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Angra 3 parada custa R$ 1 bilhão anual e pode superar R$ 43 bilhões

Em audiência na Alerj, foi debatida a retomada de Angra 3, usina nuclear em Angra dos Reis parada há 10 anos que custa R$ 1 bilhão/ano e pode gerar R$ 43 bi em prejuízos.
Custo Angra 3 parada
Foto: Mauricio de Almeida/ TV Brasil

A retomada das obras da Usina Nuclear Angra 3, um empreendimento de grande porte localizado em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, gerou intensos debates em uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) nesta terça-feira, dia 21. Atualmente, a usina se encontra paralisada há uma década, e essa inatividade acarreta um gasto anual de aproximadamente R$ 1 bilhão aos cofres públicos. Este cenário preocupante levanta a possibilidade de que o custo total da usina exceda os R$ 43 bilhões, um valor substancialmente maior que a previsão original.

O Dilema Financeiro de Angra 3

O foco central da audiência na Alerj esteve na análise dos profundos impactos financeiros decorrentes da paralisação de Angra 3. A construção, que teve início na década de 1980, está estagnada desde 2015, com cerca de 60% das obras já concluídas. Não há, contudo, uma definição clara sobre o futuro da sua conclusão. O Tribunal de Contas da União (TCU) já alertou sobre as consequências dessa indefinição: caso não haja um encaminhamento efetivo para a conclusão da usina, o custo total do projeto pode ultrapassar em até R$ 43 bilhões o valor inicialmente orçado em R$ 23 bilhões. Portanto, a cada ano de paralisação, o prejuízo se acumula, transformando a usina em um dos maiores gargalos orçamentários do setor energético brasileiro.

Perspectivas e Potenciais Benefícios da Retomada

Durante o debate, diversos parlamentares destacaram a relevância da retomada das obras. O presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado Jorge Felippe Neto (Avante), ressaltou a importância estratégica da usina para o estado. Ele afirmou que Angra 3 é crucial para a busca de autonomia energética do Rio de Janeiro, visto que sua capacidade de 1.405 megawatts poderia, hipoteticamente, abastecer mais de 4,5 milhões de residências. Entretanto, o deputado criticou o governo federal por, segundo ele, adiar a finalização de um projeto que já consumiu R$ 21 bilhões e ainda exige investimentos adicionais significativos para ser concluído.

Além disso, o deputado Marcelo Dino (União) enfatizou o considerável potencial de geração de empregos que a reativação do canteiro de obras representaria. Ele salientou que, embora Angra 3 atualmente empregue cerca de 400 pessoas na manutenção da estrutura, uma retomada plena das atividades poderia expandir esse número para impressionantes 3.500 funcionários. Assim, a conclusão da usina não apenas impulsionaria a economia local de Angra dos Reis, mas também geraria um avanço econômico para todo o Estado do Rio de Janeiro e para o Brasil como um todo.

Análise Financeira e Energética da Conclusão

Representantes de entidades especializadas também participaram da discussão, corroborando a necessidade de uma decisão. Flávia Azevedo, da Associação de Trabalhadores da Nuclebrás Equipamentos Pesados, criticou veementemente o desperdício financeiro associado à paralisação. Conforme a especialista, a usina já possui 60% das obras civis finalizadas e equipamentos essenciais já foram adquiridos, porém o Brasil continua gastando cerca de R$ 1 bilhão anualmente apenas para manter o projeto parado. Ela argumentou que esse montante poderia, por exemplo, ser investido diretamente na geração de empregos, renda e desenvolvimento sustentável para a região da Costa Verde, transformando um passivo em um ativo.

Por outro lado, Gabriela Borsato, diretora da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), reforçou a urgência da conclusão das obras, com o intuito de que a usina possa, finalmente, tornar-se operacional e começar a gerar recursos em vez de consumi-los. A diretora explicou que a energia nuclear é uma solução viável para a matriz energética brasileira. Uma vez concluída, a usina teria seu investimento inicial amortizado em aproximadamente 20 anos. Posteriormente, a tarifa de energia gerada cairia em até 75%, beneficiando os consumidores. Adicionalmente, Gabriela Borsato destacou o elevado fator de capacidade da energia nuclear, que alcança cerca de 90%, enquanto as fontes renováveis tipicamente operam em torno de 40%. Dessa forma, a energia nuclear se configura como uma fonte de energia firme e de base, disponível 24 horas por dia, proporcionando maior estabilidade ao sistema elétrico nacional.

O Caminho Adiante para Angra 3

Em conclusão, o debate na Alerj sublinhou a complexidade da situação de Angra 3, que representa um desafio multifacetado, abrangendo questões econômicas, energéticas e sociais. A prolongada paralisação da usina, além de gerar custos bilionários anuais, impede a concretização de um potencial significativo em termos de produção de energia elétrica e geração de empregos. Assim sendo, a decisão sobre a continuidade ou não do projeto torna-se crucial para o futuro energético e econômico do Brasil, com as diversas partes interessadas buscando um consenso para uma solução que transforme o atual ônus em um benefício duradouro para a sociedade.