Associações representativas do setor de bares, restaurantes e da indústria de bebidas destiladas uniram forças para combater a crescente onda de falsificações, oferecendo treinamentos gratuitos a proprietários e funcionários. A iniciativa surge em resposta a uma série de casos preocupantes de contaminação por metanol, visando capacitar os estabelecimentos na identificação de produtos adulterados e, consequentemente, salvaguardar a saúde pública.
Capacitação para Identificar Adulterações
Os cursos, ministrados pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), pela Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD) e pela Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), detalham minuciosamente os sinais de falsificação. A princípio, a análise deve começar pelas tampas das garrafas, consideradas um ponto crucial de segurança. Tampas autênticas, por exemplo, exibem um acabamento preciso, sem amassados ou espaços irregulares, além de uma impressão de alta qualidade. Por outro lado, a presença de lacres plásticos sobrepostos a tampas já decoradas é um forte indício de adulteração, alertam as associações.
Ademais, o selo fiscal, um item obrigatório em bebidas destiladas importadas, merece atenção especial. Produzido pela Casa da Moeda do Brasil, o selo original possui uma holografia que revela uma única letra (R, F ou B) por vez. Assim, se todas as letras forem visíveis simultaneamente, é provável que o selo seja falsificado. Outro ponto relevante é a observação do recipiente: garrafas da mesma marca devem apresentar o mesmo nível de enchimento e líquidos translúcidos, sem quaisquer impurezas. Variações na coloração entre as unidades, por conseguinte, podem sinalizar um produto não autêntico.
Ainda mais, as entidades enfatizam a importância de examinar os rótulos. Produtos legítimos sempre contam com impressão de alta qualidade e informações obrigatórias em português, como ingredientes, origem e número de registro no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Erros de grafia ou informações ausentes são considerados, portanto, sinais claros de falsificação.
Os Perigos e Riscos do Mercado Ilegal
O treinamento não se limita apenas à identificação, mas também alerta para os graves riscos legais e sociais associados ao mercado ilegal. As associações, em comunicado, destacam que estabelecimentos que adquirem produtos de canais informais ou negligenciam a cautela na compra de bebidas podem ser responsabilizados criminalmente. Diante disso, a orientação é clara: a prevenção é fundamental.
Consequentemente, o descarte correto das garrafas vazias também integra o conteúdo do curso. As entidades apontam que 100% das bebidas falsificadas apreendidas em operações policiais foram envasadas em garrafas originais reutilizadas, o que ressalta a importância de inutilizar os recipientes após o consumo. Além disso, a expansão do mercado informal no Brasil não só compromete a saúde dos consumidores, mas também impacta a economia. Eduardo Cidade, presidente da ABBD, explica que um produto ilegal é vendido, em média, 35% mais barato que o original, podendo a diferença chegar a 48%. Essa disparidade, segundo ele, é impulsionada pela alta carga tributária do setor e pela impunidade, que estimulam o comércio ilícito.
Um levantamento realizado em abril pelo Núcleo de Pesquisas e Estatísticas da Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo (FHORESP) revelou que alarmantes 36% das bebidas comercializadas no Brasil são falsas, adulteradas ou contrabandeadas. Portanto, a federação orienta as empresas a redobrar a atenção nas compras: sempre verificar a procedência dos produtos, adquirir apenas de fornecedores conhecidos e exigir a nota fiscal. Quando possível, recomenda-se checar a autenticidade da nota junto à Receita Federal para evitar o risco de utilização de notas frias. A entidade ressalta que essa vigilância deve ser ainda mais intensificada em festas e eventos fora de ambientes controlados, ou seja, em locais sem alvará e fiscalização, onde a incidência de bebidas falsificadas e perigosas é significativamente maior.
Impacto dos Casos de Metanol nos Hábitos Sociais
Os recentes casos de contaminação por metanol no estado de São Paulo têm provocado uma mudança perceptível nos encontros sociais da capital. Marcílio Eduardo Ferreira da Silva Júnior, garçom, relata que a situação o fez reconsiderar a festa de aniversário que planejava realizar em um bar. “É triste, estou com medo”, ele expressa, admitindo que talvez precise suspender a comemoração devido à insegurança gerada pelas bebidas adulteradas, apesar de apreciar gin e uísque.
Similarmente, Rafael Douglas Martins, funcionário de um bar na zona Oeste de São Paulo, observa uma queda no consumo de bebidas destiladas durante a semana. Consequentemente, o próprio estabelecimento decidiu suspender a venda desses produtos, como uísque, gin, caipirinha e vodca, a partir desta quinta-feira (2) como medida de precaução. Martins esclarece que a decisão foi tomada mesmo com fornecedores confiáveis e notas fiscais em ordem. Ele enfatiza que a prioridade é a segurança tanto dos clientes quanto do próprio negócio, e as vendas só serão retomadas após a normalização da situação.