Edição Brasília

A criação de riqueza é o começo da solução da pobreza

A criação de riqueza desempenha um papel fundamental no progresso das sociedades em todo o mundo.

Por Bruno Brito – Colunista Edição Brasília

Ela não apenas impulsiona o desenvolvimento econômico, mas também influencia positivamente outros aspectos importantes, como a qualidade de vida, a inovação e o bem-estar geral da população. Numa entrevista à Roda Viva da Rede Cultura na década de 90, o ex-ministro, embaixador, economista e deputado Roberto Campos declarou:

Eu sempre fui preocupado com a pobreza brasileira. Dediquei toda a minha vida a cura da pobreza. A única divergência que existe entre mim e os caridosos, os bonzinhos, é que eu acho que o mercado é a grande solução para a pobreza.

A minha divergência com vários esquerdosos brasileiros é que eles têm obsessão de distribuir pobreza. Você tem que ter certa consideração com os elementos capazes de criar riqueza. O respeito ao criador da riqueza é o começo da solução da pobreza.”

A criação de riqueza é um fator essencial para impulsionar o desenvolvimento econômico. Quando os indivíduos e as empresas conseguem gerar riqueza, isso resulta em um aumento da produção, da renda e do emprego. A riqueza cria oportunidades para investimentos em infraestrutura, educação, saúde e outros setores-chave, criando uma base sólida para o crescimento econômico sustentável. Além disso, a criação de riqueza gera receitas fiscais, que podem ser direcionadas para programas sociais e projetos de desenvolvimento, beneficiando a sociedade como um todo.

Além dos benefícios econômicos, a criação de riqueza também tem um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas. Quando a riqueza é criada, a renda per capita aumenta, o que proporciona às pessoas acesso a melhores serviços, como educação, saúde e habitação. A criação de riqueza está diretamente associada a uma redução da pobreza, uma vez que oportunidades econômicas são geradas e mais pessoas podem se beneficiar do crescimento econômico. A disponibilidade de recursos financeiros permite a melhoria das condições de vida e proporciona uma maior liberdade de escolha aos indivíduos.

A criação de riqueza também impulsiona a inovação e o progresso tecnológico. Quando os empreendedores têm a oportunidade de gerar riqueza, eles são incentivados a buscar soluções inovadoras para os desafios enfrentados pela sociedade. A competição entre as empresas para conquistar uma fatia do mercado estimula a busca por melhores produtos, serviços e processos. A inovação resultante impulsiona o progresso tecnológico, que por sua vez tem um impacto positivo em diversos setores, desde a medicina até a indústria automobilística. A criação de riqueza, portanto, desempenha um papel fundamental na melhoria contínua e no avanço das sociedades.

A tabela a seguir apresenta um comparativo em termos de riqueza criada pelas 10 maiores empresas de capital aberto no Brasil e nos Estados Unidos. Os dados são relativos ao fechamento do dia 07 de julho de 2023.

A análise da tabela acima nos traz alguns insights:

  • Verifica-se que das 10 maiores empresas americanas, 5 tem menos que 30 anos de vida (Google com 25 anos, Amazon com 29 anos, Nvidia com 30 anos, Tesla com 20 anos e Meta com 19 anos) e que o valor econômico criado nesses poucos anos por algumas dessas empresas é superior ao valor econômico de TODAS as empresas brasileiras listas em bolsa, que é de US 913 bilhões. Por exemplo, o Google, uma empresa de apenas 25 anos, criou um valor econômico de US 1,5 trilhão, enquanto que TODAS as empresas brasileiras listadas em bolsa somadas possuem um valor de mercado de US$ 913 bilhões. Ou seja, em poucos anos algumas empresas criaram isoladamente mais valor do que TODAS as empresas brasileiras de capital aberto somadas.
  • As maiores empresas brasileiras são “centenárias”, há pouca oxigenação no ranking das maiores empresas nacionais.
  • Das 10 maiores empresas americanas de capital aberto, 7 foram empresas investidas por fundos de venture capital. No início eram empresas deficitárias, que queimavam caixa, mas graças ao aporte de investidores de risco essas companhias puderam ser financiadas e se desenvolveram. Ou seja, se a indústria de Venture Capital americana não fosse uma indústria desenvolvida, muito provavelmente essas empresas não existiriam. Nas economias modernas, ter uma indústria de Venture Capital desenvolvida corresponde a uma “infraestrutura” para criação de riqueza e desenvolvimento econômico.

Essa lista não para por aí, quando pegamos as maiores empresas brasileiras, verifica-se que em poucos anos diversas outras empresas de tecnologia criaram mais valor de mercado do que as maiores empresas de capital aberto brasileiras, senão vejamos:

  • Salesforce, empresa de software fundada em 1999, portanto com 24 anos de existência, possui um valor de mercado de US$ 207 bilhões, que equivale ao valor de Petrobrás, Vale e Itaú Unibanco somados.
  • Netflix, empresa de streaming fundada em 1997, portanto com 27 anos de existência, possui um valor de mercado de US$ 196 bilhões, que equivale ao valor de Itaú Unibanco, Santander, BTG Pactual, Bradesco e Banco do Brasil somados.
  • ServiceNow, empresa de software fundada em 2004, portanto com 19 anos de existência, possui um valor de mercado de US$ 115 bilhões, que equivale ao valor de Petrobrás e WEG somadas.

E por aí vai…enfim, existem inúmeros outros exemplos. A pergunta que fica é: como alguns indivíduos conseguem em poucos anos criar negócios que valem mais do que a soma de TODAS as empresas brasileiras de capital aberto? Seriam eles dotados de uma inteligência superior e uma capacidade de execução extraordinária capazes de enxergar oportunidades onde nós brasileiros não enxergamos? Tendo morado e estudado nos EUA e convivido com americanos ao longo da vida, entendo que não é esse o caso.

O que ocorre é que estamos imersos em um ambiente de certa forma inóspito ao desenvolvimento de negócios e sujeitos a políticas públicas populistas que prejudicam o processo de criação de riqueza de várias maneiras. A intervenção excessiva do Estado, as políticas fiscais irresponsáveis, o protecionismo comercial, a falta de segurança jurídica e a falta de compromisso com reformas estruturais, são alguns dos efeitos negativos dessas políticas.

Como cultivar em terra árida? Esse é o desafio do empreendedor, do criador de riqueza local. Obviamente, existem histórias de sucesso de empreendedores que superaram obstáculos e construíram negócios prósperos no Brasil, mas a escala é baixa. A análise das tabelas acima deixa claro que o ambiente de negócios local apresenta obstáculos que dificultam o processo de criação de riqueza. Os números não mentem.

Reconhecer e valorizar aqueles que geram riqueza, pode ser o ponto de partida para a superação da pobreza. Os criadores de riqueza são indivíduos, empreendedores, investidores de risco e empresas que geram empregos, desenvolvem inovações e impulsionam o crescimento econômico. Eles assumem riscos, investem capital, criam oportunidades e, em última instância, contribuem para a prosperidade de uma nação. O respeito a essas pessoas e seu papel na sociedade, deveria ser o ponto de partida para uma mudança na dinâmica local de criação de riqueza. Como bem pontuado por Roberto Campos: “o respeito ao criador da riqueza é o começo da solução da pobreza”.

Bruno Brito escreve em colaboração para a coluna Edição Brasília

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