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Adaptação climática: cada dólar investido retorna US$ 10 em benefícios

Pesquisa do WRI analisou 320 iniciativas em 12 países, mostrando que investimentos em resiliência geram benefícios econômicos e socioambientais, mesmo sem desastres.
Retorno investimento adaptação climática
Foto: Filipe Karam/PMPA

Um estudo recente do World Resources Institute (WRI) revelou um retorno surpreendente sobre investimentos em adaptação climática: a cada dólar investido, são gerados dez dólares em benefícios ao longo de uma década. A pesquisa, que analisou 320 iniciativas em 12 países, totalizando US$ 133 bilhões em investimentos, indica um potencial de retorno superior a US$ 1,4 trilhão no período.

Retornos Econômicos e Socioambientais da Adaptação Climática

O estudo do WRI se concentrou em investimentos direcionados à redução ou gestão de riscos climáticos físicos. Entre os exemplos estão a promoção de agricultura resiliente ao clima, a expansão de serviços de saúde e a proteção contra inundações em áreas urbanas. Curiosamente, o relatório destaca que 50% dos benefícios foram observados mesmo na ausência de desastres climáticos, comprovando o valor intrínseco dessas medidas.

Além disso, os investimentos analisados geraram benefícios significativos em três áreas principais: redução de perdas; benefícios econômicos induzidos, como a criação de empregos e aumento da produtividade; e benefícios socioambientais. “Um dos achados mais notáveis é que os projetos de adaptação não dependem de desastres para gerar valor. Eles produzem benefícios diariamente: mais empregos, melhor saúde e economias locais mais fortes”, ressaltou Carter Brandon, pesquisador sênior do WRI. Em outras palavras, a adaptação climática se mostra como um investimento com retornos constantes e positivos.

A pesquisa demonstra que o investimento em adaptação promove o desenvolvimento sustentável. Por exemplo, a proteção de uma zona costeira garante a manutenção de serviços ecossistêmicos, como a preservação de habitats para pesca e a manutenção de áreas de lazer. Conforme o relatório, “uma boa adaptação é também um bom desenvolvimento”.

Sinergia com a Mitigação e Necessidade de Melhoria na Avaliação de Investimentos

Sinergias entre Adaptação e Mitigação

Outro ponto relevante do estudo é a sinergia observada entre adaptação e mitigação das mudanças climáticas. Quase metade das iniciativas analisadas resultou em redução de gases de efeito estufa, ampliando o acesso a financiamento climático e ao mercado de carbono. Embora os retornos financeiros médios desses investimentos sejam de 27%, em setores como saúde, esse número pode ultrapassar 78%.

Entretanto, o estudo aponta uma importante deficiência: apenas 8% das avaliações econômicas desses investimentos quantificaram o valor monetário dos dividendos. Isso indica a necessidade de melhoria nos métodos de avaliação utilizados por bancos multilaterais de desenvolvimento e outras instituições de financiamento, como fundos e governos. Segundo o relatório, uma melhor quantificação dos retornos poderia atrair mais investidores e reduzir o déficit de financiamento na área de adaptação climática.

A Importância da Pesquisa para Alavancar Investimentos e o Papel da COP30

Dan Ioschpe, presidente da COP30, que será realizada em Belém este ano, destacou a importância da pesquisa do WRI para impulsionar investimentos em adaptação climática, especialmente entre setores não governamentais. Ele lembrou que 2025 é um ano crucial para a inclusão da resiliência nas prioridades nacionais e para liberar o potencial de investimento nesse setor. “Essas evidências fornecem aos atores não estatais exatamente o que precisam no caminho para a COP30: um argumento econômico claro para dar escala na adaptação”, afirmou Ioschpe.

Além da quantificação dos benefícios, o estudo do WRI criou uma base de dados com base no modelo de “dividendo triplo da resiliência” (TDR), disponibilizando-o para aprimorar os métodos de avaliação de investimentos em adaptação. Um estudo da Climate Policy Initiative, publicado em 2024, revelou que 90% das iniciativas de adaptação em todo o mundo são financiadas com recursos públicos. Portanto, a iniciativa do WRI é um passo fundamental para mudar esse cenário.

Conclusão: A Adaptação Climática como Plataforma para o Desenvolvimento

Em conclusão, o estudo do WRI reforça a ideia de que a adaptação climática não é apenas uma medida de segurança, mas uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento sustentável. Como enfatizou Sam Mugume Koojo, co-presidente da Coalizão de Ministros das Finanças para Ação Climática, de Uganda: “É hora de os líderes reconhecerem que a adaptação climática não é apenas uma rede de segurança, mas uma plataforma para o desenvolvimento”.