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Ainda Estou Aqui brilha e domina 24º Grande Otelo 2025

Ainda Estou Aqui foi o grande vencedor do 24º Prêmio Grande Otelo 2025, dominando a cerimônia no Rio de Janeiro na quarta (30) com prêmios para Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello.
Grande Otelo 2025 Ainda Estou Aqui
Foto: Anna Karina de Carvalho/Agência Brasil

O 24º Prêmio Grande Otelo 2025 consagrou o filme “Ainda Estou Aqui” como o grande campeão da noite, dominando a cerimônia realizada na Cidade das Artes Bibi Ferreira, no Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (30). O longa-metragem brilhou intensamente, conquistando prêmios importantes para Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello, em uma celebração que durou cerca de quatro horas e reuniu os mais renomados nomes do audiovisual brasileiro.

Início da Premiação e Primeiros Destaques

Desde os momentos iniciais do evento, a emoção tomou conta do público e dos premiados. Uma das primeiras categorias anunciadas foi a de Melhor Trilha Sonora, vencida pelo músico americano Warren Ellis, pela sua contribuição à obra “Ainda Estou Aqui”. Walter Salles, diretor do filme, foi quem subiu ao palco para receber o troféu em nome de Ellis. Na ocasião, Salles compartilhou a reação do compositor, que considerou a indicação no Brasil um verdadeiro presente.

Ademais, o cineasta ressaltou a significativa parceria com Warren Ellis, destacando como a trilha sonora foi capaz de incorporar a essência da resistência de Eunice Paiva, figura central do filme. Segundo Salles, o músico compreendeu a recusa de Eunice por qualquer tipo de melodrama ou sentimentalismo, refletindo isso magistralmente na composição musical.

Enquanto isso, a noite, conduzida pelas atrizes Isabel Fillardis e Bárbara Paz, desenrolou-se em meio a diversas homenagens à história do cinema nacional, abrangendo desde os tempos áureos da Atlântida, com referências a Carmen Miranda, até a produção contemporânea. O roteiro da premiação foi enriquecido com projeções de cenas icônicas e a presença vibrante de profissionais que moldam o cinema no país. A cantora Duda Brack, por sua vez, emocionou a plateia com interpretações marcantes de clássicos da música brasileira, como “O Que É Que a Baiana Tem?”, que impulsionou a carreira internacional de Carmen Miranda, “Bye Bye Brasil”, canção de Chico Buarque composta para o filme homônimo de Cacá Diegues, e “É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo”, de Erasmo Carlos, que se tornou um hino do atual momento do audiovisual, especialmente em conexão com “Ainda Estou Aqui”.

Emoção nos Palcos: Discursos Marcantes

Posteriormente, a cerimônia testemunhou momentos de grande comoção com os discursos dos atores premiados. Selton Mello, que recebeu sua primeira indicação em uma premiação cinematográfica, expressou profunda gratidão ao conquistar o troféu. O ator fez questão de agradecer a Walter Salles por tê-lo convidado para um projeto de tamanha relevância e à família Paiva pelo acolhimento, reconhecendo que foi considerado a pessoa certa para interpretar Rubens Paiva.

Mello expressou uma profunda emoção, descrevendo sua percepção de que, com a estreia do longa em Veneza, sentiu que a obra se tornava o próprio corpo de Rubens Paiva. De forma simbólica, o ator emprestou sua própria corporeidade para representar a figura de alguém que nunca retornou, o que tornou o recebimento do prêmio ainda mais tocante.

Em seguida, a atriz Fernanda Torres, igualmente emocionada, prestou uma calorosa homenagem a Eunice Paiva, cuja essência ela incorporou por dois anos. Torres relembrou a jornada global vivida na pele da personagem e a riqueza de experiências de todos os filmes em que participou. Para a atriz, a imersão no papel de Eunice Paiva ao longo de dois anos fez com que a personagem se tornasse uma “segunda natureza”. Além disso, ela ressaltou o aprendizado com a personagem e com Walter Salles, sobre a importância de evitar o melodrama e de se abrir plenamente para o papel, especialmente em um período de medo e incertezas semelhante ao vivido por Eunice, o que lhe rendeu aplausos calorosos da plateia.

Reconhecimento em Diversas Categorias

A noite também celebrou a versatilidade de talentos, com Sérgio Machado recebendo prêmios duplos: pelo longa-metragem de animação “Arca de Noé” e pelo longa-metragem documentário “3 Obás de Xangô”. Machado, visivelmente comovido com o Troféu Grande Otelo em mãos, relembrou ter conhecido o próprio Grande Otelo no início de sua trajetória no cinema, o que conferiu um significado ainda mais profundo à homenagem e à conquista.

Por outro lado, o cinema infantil também foi devidamente reconhecido com a vitória de Fernando Fraiha na categoria de Melhor Longa-Metragem Infantil, por “Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa”. Fraiha compartilhou a renovada crença na felicidade de dirigir cinema infantil no Brasil, enfatizando a gratificação imensa que essa experiência lhe trouxe. Outro momento de destaque, que cativou o público, foi o discurso emocionante do jovem ator Isaac Amendoim, que também subiu ao palco, com a voz embargada pela emoção, agradecendo a honra de receber um prêmio tão significativo, expressando sua imensa alegria em representar toda a equipe envolvida na produção do filme.

O Grande Vencedor: “Ainda Estou Aqui” Domina

Antes da aguardada revelação do Melhor Filme, a categoria de Melhor Direção foi concedida a Walter Salles, novamente por seu trabalho em “Ainda Estou Aqui”. Salles superou uma concorrência de peso, que incluía nomes como Andrucha Waddington, diretor do longa “Vitória”, Érico Rassi, vencedor do Festival de Cinema de Gramado de 2024 por “Oeste Outra Vez”, Karim Aïnouz por “Motel Destino”, e Marcelo Caetano, diretor do aclamado “Baby”.

A coroação definitiva da noite, no entanto, veio com o prêmio de Melhor Filme. Nesse momento culminante, Walter Salles convidou todo o elenco e a equipe de “Ainda Estou Aqui” para subir ao palco, em um clima de efervescente celebração. Ele citou Andrei Tarkovsky, um diretor que admirava, ao afirmar que um filme verdadeiramente ganha vida quando todos os envolvidos, tanto à frente quanto atrás das câmeras, estão em plena sintonia. Para Salles, a presença da equipe no palco era a prova de que essa coesão havia sido alcançada, transformando cada membro em um coautor da obra, dedicando o prêmio a eles.

Em conclusão, o cineasta finalizou sua fala com uma tocante homenagem a José Carlos Avellar, crítico e pensador de cinema falecido em 2016. Salles expressou a profunda falta que sentia do amigo, descrevendo-o como um “mestre” e um companheiro essencial em conversas desde o filme “Terra Estrangeira”, sem o qual, segundo ele, a realização de “Ainda Estou Aqui” talvez não tivesse sido possível.

Lista Completa dos Vencedores do 24º Prêmio Grande Otelo 2025

Abaixo, a relação completa dos vencedores em cada categoria do prestigioso Prêmio Grande Otelo 2025:

Melhor Longa-Metragem Ficção: Ainda Estou Aqui, de Walter Salles.

Melhor Longa-Metragem Documentário: 3 Obás de Xangô, de Sérgio Machado.

Melhor Longa-Metragem Animação: Arca de Noé, de Sérgio Machado e Alois di Leo.

Melhor Longa-Metragem Infantil: Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa, de Fernando Fraiha.

Melhor Longa-Metragem Ibero-Americano: Grand Tour (Portugal), de Miguel Gomes (Indicação: Academia Portuguesa de Cinema).

Melhor Direção: Walter Salles por Ainda Estou Aqui.

Melhor Primeira Direção de Longa-Metragem: Pedro Freire por Malu.

Melhor Atriz de Longa-Metragem: Fernanda Torres como Eunice Paiva por Ainda Estou Aqui.

Melhor Ator de Longa-Metragem: Selton Mello como Rubens Paiva por Ainda Estou Aqui.

Melhor Atriz Coadjuvante de Longa-Metragem: Juliana Carneiro da Cunha como Dona Lili por Malu.

Melhor Ator Coadjuvante de Longa-Metragem: Ricardo Teodoro como Ronaldo por Baby.

Melhor Direção de Fotografia: Adrian Teijido, ABC, por Ainda Estou Aqui.

Melhor Roteiro Original: Pedro Freire por Malu.

Melhor Roteiro Adaptado: Murilo Hauser e Heitor Lorega – baseado no livro Ainda Estou Aqui, de Marcelo Rubens Paiva, por Ainda Estou Aqui.

Melhor Montagem: Affonso Gonçalves, ACE, por Ainda Estou Aqui.

Melhor Efeito Visual: Claudio Peralta por Ainda Estou Aqui.

Melhor Som: Laura Zimmerman e Stéphane Thiébaut por Ainda Estou Aqui.

Melhor Direção de Arte: Carlos Conti por Ainda Estou Aqui.

Melhor Figurino: Claudia Kopke por Ainda Estou Aqui.

Melhor Maquiagem: Marisa Amenta e Luigi Rochetti por Ainda Estou Aqui.

Melhor Trilha Sonora: Warren Ellis por Ainda Estou Aqui.

Melhor Série Brasileira de Ficção, de Produção Independente, para TV Aberta, TV Paga ou Streaming: Senna – Temporada Única, de Vicente Aamorim.

Melhor Série Brasileira de Documentário, de Produção Independente, para TV Aberta, TV Paga ou Streaming: Falas Negras – 4ª temporada, de Antonia Prado.

Melhor Série Brasileira de Animação, de Produção Independente, para TV Aberta, TV Paga ou Streaming: Irmão do Jorel – 5ª temporada, de Juliano Enrico.

Melhor Atriz – Série de Ficção para TV Aberta, TV Paga ou Streaming: Adriana Esteves como Cibele por Os Outros.

Melhor Ator – Série de Ficção para TV Aberta, TV Paga ou Streaming: Gabriel Leone como Senna por Senna.

Melhor Curta-Metragem Ficção: Helena de Guaratiba, de Karen Black.

Melhor Curta-Metragem Documentário: Você, de Elisa Bessa.

Melhor Curta-Metragem Animação: A Menina e o Pote, de Valentina Homem e Tati Bond.

Voto Popular: Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes (documentário).