Se engana quem pensa que a tuberculose, doença infecciosa e transmissível causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis e que afeta prioritariamente os pulmões, ficou no século passado. A enfermidade continua sendo diagnosticada em todo o mundo.
No Brasil, a incidência é de cerca de 32 casos por 100 mil habitantes. No DF, o número é um dos mais baixos do país, em torno de 12 casos, comparado à mesma quantidade de habitantes. Mesmo assim, a doença ainda requer atenção. Só ano passado, foram diagnosticados 323 novos casos na capital federal.
A transmissão ocorre, principalmente, pelas vias aéreas por meio de tosse, espirro e fala. Uma das primeiras formas de prevenção da doença é a vacina BCG aplicada em crianças de até 4 anos
Uma das maiores preocupações é quanto à adesão ao tratamento das pessoas diagnosticadas. Diagnóstico precoce e continuidade do tratamento são essenciais para a cura ou recuperação da doença. Os dados da Vigilância das Doenças Transmissíveis (GVDT) mostram que, dos casos identificados no passado, 38,7% atingiram a cura, 18,58% ainda estão em tratamento e acompanhamento, 68% iniciaram o tratamento no DF, mas mudaram para outro local e 12,61% abandonaram o tratamento.
Para enfrentar o problema, a rede pública de saúde tem um Plano de Enfrentamento à Tuberculose, que é alinhado às políticas nacionais e internacionais (existe uma meta global para eliminar a doença até 2026) sustentada em três pilares. São eles: prevenção e cuidado integrado centrados na pessoa com tuberculose; políticas arrojadas e sistemas de apoio; e intensificação da pesquisa e inovação.
O papel da vigilância epidemiológica é o primeiro pilar. “Tem como papel fundamental o levantamento e divulgação de dados que mostram a distribuição da tuberculose na população, segundo idade, sexo, agravos associados, forma da tuberculose, entre outros. Além disso, investiga os casos e óbitos identificados e monitora indicadores para avaliação operacional, que indicam a qualidade dos serviços de saúde”, explica a gerente da GVDT da Secretaria de Saúde, Kenia Cristina de Oliveira.
“O DF integra-se ao esforço pelo fim da tuberculose por meio de ações prioritárias em todas as unidades de saúde da Atenção Primária. Os atendimentos dos casos estão descentralizados nas UBSs e os mais complexos, de resistência e associação com outras comorbidades, são encaminhados para o Centro Especializado em Doenças Infecciosas”
Fernando Erick Damasceno, coordenador da Atenção Primária da Secretaria de Saúde
De acordo com ela, a partir do panorama epidemiológico são traçadas as recomendações técnicas de gestão e de assistência da saúde. “Contribuindo assim para a execução de um conjunto de ações integradas que visam interromper a cadeia de transmissão da tuberculose”.
A transmissão ocorre, principalmente, pelas vias aéreas por meio de tosse, espirro e fala. O risco de adoecimento depende de fatores ligados ao sistema imune. Uma das primeiras formas de prevenção da doença é a vacina BCG aplicada em crianças de até 4 anos.
A segunda linha de combate à doença ocorre na Atenção Primária, tendo as unidades básicas de saúde (UBSs) como porta de entrada de pacientes sintomáticos; nelas, eles recebem assistência e tratamento. Também há o trabalho de busca ativa e investigação clínica, laboratorial e epidemiológica para o diagnóstico precoce.
“O DF integra-se ao esforço pelo fim da tuberculose por meio de ações prioritárias em todas as unidades de saúde da Atenção Primária. Os atendimentos dos casos estão descentralizados nas UBSs e os mais complexos, de resistência e associação com outras comorbidades, são encaminhados para o Centro Especializado em Doenças Infecciosas”, explica o coordenador da Atenção Primária da Secretaria de Saúde, Fernando Erick Damasceno.
Assistência, tratamento e diagnóstico
A tuberculose é uma doença caracterizada por sintomas como tosse por mais de três semanas (às vezes, com sangue), dor ao respirar ou tossir, perda de peso, febre vespertina, fadiga e dores pelo corpo, principalmente no peito.
A população mais suscetível à doença são pessoas em situação de rua ou privadas de liberdade, pacientes com HIV, usuários de álcool e outras drogas e a população indígena. “Em geral, essas populações vivem em uma situação de vulnerabilidade e têm um risco três vezes maior de contrair a doença”, analisa o coordenador da Atenção Primária.
O último boletim epidemiológico da Subsecretaria de Vigilância à Saúde da SES-DF, publicado em 2020, apontou que a maior concentração dos casos ocorre na faixa etária entre 35 e 49 anos, respondendo a 34,6%.
O tratamento dura seis meses e ocorre na rede pública de forma gratuita nas UBSs e no Centro Especializado em Doenças Infecciosas (Cedin, antigo Hospital Dia, na 508/509 Sul). “São utilizados quatro medicamentos para o tratamento dos casos de tuberculose que utilizam o esquema básico: rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol”, explica Damasceno.
“Para o êxito, é importante que o paciente tome os medicamentos de forma regular (todos os dias, em doses adequadas) respeitando o tempo previsto. Com aproximadamente 15 dias de tratamento, a transmissão da bactéria do indivíduo doente para outras pessoas é interrompida, evitando novos casos da doença”, acrescenta.
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O diagnóstico pode ser feito por quatro tipos de exames: baciloscopia, Teste Rápido Molecular (TRM), cultura e radiografia de tórax. O primeiro é considerado o mais importante para o diagnóstico e controle. O exame baciloscópico analisa duas amostras: primeiro contato suspeito e no dia seguinte, pela manhã, em jejum.
Já o TRM permite o resultado em duas horas, necessitando apenas uma amostra de escarro, além de ser indicado para triagem de cepas. A cultura é considerada o método padrão ouro por permitir o diagnóstico de tuberculose resistente. É recomendado para pacientes de maior risco. A radiografia do tórax é usada na avaliação inicial e no acompanhamento para excluir outra doença pulmonar associada e avaliar a extensão do acometimento nos pulmões.
Atualmente, a SES está em fase de elaboração, por um grupo de trabalho, da linha de cuidado e das notas técnicas para orientar os profissionais e implementar capacitações. Outro esforço é a expansão da implantação do TRM em toda a rede. Hoje, existem cinco máquinas para atender todo o DF, localizadas nos hospitais de Taguatinga (HRT), do Gama (HRG), da Asa Norte (Hran), Região Leste (Paranoá) e no Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen).
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