na COP30, Idowu afirmou que o continente tem apresentado vozes notáveis e uma postura clara. Ele percebe um movimento para redefinir a narrativa ambiental, longe da passividade. Com efeito, o ativista evoca um provérbio africano: “Quando dois elefantes brigam, é a grama que sofre.” Esta analogia ilustra a situação da África, que, segundo ele, tem sofrido por décadas.
Portanto, é imperativo que a África reivindique o potencial de seus vastos recursos e defenda os direitos de seu povo. Isso significa, em particular, evitar que suas terras sejam cooptadas por créditos de carbono, compensações ou mercados que resultem na apropriação indevida. As terras africanas, ele argumenta, devem ser produtivas, gerar renda e sustentar as comunidades locais. As discussões incluem também o carbono azul e o futuro das áreas de manguezal, com Idowu expressando a sensação de que, embora “estejamos todos no mesmo barco”, os barcos africanos parecem ser diferentes.
A África, continente rico em recursos naturais, busca soluções autênticas. Não deseja créditos de carbono que impliquem a tomada de terras, mas sim um financiamento climático robusto que apoie suas estratégias de adaptação e mitigação. O Grupo Africano de Negociadores, desse modo, luta incansavelmente para que o Norte Global e os maiores poluidores assumam suas responsabilidades e efetuem os pagamentos devidos.
Nesse sentido, o objetivo é reposicionar a África, transformando a percepção de um local de descarte para um centro de recursos e oportunidades de investimento. A participação africana na COP30 não se limita à sua população, mas sim à sua busca por soluções para os desafios que enfrenta, passo a passo.
Consciência Negra e o Apelo por Ação Global
Em 20 de novembro, data que celebra o Dia da Consciência Negra no Brasil, Olumide Idowu estabeleceu um paralelo poderoso entre as lutas africanas e afro-brasileiras. Ele proclamou que “preto é ouro”, valorizando a força e a riqueza inerente ao continente e sua diáspora. Embora reconheça as barreiras, como o custo elevado da participação em eventos como a COP, ele vê a África como um continente de oportunidades audazes e terras férteis para investimentos. Ele aproveitou a ocasião para celebrar a todos os homens, mulheres e crianças negras no Brasil e na África.
Em conclusão, Idowu reforçou a necessidade premente de substituir a ambição pela ação concreta. As lideranças globais, de acordo com ele, precisam reconsiderar suas abordagens e investir em mais capacidade digital e formação. Dessa forma, será possível compreender a real dimensão das mudanças climáticas e suas consequências futuras. A meta é avançar rapidamente da intenção para a implementação, alcançando resultados significativos para a África e para o mundo inteiro.



