Edição Brasília

Flup inicia no Rio com homenagem inédita a Conceição Evaristo e Frantz Fanon

A 15ª Flup inicia no Rio em 19 de novembro com homenagens inéditas a Conceição Evaristo e Frantz Fanon, celebrando o legado cultural negro.
Flup homenagens Evaristo Fanon
Foto: FLUP/Divulgação

A Festa Literária das Periferias (Flup) se prepara para sua 15ª edição no Rio de Janeiro, com início marcado para 19 de novembro. Este ano, o evento promete uma celebração singular do legado cultural negro, prestando homenagens inéditas à escritora Conceição Evaristo e ao intelectual Frantz Fanon. O festival adota o tema “Ideias para Reencantar o Mundo: Escrevivências, Sonhos e Batidões”, que enfatiza a rica herança política e cultural do Caribe e suas profundas reverberações na diáspora africana, especialmente no Brasil.

Abertura e Localização

A 15ª Flup acontecerá em dois períodos distintos: de 19 a 23 de novembro e, posteriormente, de 27 a 30 de novembro. O local escolhido para sediar as atividades é o icônico Viaduto de Madureira, situado na zona norte da capital fluminense. O propósito primordial da festa, além de exaltar a literatura, é fomentar a interação e o diálogo entre renomadas figuras do universo literário e as comunidades em regiões periféricas da cidade, democratizando o acesso à cultura e ao saber.

Nesse sentido, a Flup se posiciona como um ponto de encontro crucial, permitindo que moradores de áreas historicamente marginalizadas participem ativamente de debates e celebrações literárias. Ademais, essa iniciativa visa descentralizar os eventos culturais, levando-os para mais perto do público.

Homenagem a Conceição Evaristo: A Voz da Escrevivência

A escritora Conceição Evaristo será o grande destaque desta edição, recebendo uma homenagem sem precedentes. Reconhecida por desenvolver o conceito de “Escrevivência”, a autora transforma experiências pessoais em vigorosas narrativas coletivas que ecoam a realidade da comunidade afro-brasileira. Este ano marca a primeira vez que a Flup decide homenagear um escritor em vida, conferindo um caráter ainda mais especial à celebração de sua obra e impacto.

A escolha de Evaristo reflete o compromisso do festival em valorizar vozes potentes que, por meio da literatura, denunciam injustiças sociais e promovem a resiliência. Consequentemente, sua presença inspira novos talentos e reafirma a importância da representatividade na cultura.

Frantz Fanon: Legado Anticolonial em Destaque

Complementando as homenagens, a Flup também organizará uma exposição dedicada à vida, à produção intelectual e ao legado duradouro de Frantz Fanon. Médico psiquiatra e filósofo político afro-caribenho, Fanon foi um militante incansável e um intelectual anticolonial e antirracista. Suas obras, portanto, são notáveis pela crítica contundente aos sistemas racistas, à burguesia europeia e à hegemonia do pensamento colonial, influenciando profundamente movimentos de libertação em todo o mundo.

A mostra detalhará a trajetória de Fanon, explorando as ideias que o tornaram uma referência incontornável nos estudos sobre colonialismo e racismo. Além disso, a iniciativa busca contextualizar suas teorias, demonstrando a pertinência de seu pensamento para as discussões contemporâneas sobre identidade e opressão.

Diálogo entre Gerações e Inovação Digital

Um dos momentos mais aguardados da programação é a mesa de debates intitulada “O Sonho de Nossos Heróis, que Precisamos Manter Vivo”. Neste painel, Conceição Evaristo se encontrará com Mireille Fanon, filha do ilustre filósofo. Ambas discutirão as complexas trajetórias das lutas sociais tanto no Brasil quanto no Caribe, além de explorar as figuras que lideraram esses movimentos históricos. Esse diálogo promete enriquecer a compreensão sobre a resistência e a busca por justiça.

Adicionalmente, a intervenção “Códigos Negros” se inspira diretamente no clássico “Os Condenados da Terra”, de Fanon, para a criação de obras digitais inovadoras. Estas serão exibidas em grandiosos telões de LED ao longo do evento. A exposição resulta de uma colaboração entre a organização Olabi e os artistas Guilherme Bretas, Ilka Cyana, Poliana Feulo e Walter Mauro, que empregam recursos de inteligência artificial e outras tecnologias avançadas de geração de vídeo e imagem.

Em relação a essa intervenção, Silvana Bahia, curadora do projeto e codiretora executiva do Olabi, destaca a atualidade do pensador. “O pensamento de Fanon permanece extremamente pertinente e urgente, inclusive para pautar uma discussão sobre tecnologia”, afirmou. Ela ressalta que a proposta de descolonização, a experiência da pessoa colonizada e os impactos de uma estrutura racista e misógina na vida dos indivíduos são aspectos atuais das ideias de Fanon, explorados na intervenção por meio de ferramentas digitais.

O Valor Social e o Reconhecimento Duradouro da Flup

Com uma história que se estende por 12 anos no Rio de Janeiro, a Flup se consolidou como um agente de transformação social. A festa já passou por diversas comunidades, incluindo Morro dos Prazeres, Vigário Geral, Mangueira, Babilônia, Vidigal, Cidade de Deus, Maré, Biblioteca Parque, Museu de Arte do Rio (MAR), na Praça Mauá, e Morro da Providência, sempre promovendo a integração através de ricas experiências culturais e literárias.

Por conseguinte, o trabalho persistente da Flup obteve reconhecimento em múltiplos setores. A iniciativa foi laureada com prêmios importantes, como os do jornal O Globo em 2012, o Awards for Excellence da London Book Fair em 2016, e o renomado prêmio Jabuti na categoria Fomento à Leitura em 2020. Em um marco significativo, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro declarou a Flup patrimônio imaterial em 2023, solidificando seu status e importância cultural.

Além dos festivais abertos ao público, a organização da Flup também se dedica a promover processos formativos para novos escritores. Desse modo, ela já contribuiu para o lançamento de mais de 30 livros no mercado editorial, impulsionando a carreira de diversos autores e enriquecendo o cenário literário brasileiro.