Edição Brasília

Acusada de laranja, esposa de ex-procurador do INSS silencia na CPMI

Esposa de ex-procurador do INSS, Thaisa Jonasson, silenciou na CPMI sobre a acusação de ser "laranja" em esquema que desviou milhões de aposentados.
Thaisa Jonasson laranja INSS
Foto: Lula Marques/ Agência Braasil.

Thaisa Hoffmann Jonasson, esposa do ex-procurador-geral do INSS, Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, optou por manter o silêncio durante quase todo o seu depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), ocorrido hoje (23). Dona de empresas de consultoria, ela enfrenta acusações de atuar como “laranja” em um complexo esquema que teria desviado milhões de reais de aposentados e pensionistas.

O Silêncio na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito

Amparada por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Thaisa exerceu seu direito de não responder a perguntas que pudessem levá-la à autoincriminação. Consequentemente, sua advogada, Izabella Hernandez Borges, esclareceu que Thaisa não aceitaria prestar o compromisso de dizer a verdade, visto que figura como investigada no processo, inclusive com um pedido de prisão preventiva em seu nome. Desse modo, a sessão foi marcada por uma série de recusas em fornecer informações, reforçando as suspeitas sobre seu papel nos desvios.

Adicionalmente, o relator da CPMI, Alfredo Gaspar (União-AL), fez uma observação contundente. Ele lamentou que Thaisa Jonasson deixasse a comissão com a imagem de “lavadora de dinheiro” de aposentados e pensionistas, afirmando que ela havia “perdido uma grande oportunidade de mostrar que não recebeu propina para o seu marido, como procurador-geral do INSS”. Essa declaração sublinha a gravidade das acusações e o impacto do seu silêncio.

As Conexões com o “Careca do INSS” e os Desvios

As investigações apontam que Thaisa teria movimentado, no mínimo, R$ 18 milhões provenientes do esquema fraudulento. Uma parte significativa desses recursos, aproximadamente R$ 11 milhões, teria sido paga pelo lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”. Ele é apontado como o principal articulador das fraudes, com movimentações estimadas em R$ 2 bilhões. As empresas de Thaisa – a Curitiba Consultoria e o Centro Médico Vitacare – foram as destinatárias desses valores.

Além disso, outra empresa de Thaisa, a THJ Consultoria, teria recebido R$ 3,5 milhões de um núcleo distinto do esquema, sediado em Sergipe, conforme detalhou o relator da CPMI. O parlamentar ainda indicou que as fraudes consistiam na falsificação de autorizações de idosos, transformando-os em mensalistas de serviços prestados por determinadas associações e sindicatos. Acordos fraudulentos com o INSS eram, posteriormente, utilizados para descontar automaticamente as mensalidades das aposentadorias e pensões dos beneficiários, sem o devido consentimento.

Defesa e Novas Acusações de Movimentação Financeira

Em um dos poucos momentos em que respondeu, Thaisa Jonasson declarou ter recebido o dinheiro de três empresas ligadas ao “Careca do INSS como pagamento por serviços de pareceres médicos”. Sendo médica endocrinologista, ela prometeu entregar à comissão documentos que comprovariam a prestação desses serviços a partir de 2022. Para ilustrar seu trabalho, ela explicou que seus pareceres visam “trazer essa informação [sobre causas de doenças como osteoporose] de maneira muito mais detalhada para que o idoso possa ter qualidade de vida”.

Contudo, o relator da CPMI trouxe à tona novas denúncias, mencionando uma reportagem que acusa Thaisa e seu marido de negociarem um imóvel avaliado em R$ 28 milhões em Santa Catarina. Outrossim, Gaspar citou relatos que indicam que Virgílio de Oliveira Filho teria adquirido um carro Porsche, entre outros veículos de luxo, logo após a deflagração da Operação Sem Desconto, em abril de 2025. O deputado avaliou que esses valores são evidentemente incompatíveis com o cargo de servidor público de Ribeiro, reforçando as suspeitas de enriquecimento ilícito.

Próximos Passos na Investigação da CPMI

O presidente da CPMI, Carlos Viana (Podemos-MG), também se pronunciou, afirmando que, embora a depoente tenha o direito de permanecer em silêncio, “os fatos já são por si só reveladores da situação”. Ele enfatizou a gravidade de um procurador do INSS estar envolvido na compra de um imóvel de R$ 28 milhões em Balneário Camboriú, considerado um dos endereços mais caros do Brasil. Por conseguinte, a postura de Thaisa, apesar de seu direito, não dissipou as preocupações da comissão.

Na tarde desta quinta-feira, em Brasília, a CPMI dará continuidade aos trabalhos, ouvindo o depoimento do próprio ex-procurador-geral do INSS, Virgílio Oliveira Filho, companheiro de Thaisa. As apurações iniciais indicam que Oliveira Filho, afastado do cargo por decisão judicial em abril, teria recebido R$ 11,9 milhões de empresas ligadas a associações investigadas por realizar descontos irregulares em benefícios previdenciários. Portanto, o próximo depoimento é aguardado com grande expectativa para aprofundar as investigações sobre o complexo esquema.