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Militares presos por golpe mostram “amadurecimento democrático”, diz UnB

Prisão inédita de militares e ex-presidente por trama golpista revela amadurecimento democrático no Brasil, segundo historiador da UnB.
Militares presos amadurecimento democracia
Foto: Frame TV Brasil

O Brasil testemunha um evento histórico para sua estrutura democrática com o início do cumprimento de prisão de oficiais-generais e um ex-presidente, condenados por envolvimento direto em uma conspiração golpista. Esse acontecimento sem precedentes, na avaliação do professor de história Mateus Gamba Torres, da Universidade de Brasília (UnB), representa um notável “amadurecimento da democracia” no país. Ele detalhou sua análise em uma entrevista concedida ao telejornal Repórter Brasil, transmitida pela TV Brasil nesta última quarta-feira (26).

Avanço Democrático e o Ineditismo das Prisões

Entre os detidos estão o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é um capitão da reserva do Exército, e os generais Augusto Heleno Pereira, Paulo Sergio Nogueira e Walter Braga Netto, além do almirante Almir Garnier. Essas prisões marcam um ponto de inflexão na história brasileira, pois é a primeira vez que militares são efetivamente encarcerados por participação direta em uma articulação com propósitos golpistas. Em virtude dessas condenações, os oficiais também deverão ser alvo de um processo que poderá resultar na perda de suas patentes, com julgamento a cargo do Superior Tribunal Militar (STM). Além disso, o professor Mateus Torres destacou à TV Brasil que, após quatro décadas do processo de redemocratização, o Brasil tem trilhado um caminho de notável consolidação de seu sistema de governo.

A Consolidação Democrática na Perspectiva Histórica

Conforme a análise de Mateus Torres, mesmo que, em outros momentos da República, militares tivessem tentado golpes, a realidade política atual é bastante diferente. O pesquisador da UnB enfatiza que, na democracia brasileira contemporânea, tais tentativas não encontram mais aceitação institucional ou social. De fato, o contexto atual reflete um sistema de governo robusto e resiliente, que rejeita categoricamente movimentos que atentem contra sua ordem. Além disso, a capacidade das instituições de agir e responsabilizar os envolvidos demonstra uma força democrática que não existia no passado. Ele pontua que esse cenário de responsabilização é um termômetro do vigor do Estado de Direito.

Anistia para Golpistas: Um Debate Contra a Impunidade

Por outro lado, em relação às propostas de anistia para os indivíduos condenados por atos golpistas, o professor Torres recorda que solicitações semelhantes tiveram sucesso em outras fases da história do Brasil. Entretanto, ele veementemente discorda da premissa de que um possível perdão possa efetivamente pacificar a nação ou diminuir a polarização política. Na visão do historiador, “a anistia não apazigua nada; ela varre a sujeira para debaixo do tapete”, conforme ele expressou, alertando para o risco de impunidade para golpistas em tais circunstâncias. Ele faz uma ponte com a história ao lembrar que, em 1979, torturadores foram anistiados, o que gerou consequências duradouras para a justiça.

Portanto, Torres argumenta que, em razão daquela legislação de 1979, ainda hoje perdura uma luta por uma justiça de transição verdadeiramente eficaz, que priorize a memória, a justiça e a verdade. Por conseguinte, o pesquisador da UnB defende que a recente decisão judicial não apenas reafirma a solidez do Estado Democrático de Direito internamente, mas também fortalece significativamente a percepção positiva que outras nações têm do Brasil. Essa ação, portanto, é vista como um sinal claro de que o país está comprometido com a responsabilização e a manutenção da ordem democrática, impactando sua credibilidade internacional.

A Perda do Oficialato e a Dignidade Institucional

Ademais, o professor considera de importância histórica a possibilidade de os militares condenados perderem suas patentes em um processo conduzido pelo Superior Tribunal Militar, após terem sido condenados pela Justiça civil. Nesse sentido, ele sublinha a gravidade de suas ações, afirmando que “não existe nada mais indigno do que se colocar contra a nossa democracia”. Apesar do conhecido corporativismo presente nas Forças Armadas, Torres acredita que o momento atual se mostra propício para que essa perda de patentes realmente se concretize, como ele mencionou ao Repórter Brasil. A sociedade e as instituições, afinal, esperam que haja uma resposta à altura da ameaça que foi representada, reafirmando os valores republicanos.

Em suma, a prisão de militares e de um ex-presidente por envolvimento em um plano golpista, somada à perspectiva da perda de suas patentes, representa um divisor de águas na democracia brasileira. Esse conjunto de eventos, na avaliação do professor Mateus Gamba Torres, não apenas consolida o sistema democrático após décadas de redemocratização, mas também envia uma mensagem inequívoca sobre a intolerância à impunidade e a rejeição a qualquer retrocesso autoritário. É, portanto, um indicativo robusto de que a democracia brasileira não apenas amadureceu, mas também está disposta a defender seus pilares fundamentais com rigor e determinação.