Milhares de mulheres negras de todas as regiões do Brasil convergiram para Brasília nesta terça-feira, 25 de novembro, para a Segunda Marcha de Mulheres Negras. O evento reforça veementemente a exigência por reparação histórica, igualdade racial e o direito fundamental ao bem viver, pautando assim os direitos essenciais deste segmento crucial da população brasileira.
A Reivindicação por Reparação e Direitos Fundamentais
A mobilização massiva na capital federal sublinha a importância da pauta de direitos para as mulheres negras. A Ministra das Mulheres, Márcia Helena Lopes, destacou a relevância demográfica deste grupo, que corresponde a 28% da população brasileira. Conforme a ministra, a luta abrange não apenas a reparação e a igualdade racial, mas também a igualdade de gênero, impactando diretamente cerca de 10 milhões de meninas e mulheres em todo o país. Nesse sentido, ela expressou o desejo de que essa marcha ecoe e se propague por todo o Brasil e pelo mundo, amplificando suas reivindicações.
Apesar do clima chuvoso em Brasília, as participantes demonstraram grande determinação, caminhando pela Esplanada dos Ministérios desde o meio-dia. A união e o engajamento reforçam a força do movimento e a urgência de suas demandas, transformando o ato em uma poderosa declaração pública.
Vozes da Mobilização: Histórias e Inspirações
A marcha se nutre das experiências e aspirações de cada participante, cujas trajetórias individuais se entrelaçam na busca por justiça e reconhecimento.
A Trajetória de Luta de Lindalva Barbosa
Lindalva Barbosa, servidora pública aposentada, viajou de Salvador (BA) para se juntar às ativistas em Brasília. Com uma trajetória de 40 anos de ativismo, ela enfatiza que as mulheres negras “marcham há séculos” em defesa da liberdade, da justiça, da saúde e, acima de tudo, pelo direito à vida digna. Lindalva afirmou sua presença na marcha com a motivação de lutar pela reparação e pelo bem viver para as mulheres negras e, consequentemente, para todo o Brasil. Ela fez questão de citar a filósofa e escritora norte-americana Angela Davis, cuja reflexão aponta que “quando as mulheres negras se movimentam, toda a sociedade se movimenta”, ilustrando o impacto transformador da mobilização.
O Fortalecimento Coletivo com Ana Benedita Costa
De Recife (PE), a educadora Ana Benedita Costa, que também coordena uma escola de frevo, participou da marcha buscando fortalecimento e a energia emanada de outras mulheres. Ela ressaltou que sua presença no movimento não é apenas por si mesma, mas por todas as mulheres, reiterando o senso de solidariedade e luta coletiva. Além disso, Ana Benedita fez questão de destacar a inestimável contribuição do povo negro para a construção da cultura e da sociedade brasileira, um legado que, segundo ela, precisa ser devidamente valorizado e reconhecido. Ela acredita firmemente que as mulheres negras, unidas, têm o poder de educar não só sua própria comunidade, mas também todos que compartilham da luta antirracista.
Combate à Intolerância Religiosa e Racismo com Ednamar Almeida
A ialoxairá Ednamar Almeida, vinda de Foz do Iguaçu (PR), tem na luta contra a intolerância religiosa sua principal motivação para integrar a Marcha. Ela compartilhou a realidade vivida por mulheres de terreiro e mulheres negras, que “sentem na pele a perseguição, a injustiça, a intolerância e o racismo”, tanto em suas comunidades de fé quanto no cotidiano. Portanto, sua participação é um grito contra a discriminação e pela liberdade de crença.
Democracia e Visibilidade com Hellen Gabrielle Cunha Gomes da Silva
Hellen Gabrielle Cunha Gomes da Silva, mulher trans e moradora de Brasília, uniu-se às demais participantes acreditando que a marcha oferece visibilidade a causas importantes para toda a sociedade. Ela expressou sua participação na marcha como um ato de compartilhamento com a democracia, argumentando que a população desempenha um papel crucial nesse processo. Consequentemente, Hellen acredita que, se houvesse maior engajamento político por parte da sociedade, a situação do país como um todo seria significativamente melhor.
O Contexto Histórico da Marcha
A nova edição da Marcha das Mulheres Negras ganha destaque especialmente no mês de novembro, quando se celebra o Dia Nacional da Consciência Negra, em 20 de novembro. Este ano marca um momento significativo, pois o evento ocorre dez anos após a histórica primeira marcha.
A primeira edição, realizada em 18 de novembro de 2015, reuniu mais de 100 mil mulheres negras em Brasília. Naquela ocasião, as demandas eram claras e abrangentes, posicionando-se contra o racismo, a violência direcionada à juventude negra, a violência doméstica e o feminicídio, que vitimam desproporcionalmente essas mulheres. Além disso, a marcha inaugural já levantava a bandeira do bem viver, rejeitando a mera sobrevivência e clamando por uma existência plena e com dignidade para todas.



