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Rio sedia 1ª Cúpula Popular do Brics: Sociedade civil debate Sul Global

A 1ª Cúpula Popular do Brics teve início nesta segunda (1º) no Rio de Janeiro, reunindo a sociedade civil para debater propostas de cooperação para o Sul Global.
BRICS Sociedade Civil Sul Global
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

O Rio de Janeiro se tornou o palco da 1ª Cúpula Popular do BRICS nesta segunda-feira, 1º de abril, um evento significativo que reuniu a sociedade civil para articular e debater propostas essenciais de cooperação focadas no Sul Global. Realizado no Armazém da Utopia, no coração da cidade, este encontro inaugural visa integrar os movimentos sociais diretamente com o bloco econômico, que atualmente engloba 11 economias emergentes com influência crescente no cenário internacional. O propósito central da cúpula, portanto, é facilitar a participação ativa da sociedade civil na construção de uma agenda colaborativa robusta.

Diálogos Estratégicos e a Agenda do Sul Global

Durante os trabalhos da cúpula, uma vasta gama de temas cruciais entrou em pauta. Entre eles, destacaram-se discussões sobre cooperação econômica e o fortalecimento do multilateralismo, bem como a construção de um mundo multipolar. Além disso, os participantes se aprofundaram na reconfiguração da geopolítica mundial e nos complexos desafios da governança global. Os debates também se estenderam ao próprio papel do BRICS no cenário global, investigando maneiras de reduzir a dependência dos países emergentes ao dólar americano, tanto em transações internacionais quanto na formação de reservas financeiras. Essas discussões, ademais, sublinham o desejo de um sistema financeiro global mais equitativo.

Nesse contexto de maior engajamento, o Conselho Civil Popular do BRICS, estabelecido em 2024 durante a Cúpula do BRICS em Kazan, na Rússia, desempenha um papel fundamental. Sua criação objetivou justamente fomentar um diálogo contínuo e produtivo entre os atores da sociedade civil e os governos dos países-membros do bloco. Segundo a organização do evento, “o conselho representa um marco na consolidação da participação da sociedade organizada nas discussões do bloco, visando, desse modo, dar voz a movimentos populares, estudantes, professores e ONGs nas pautas estratégicas do agrupamento”. Este avanço, portanto, assinala uma nova era de inclusão e representatividade.

A Voz da Sociedade Civil e a Transição da Presidência

Este encontro no Rio de Janeiro marca o último grande evento realizado pelo BRICS sob a presidência brasileira, antes que a Índia assuma o comando no próximo ano. A transição, entretanto, não diminui a importância do trabalho iniciado, mas sim o projeta para o futuro. Em uma mensagem em vídeo transmitida para a abertura do evento, a ex-presidenta do Brasil e atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, Dilma Rousseff, enfatizou a relevância histórica da primeira cúpula. Em sua fala, Dilma destacou que o evento “consagra a participação da sociedade civil organizada na construção da cooperação do Sul Global”, legitimando, assim, a voz popular no processo.

Ainda segundo a ex-presidente, “pela primeira vez, os povos dos países do BRICS dispõem de um canal permanente de diálogo com os governos e as instâncias decisórias do agrupamento”. Esta afirmação reforça a abertura de um espaço inédito para a influência cidadã. Da mesma forma, João Pedro Stedile, membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Conselho Civil dos BRICS no Brasil, ressaltou que a cúpula visa formalizar o funcionamento permanente do conselho civil. O objetivo é estabelecer um “modus operandi” claro que será apresentado à nova presidência indiana. Stedile argumentou, além disso, que “os governos sabem que, sem a mobilização da sociedade civil, para alguns temas não há como resolver, como a defesa da natureza e a construção de moradia popular. Portanto, vamos analisar temas da geopolítica mundial, mas também nos dedicaremos a questões que a sociedade civil pode ajudar a solucionar”.

O Papel Crucial do BRICS na Segurança Alimentar Mundial

A relevância do BRICS transcende a política e a economia, alcançando um impacto direto na segurança alimentar global. Os países-membros do bloco, por exemplo, são líderes incontestáveis na produção de grãos, carnes, fertilizantes e fibras, sendo responsáveis por cerca de 70% da produção agrícola mundial. Ademais, esses países concentram mais da metade da agricultura familiar do planeta, um setor que gera aproximadamente 80% do valor da produção global de alimentos. Essa posição estratégica, por conseguinte, confere ao bloco uma responsabilidade ainda maior na construção de sistemas alimentares que sejam tanto sustentáveis quanto equitativos. Tais pautas, de fato, são um dos focos centrais que o Conselho Popular do BRICS busca integrar ativamente nas suas discussões e propostas.

Em conclusão, a 1ª Cúpula Popular do BRICS representa um passo significativo na democratização das discussões globais e no fortalecimento da voz da sociedade civil no bloco. Ao reunir diversos atores e debater temas que variam da macroeconomia à segurança alimentar, o evento solidifica o papel da população na formulação de políticas que buscam um futuro mais cooperativo e justo para o Sul Global.