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Confira o que rolou no terceiro dia do Festival de Brasília

Filmes sobre a questão negra foram destaque na programação de quarta-feira (16) do FBCB, que exibe filmes no Cine Brasília e nos complexos culturais de Samambaia e de Planaltina

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Uma noite para entrar na história com uma sessão tripla de trabalhos exaltando o cinema de resistência, de guerrilha, das minorias. Uma noite para exaltar e engrandecer o cinema negro. “Viva o povo negro!”, gritava alguém da plateia do Cine Brasília vez ou outra, neste que foi o terceiro dia da 55ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB).

Realizado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa  (Secec), em parceria com a organização da sociedade civil Amigos do Futuro, o evento vem, ao longo desta semana, consolidando a importância da cultura e da produção audiovisual como plataforma de expressão e de democracia.

Equipe de Rumo, segundo longa do DF a ser exibido na Mostra Competitiva: filme fala sobre o sistema de cotas raciais na UnB | Foto: Paulo Cavera/Sece-DF

Representando a Paraíba, o primeiro curta da Mostra Competitiva nesta quarta-feira (16), Calunga Maior, recorre a contos africanos para construir uma narrativa em que tempo, vida e morte se somam à exaltação do corpo negro para ganhar a tela por meio de signos coloridos.

Trata-se de um olhar lírico e místico sobre uma cultura que atravessou o Atlântico e hoje permeia o imaginário brasileiro por meio da religião, dos cantos, da culinária e de outros tantos aspectos do cotidiano. “Calunga Maior é um filme espiritual”, resumiu o diretor Thiago Costa.

Até agora o mais experimental dos filmes exibidos na mostra competitiva do FBCB, o fascinante Sethico, do pernambucano Wagner Montenegro, “é um projeto sobre a destruição do mundo, marcado pela morte e pela desigualdade social”, como bem destacou o diretor.

Hipnótico, o filme conduz o espectador por uma narrativa sensorial norteada por batidas de tambores contagiantes e provocações em forma de mensagens, que mostram a conflituosa relação entre trabalhadores e patrão, a herança colonial e o abismo entre brancos e negros. “Na pandemia, 72% das pessoas que morreram de covid-19 eram pardas e pretas”, lembra um dos avisos do filme.

O filme Utopia Distopia, de Jorge Bodanzky, foi tema de debate, realizado espontaneamente no hall do Cine Brasília após a exibição | Foto: Marina Gadelha/Secec-DF

Segundo longa-metragem do Distrito Federal a ser exibido na Competitiva do Festival de Brasília, Rumo, da dupla Bruno Victor e Marcus Azevedo, traça três linhas narrativas que se cruzam para falar sobre o sistema de cotas raciais na Universidade de Brasília (UnB) e o racismo estrutural vigente por trás dessa política pública. O filme conta com depoimentos fortes, viscerais e pertinentes, que mexeram com a plateia, e foi aplaudido de pé ao final da sessão.

Mas mesmo antes da exibição, durante o discurso de apresentação da obra, que contou com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do DF (FAC) para sua realização, a produtora executiva Bethania Maia já tinha empolgado a plateia com palavras inflamadas.

“Estou feliz por ver todos esses corpos aqui, a gente sabe fazer cinema de guerrilha. Mas o cinema negro agora quer trabalhar com dignidade”, disse, agradecendo o incentivo do FAC. “Independentemente dos governos vigentes, é importante que as políticas públicas sejam fortalecidas para que a gente consiga contar histórias e possa fazer arte”, continuou.

Festival fora do Eixo

A experiência do Festival de Brasília também vem sendo sentida em Samambaia e Planaltina, que contam com exibições de todos os filmes da Mostra Competitiva, em sessões gratuitas promovidas diariamente, sempre às 20h. A ação é parte do projeto de descentralização do FBCB, que pretende oferecer o melhor da produção audiovisual nacional para a população do DF.

“Essa descentralização é fundamental e torna o cinema acessível para todos”
Miguel Medina, morador de Samambaia

Assim, ao mesmo tempo em que os três filmes rodavam no Cine Brasília, o Complexo Cultural de Samambaia e o Complexo Cultural de Planaltina, todos equipamentos culturais geridos pela Secec, também recebiam o público para as exibições das películas.

Morador de Samambaia, Miguel Medina foi um dos espectadores presentes na sessão de quarta-feira (16). Entusiasta da sétima arte, ele não perdeu tempo e tem se planejado para conferir a programação gratuita de filmes.

“Para quem não tem carro, por exemplo, ter que sair de Samambaia e ir ao Plano Piloto, ainda mais à noite, é algo incerto. Então essa descentralização é fundamental e torna o cinema acessível para todos”, conta ele, que faz planos para ir ao Cine Brasília no próximo domingo, para ver de perto o encerramento do festival.

Prata da casa

As sessões da Mostra Brasília de quarta-feira também comoveram o público, com a exibição de dois curtas e um longa-metragem. O primeiro deles foi Levante pela Terra, do diretor Marcelo Cuhexê, que acompanha o acampamento indígena homônimo, realizado em julho de 2021.

“Estamos vivendo um momento muito importante para o cinema indígena. Estar neste lugar, demarcando este espaço, demarcando o cinema e trazendo o audiovisual como ferramenta de luta dentro do movimento indígena aponta para a importância que nós, brasileiros, devemos dar aos povos originários”, destacou.

O segundo curta, Reviver, do diretor e roteirista Vinícius Schuenquer, trata das perdas durante a pandemia. “É uma honra exibir este filme. Reviver é sobre as consequências psicológicas em momentos tão difíceis que temos passado. É sobre luto, solidão, superação. É sobre a sensação de urgência para reviver os momentos bons”, apontou o diretor.

“Esse filme foi exibido de forma virtual no Festival de Brasília durante a pandemia. Meu sonho era que ele fosse exibido aqui, na tela do Cine Brasília, o que acontece agora, então é uma emoção muito grande”
Jorge Bodanzky, cineasta

O longa Profissão Livreiro, por sua vez, emocionou a plateia ao tratar dos desafios das transformações da profissão de livreiro com a chegada das novas tecnologias, dos livros digitais e a quase extinção das livrarias no Brasil.

“O mundo está em transformação e é por este motivo que precisamos ver o que está acontecendo com o mundo literário, com a globalização. Espero que este longa faça as pessoas se emocionarem e rirem também”, citou Pedro Lacerda.

As três apresentações, assim como todas as películas que integram a Mostra Brasília, concorrem ao prêmio Troféu Câmera Legislativa, que premiará diversas categorias, incluindo o melhor longa e o melhor curta segundo a avaliação do público. O voto popular é feito virtualmente e validado através de um código disponibilizado em cada ingresso.

Grande homenageado

Prestes a completar 80 anos no próximo mês de dezembro, Jorge Bodanzky é a memória viva dos anos seminais da UnB e da Capital. Aliás, seus anos de juventude se confundem tanto com um, quanto com outro, deixando um sentimento de nostalgia, saudade e registro histórico presente no seu documentário biográfico Utopia Distopia, exibido na tarde desta quarta-feira, no Cine Brasília. A projeção abriu a mostra paralela que homenageia o cineasta nesta 55ª edição do FBCB.

“Esse filme foi exibido de forma virtual no Festival de Brasília durante a pandemia. Meu sonho era que ele fosse exibido aqui, na tela do Cine Brasília, o que acontece agora, então é uma emoção muito grande”, disse o veterano cineasta.

Inegável a importância histórica do filme, com imagens incríveis de uma Brasília que estava nascendo física e intelectualmente. Cenas em preto e branco que firmam como testamento de uma época e endossam depoimentos cheios de afetos e recordações vivas.

Durante o debate, realizado espontaneamente no hall do Cine Brasília após a exibição, Bodanzky se juntou à esposa Márcia e amigos como Vladimir Carvalho, entre outros, para falar sobre sua carreira, Amazônia e Brasil.

Antes da projeção de Utopia Distopia, uma raridade: a exibição do curta-metragem Brasília em Super 8 que, como o nome indica, traz registros poéticos da cidade pelas lentes daquele mesmo jovem deslumbrado com a bela arquitetura do lugar e seus horizontes deslumbrantes.

Nesta quinta-feira (17), às 14h, a homenagem seguiu com Compasso de Espera, único filme dirigido pelo diretor de teatro Antunes Filho, e do qual Bodanzky faz a direção de fotografia. “Talvez seja um dos primeiros filmes sobre a temática negra do país, que traz o ator Zózimo BulBul como protagonista, hoje homenageado pelo festival com o nome de um prêmio”, frisou o veterano. “Foi uma experiência única, estou curioso para rever esse filme”, confidenciou.

Serviço
55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
→ De 14 a 20 de setembro
→ Local: Cine Brasília, com exibições também nos complexos culturais de Planaltina e de Samambaia
→ Confira a programação completa no site do festival
→ Ingressos nas bilheterias

*Com informações da Secec

 

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