A Polícia Federal (PF) concluiu seu relatório final sobre a chamada “Abin Paralela”, esquema de espionagem ilegal ocorrido durante o governo Bolsonaro. O documento, que teve o sigilo quebrado pelo ministro Alexandre de Moraes em 18 de junho de 2025, revela um erro crucial: o monitoramento ilegal, por engano, de um homônimo do próprio ministro.
Indiciamentos e a “Abin Paralela”
Cerca de 30 pessoas foram indiciadas pela PF em relação ao esquema. Entre os indiciados está Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro. Embora o ex-presidente não tenha sido incluído nas acusações deste relatório específico, ele já responde a processos relacionados ao uso clandestino da Abin em uma ação penal separada, que investiga uma trama golpista e tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).
A PF afirma que Bolsonaro e Carlos Bolsonaro faziam parte de uma organização criminosa responsável por comandar operações de espionagem clandestina contra opositores. Em outras palavras, a investigação aponta para uma estrutura organizada para monitoramento ilegal.
O Erro no Monitoramento
De acordo com o relatório, o erro ocorreu devido a três buscas feitas pelo agente de inteligência Thiago Gomes Quinalia. Utilizando o sistema de monitoramento Firstmile, em 19 de maio de 2019, Quinalia pesquisou pelo nome “Alexandre de Moraes Soares”. Segundo a investigação da PF, essa busca por um homônimo do ministro do STF foi um equívoco cometido dentro do esquema de espionagem ilegal. O relatório da PF explicitou que a utilização de sistemas ilegais de consulta, como o Firstmile, resultava frequentemente em associação incorreta de números telefônicos a alvos específicos, qualificando a busca por um homônimo como um erro.
Além do ministro Alexandre de Moraes, as investigações apontaram o monitoramento ilegal de outras figuras públicas: os ex-deputados Jean Wyllys, Rodrigo Maia e Joyce Hasselmann; o ex-governador de São Paulo, João Doria; e os jornalistas Leandro Demori e Mônica Bergamo.
Contexto Temporal e o Inquérito das Fake News
O relatório da PF destaca a coincidência entre a data da pesquisa no sistema Firstmile (19 de maio de 2019) e a abertura do inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal. Este inquérito, que investiga a disseminação de desinformação durante o governo Bolsonaro, tem o ministro Alexandre de Moraes como relator. Os investigadores da PF ressaltam que a data da pesquisa no sistema é compatível com o andamento do inquérito 4.781, instaurado em março de 2019 pelo então presidente do STF, Dias Toffoli. A data de 14/05/2019, por exemplo, foi quando um recurso para suspender as apurações foi disponibilizado para julgamento.
Importante mencionar que o agente responsável pela pesquisa, Thiago Gomes Quinalia, deixou o serviço público e seu paradeiro é desconhecido. Ele foi demitido no ano passado.
Reação de Carlos Bolsonaro
Após a divulgação das conclusões da PF, Carlos Bolsonaro recorreu às redes sociais para contestar o indiciamento, insinuando motivações políticas. Em sua declaração, Carlos Bolsonaro questionou a imparcialidade da investigação, sugerindo que o indiciamento é uma estratégia política direcionada para as eleições de 2026. Ele utilizou a expressão “coincidência” para minimizar a gravidade de sua participação no esquema.
Em conclusão, o relatório final da PF sobre a “Abin Paralela” detalha um esquema de espionagem ilegal, com consequências que ultrapassam a esfera política, atingindo também a privacidade de cidadãos. Apesar do erro no monitoramento do homônimo do ministro Alexandre de Moraes, o relatório consolida a existência de uma estrutura ilegal e organizada, com implicações significativas para o cenário político brasileiro.