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Brasil celebra avanços contra HIV, mas novos casos aumentam em 2023

Brasil comemora avanços no combate ao HIV em 1º de dezembro, mas desafios persistem com o aumento de 4,5% nos novos casos da doença notificados em 2023.
Novos casos HIV Brasil 2023
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

No dia 1º de dezembro, o Brasil une-se à comunidade global para marcar o Dia Mundial de Luta contra o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e iniciar o Dezembro Vermelho, um período dedicado à conscientização sobre o HIV e a Aids. Apesar de celebrar progressos significativos no enfrentamento à doença, o país se depara com um desafio crescente: os novos casos de infecção pelo HIV registraram um aumento de 4,5% em 2023, conforme dados recentes, o que acende um alerta sobre a persistência da epidemia.

Conscientização Global e Alertas da ONU

As iniciativas realizadas mundialmente durante o Dezembro Vermelho visam combater a desinformação, erradicar a discriminação e, além disso, incentivar a população a redobrar os cuidados com a saúde. Contudo, o cenário global inspira preocupação. O secretário-geral das Organizações das Nações Unidas (ONU), António Guterres, fez um alerta veemente. Ele destacou que, pela primeira vez em décadas, os avanços obtidos estão em risco devido à interrupção de programas essenciais, aos cortes no financiamento internacional e à diminuição do apoio comunitário. Adicionalmente, leis punitivas em muitos países limitam o acesso a cuidados de saúde, afetando principalmente populações vulneráveis.

Guterres enfatizou que o caminho para o fim da Aids passa pelo empoderamento das comunidades, pelo investimento em prevenção e pela ampliação do acesso ao tratamento para todos. Segundo ele, este Dia Mundial de Luta contra a Aids serve como um lembrete do poder coletivo para transformar vidas, construir futuros e erradicar a epidemia de uma vez por todas.

Atualmente, um levantamento do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids) indica que 40,8 milhões de indivíduos convivem com HIV em todo o mundo. Em 2024, por exemplo, foram registradas 1,3 milhão de novas infecções, e ainda assim, 9,2 milhões de pessoas permanecem sem acesso ao tratamento vital.

Cenário Brasileiro: Avanços e Persistências

No Brasil, o Boletim Epidemiológico – HIV e Aids de 2024 do Ministério da Saúde revela um panorama detalhado. Desde 1980 até junho de 2024, o país acumulou um total de 1.165.599 casos de infecção. Além disso, a média anual de novas infecções manteve-se em 36 mil nos últimos cinco anos. Para mais informações, o boletim completo está disponível no site oficial: Boletim Epidemiológico – HIV e Aids (2024).

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, celebrou as conquistas brasileiras no combate ao vírus. Ele salientou a significativa redução da mortalidade e a erradicação da transmissão vertical (de mãe para filho) como um problema de saúde pública, resultados atribuídos ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ao Programa Nacional de Combate à Aids. Apesar desses avanços notáveis, Padilha reconheceu que a data também serve para reforçar a vigilância e o enfrentamento das desigualdades. Ele destacou a necessidade de melhorar o acesso universal à prevenção e ao cuidado contínuo, além de combater o estigma associado à doença. Para ficar por dentro das atualizações e informações do governo, siga o canal da Agência Brasil no WhatsApp: Agência Brasil no WhatsApp.

As Metas do Brasil para 2030

O Brasil, como signatário das diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), reafirma seu compromisso de erradicar a Aids como problema de saúde pública até 2030. Para atingir essa meta ambiciosa, o país estabeleceu objetivos claros, conhecidos como 95-95-95. Estes preveem que, até o final da década, 95% das pessoas vivendo com HIV/Aids estejam diagnosticadas, que 95% das pessoas diagnosticadas estejam em tratamento e que, por conseguinte, pelo menos 95% destas últimas apresentem carga viral suprimida (inferior a 1.000 cópias/mL).

Adicionalmente a essas metas primárias, o governo brasileiro pactuou outros dois objetivos cruciais: a redução de 90% na taxa de incidência de HIV e no número de óbitos por Aids até 2030, em comparação com os índices registrados em 2010. Tais compromissos sublinham a seriedade da abordagem nacional para conter a epidemia.

Radiografia da Epidemia no Brasil

A análise epidemiológica revela que a taxa de detecção de Aids no Brasil alcançou 17,8 casos por 100 mil habitantes. Esta taxa é mais prevalente entre indivíduos na faixa etária de 25 a 34 anos. Em seguida, a principal via de transmissão da doença continua sendo a sexual, responsável por 75,3% dos casos em pessoas com 13 anos ou mais. Historicamente, entre 1980 e junho de 2024, a maior concentração de casos de Aids no país ocorreu em indivíduos com idades entre 25 e 39 anos, com uma notável predominância no sexo masculino, que representou 68,4% dos diagnósticos. Observa-se ainda um preocupante aumento de 33,9% nos casos entre a população acima de 60 anos, passando de 2.216 em 2015 para 2.968 em 2023, o que indica a necessidade de abordagens específicas para essa faixa etária.

Aumento de Casos e Desafios Populacionais

Especificamente em 2023, os dados do Ministério da Saúde alertam para o registro de 46.495 novos casos de infecção pelo HIV no Brasil. Esse número representa, portanto, um aumento de 4,5% em comparação com o ano anterior. A análise demográfica desses novos casos revela padrões importantes. Desse modo, 63,2% dos indivíduos afetados se autodeclararam negros, sendo 49,7% pardos e 13,5% pretos. Além disso, 53,6% dos casos incidiram em homens que fazem sexo com homens (HSH), reforçando a necessidade de políticas de prevenção e conscientização direcionadas a este grupo.

Impacto em Gestantes e Mortalidade

No que diz respeito às gestantes, desde o ano 2000, foram notificados 166.237 casos de HIV, com a taxa de detecção apresentando um crescimento contínuo, atingindo 3,3 casos por mil nascidos vivos em 2023. Essa elevação, por sua vez, corresponde a um aumento de 33,2% na última década. Em 2023, por exemplo, houve uma maior incidência entre gestantes negras (53,1% pardas e 14,3% pretas) e naquelas com idades entre 20 e 29 anos, que somaram 51,0% dos casos.

Finalmente, os dados de mortalidade por Aids em 2023 indicam 10.338 óbitos. Conforme os registros, 63% dessas mortes ocorreram entre pessoas negras (48,0% pardos e 15,0% pretos), enquanto 34,9% afetaram pessoas brancas. A razão de sexos dos óbitos revela uma desproporção alarmante: para cada dez mortes entre mulheres, ocorreram 21 óbitos entre homens, o que evidencia disparidades significativas na progressão da doença e no acesso aos cuidados.