Quem trabalha no Hospital Regional do Gama (HRG) provavelmente conhece ou, pelo menos, ouviu falar de Ivone Alves. Há 13 anos, ela atua como auxiliar de enfermagem da Secretaria de Saúde. Enquanto anda pelos corredores do HRG, é cumprimentada por médicos, enfermeiros, seguranças e auxiliares de limpeza. “Eu já era conhecida, mesmo antes da covid”, comenta a servidora.
O diagnóstico veio logo após o carnaval do ano passado. Na Quarta-Feira de Cinzas, Ivone chegou a trabalhar, mas fez exames e recebeu atestado médico de sete dias. Dois dias depois, retornou como paciente, com saturação em 75%, e foi internada. No sábado, estava intubada. No dia seguinte, foi transferida para o Hospital de Campanha da Polícia Militar.
“O médico do hospital de campanha me disse que, todos os dias, chegava pensando ‘hoje a Ivone vai’”
– Ivone Alves, auxiliar de enfermagem da Secretaria de Saúde
“Eu lembro de bater o ponto e, depois, de acordar na UTI”, relata a servidora. Sem comorbidades e já com a primeira dose da vacina, a auxiliar de enfermagem precisou de suporte ventilatório para respirar. “O médico do hospital de campanha me disse que, todos os dias, chegava pensando ‘hoje a Ivone vai’”, relata.
Enquanto isso, no HRG, havia uma grande comoção. Os colegas criaram grupos em aplicativos para compartilhar informações sobre o estado de saúde de Ivone e pedir orações. Guilherme Avelar, médico responsável pela intubação dela no HRG, recorda que tinha medo de olhar o prontuário da colega. “Eu tinha um lembrete no celular com o nome das pessoas que precisava conferir as fichas. O caso dela era difícil, pensei que ela não voltaria”, relembra.
Após quase um mês no hospital de campanha, Ivone retornou para a enfermaria do HRG. Então, se formou uma grande rede de solidariedade dos companheiros de trabalho. “As meninas fizeram escala para ficar comigo, me dar banho, fazer curativos.” Por causa do longo tempo de internação, Ivone ficou com feridas na pele. Além disso, os rins pararam e foi preciso fazer diálise.
Recuperação
A servidora ficou acamada por meses. Teve alta ainda sem caminhar. “Eu não conseguia sequer me sentar. No dia que consegui ficar de pé, todos se emocionaram”, conta Ivone. Aos poucos, ela foi dando os primeiros passos pela casa, pela rua, até conseguir dar a volta no quarteirão onde mora. O irmão, que é fisioterapeuta, ajudou com a recuperação, mas a longa reabilitação foi feita no HRG. “Tenho muita gratidão por todos que cruzaram o meu caminho e me ajudaram de alguma forma”, destaca Ivone.
“Eu tenho que enfrentar a vida. Se eu passei por tudo isso e voltei, eu vou viver”
– Ivone Alves
“Todos achavam que eu não sobreviveria ou ficaria com sequelas graves”, relembra. Contrariando as expectativas, Ivone teve apenas queda de cabelo e, atualmente, tem algumas falhas de memória e cansa com frequência. “Mas isso não é nada comparado à minha vida”, comemora.
Depois de recuperar os rins, tratar e fechar as feridas e voltar a caminhar, o próximo desafio: retornar ao trabalho. Durante toda a recuperação, Ivone teve acompanhamento psicológico e, nesse momento, foi a hora de a psicóloga intervir. “Ela me fez perceber que nada me impedia de voltar a trabalhar, só o meu medo”, conta. Por isso, Ivone traçou uma estratégia. Iria ao serviço por dois dias, para ver como se sentia. Se não ficasse bem, pediria afastamento.
Ivone voltou a bater o ponto no HRG em 2 de fevereiro. Chorando, foi recepcionada por todos que, de perto ou de longe, acompanharam toda a sua batalha. “Foi uma festa. Fui muito bem acolhida e isso foi muito importante para mim”, afirma. Assim, passaram-se os dois dias, a primeira semana, 15 dias. “Decidi que não ia ter afastamento. Só vou parar de trabalhar quando me aposentar mesmo”, comenta, rindo. “Eu tenho que enfrentar a vida. Se eu passei por tudo isso e voltei, eu vou viver”, fala, com emoção.
*Com informações da Secretaria de Saúde do DF
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