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PL Antifacção: Relator no Senado garante que PF não perderá recursos

Senador Alessandro Vieira, relator do PL Antifacção no Senado, garante nesta quarta (19) que a Polícia Federal não perderá recursos em seu relatório, apesar de considerar o texto da Câmara adequado.
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Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

O senador Alessandro Vieira (MDB-SE), relator designado para o Projeto de Lei (PL) Antifacção no Senado, assegurou nesta quarta-feira (19) que o seu parecer não acarretará em qualquer redução nos recursos destinados à Polícia Federal (PF). Essa garantia surge em um cenário onde o texto aprovado pela Câmara dos Deputados, embora considerado adequado em seu mérito pelo parlamentar, levantou preocupações do governo federal quanto ao financiamento da instituição.

Debate e Adequação do Projeto na Visão do Relator

Nomeado para conduzir a análise do PL Antifacção na Casa Alta, o senador Alessandro Vieira comunicou à Agência Brasil que, apesar de reconhecer a essência do texto vindo da Câmara como apropriada, seu foco principal será resguardar a capacidade operacional da Polícia Federal. “Estamos analisando a formatação, mas adiantamos que não haverá nenhum tipo de corte no financiamento da Polícia Federal, um órgão crucial para o Brasil”, enfatizou o senador, descartando, assim, as apreensões sobre o enfraquecimento da corporação.

A proposta, que já havia sido aprovada na Câmara dos Deputados, com um substitutivo apresentado pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), gerou críticas do Executivo. O governo apontou que o projeto alterava os critérios de distribuição de verbas apreendidas do crime organizado, o que, consequentemente, poderia subtrair recursos vitais da PF. Entretanto, Vieira pondera que as potenciais modificações que serão introduzidas se referem mais a ajustes de “forma” do que à essência do conteúdo.

“É fundamental verificar os ajustes formais; no mérito, o projeto está alinhado com o que o colegiado do Senado compreende como endurecimento penal e na execução das penas. Contudo, é imprescindível uma análise mais apurada quanto à forma e à constitucionalidade de determinados pontos”, explicou o senador, reforçando a necessidade de um crivo rigoroso, mas sem alterar a espinha dorsal da medida.

Próximos Passos e Impacto do PL Antifacção

No que tange à tramitação, Alessandro Vieira informou que o Senado Federal promoverá uma audiência pública na próxima semana, com o intuito de debater amplamente o projeto. Subsequentemente, o texto será submetido à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, posteriormente, ao plenário da Casa. Caso o PL sofra quaisquer alterações significativas no Senado, a proposição retornará à Câmara para uma nova revisão, seguindo o rito legislativo.

Originalmente encaminhado pelo Executivo ao Congresso Nacional, o Projeto de Lei Antifacção passou por diversas modificações enquanto tramitava na Câmara. Entre as principais mudanças, destaca-se o aumento das penas para integrantes de facções criminosas ou milícias, que podem variar de 20 a 40 anos de reclusão, podendo alcançar até 66 anos para os líderes dessas organizações criminosas. Além disso, o texto aprovado na Câmara estabelece que membros de facções devem cumprir, no mínimo, 85% da pena para ter direito à progressão de regime. O projeto também proíbe expressamente a concessão de graça, anistia, indulto ou liberdade condicional para indivíduos envolvidos com essas estruturas criminosas, endurecendo significativamente a legislação vigente.

A Escolha Estratégica do Relator no Senado

A seleção de Alessandro Vieira como relator do PL Antifacção, realizada na terça-feira (18) pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), foi uma decisão estratégica. Alcolumbre justificou sua escolha afirmando a intenção de “proteger” o debate sobre o tema dentro do Senado, evitando a polarização observada na Câmara dos Deputados entre situação e oposição. “Minha intenção era resguardar este projeto do debate acalorado que, infelizmente, presenciamos na Câmara dos Deputados. Proteger este projeto e o relatório significa, na verdade, defender os cidadãos brasileiros”, declarou Alcolumbre.

Adicionalmente, o presidente do Senado revelou que outros senadores, como Sérgio Moro (União-PR) e Flávio Bolsonaro (PL-RJ), haviam manifestado interesse em relatar o PL. No entanto, sua preferência recaiu sobre Alessandro Vieira, amplamente reconhecido por seu perfil mais independente, distanciado tanto do governo quanto da oposição. Conforme Alcolumbre, a vasta experiência de Vieira em sua carreira policial em Sergipe, bem como sua dedicação pessoal ao combate ao crime organizado, desde as suas origens no estado, foram fatores determinantes para a sua nomeação. O líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), também celebrou a decisão, expressando que “é a melhor decisão possível. Ele é a pessoa mais qualificada e experiente que temos aqui no combate ao crime organizado.”

Atritos e Recuos Durante a Tramitação na Câmara

Em contraste com a escolha do relator no Senado, a indicação do secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, para relatar o PL Antifacção na Câmara, gerou consideráveis atritos. Partidos governistas reclamaram que a escolha de Derrite “contaminou” o debate, provocando tensões com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Inicialmente, a primeira versão do relatório de Derrite previa uma cláusula que submeteria as ações da PF contra o crime organizado a um pedido formal do governador, o que foi imediatamente interpretado como uma grave limitação à autonomia e à atuação da instituição.

Após uma enxurrada de críticas, o relator Derrite recuou e removeu essa previsão controversa de seu texto. Consequentemente, o relatório sofreu múltiplas modificações, culminando em um total de cinco versões distintas antes de ser finalmente aprovado, demonstrando a complexidade e a controvérsia em torno do tema durante a sua tramitação na Câmara.

Diálogo Interpoderes no Pós-Aprovação

No dia seguinte à aprovação do PL Antifacção na Câmara, os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin; do Senado, Davi Alcolumbre; e da Câmara, Hugo Motta, reuniram-se na residência oficial do Senado. O encontro teve como objetivo principal discutir medidas e estratégias para o enfrentamento do crime organizado no país. Em uma nota divulgada, Alcolumbre destacou a importância do diálogo contínuo entre os Poderes. “O diálogo permanente e responsável entre os Poderes é crucial para que possamos avançar, com agilidade e equilíbrio, na análise das propostas que impactam diretamente o sistema de justiça e, por conseguinte, a vida dos brasileiros e das brasileiras”, afirmou, ressaltando a necessidade de cooperação institucional em temas de tamanha relevância nacional.