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Lula vê PL Antifacção enfraquecido e pede análise responsável ao Senado

O presidente Lula criticou nesta quarta (19) o PL Antifacção aprovado pela Câmara, alegando que o texto enfraquece o combate ao crime organizado, e apelou ao Senado por uma análise responsável.
Lula critica PL Antifacção Senado
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou, nesta quarta-feira (19), severas críticas ao Projeto de Lei (PL) Antifacção, recém-aprovado pela Câmara dos Deputados. De acordo com o mandatário, o texto, em sua forma atual, enfraquece significativamente o combate ao crime organizado no país. Dessa forma, Lula fez um apelo direto ao Senado Federal, solicitando uma análise responsável e pautada no diálogo para que o Brasil possa, de fato, ter instrumentos eficazes contra as facções criminosas.

Críticas Presidenciais e a Necessidade de Leis Firmes

Em uma publicação nas redes sociais, o presidente Lula destacou sua profunda preocupação com as modificações realizadas pelos deputados. Ele argumentou que as alterações desvirtuaram a proposta original enviada pelo governo, gerando insegurança jurídica e, consequentemente, beneficiando aqueles que buscam escapar da lei. “Precisamos de leis firmes e seguras para combater o crime organizado. O projeto aprovado ontem pela Câmara alterou pontos centrais do PL Antifacção que nosso governo apresentou”, afirmou Lula. Conforme o presidente, trocar o que era certo por algo duvidoso apenas compromete a eficácia da legislação e a capacidade do Estado de agir.

Além disso, o chefe do Executivo reiterou o compromisso de sua administração com o fortalecimento das forças de segurança. Nesse sentido, ele mencionou o aprimoramento da Polícia Federal, a promoção de uma maior integração entre os órgãos de segurança pública e a ampliação do trabalho de inteligência. Tais medidas, segundo Lula, são cruciais para enfrentar as complexas estruturas de financiamento das facções criminosas e desmantelar suas operações de forma efetiva.

A Aprovação na Câmara e as Mudanças no Projeto

A Câmara dos Deputados, por sua vez, aprovou o texto do PL Antifacção (PL 5582/2025) na noite da última terça-feira (18), com um placar expressivo de 370 votos favoráveis contra 110 contrários. Os parlamentares acataram a versão apresentada pelo relator, deputado Guilherme Derrite (PP-SP), que promoveu diversas modificações em relação à proposta inicialmente encaminhada pelo Poder Executivo. É importante notar que o relator havia apresentado, até então, ao menos cinco versões do relatório, evidenciando as intensas negociações e divergências durante o complexo processo legislativo.

O projeto aprovado contempla penas mais rigorosas para os integrantes de facções criminosas, bem como a apreensão de bens de investigados. No entanto, um dos pontos mais controversos do texto é a criação da definição de “organização criminosa ultraviolenta”. Esta inclusão gerou críticas significativas, inclusive do próprio governo, que alertou para a possibilidade de um “caos jurídico”. Segundo especialistas, a introdução de um novo tipo criminal poderia complicar sobremaneira os processos judiciais, potencialmente resultando em benefícios indevidos para os criminosos, ao invés de fortalecer o combate.

A Reação da Presidência da Câmara

Posteriormente às declarações do presidente Lula, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), também utilizou as redes sociais para se manifestar sobre o assunto. Motta refutou as críticas, alegando que não se pode disseminar desinformação à população com “inverdades”. Para ele, o governo optou por um “caminho errado” durante as negociações em torno da redação final do projeto, recusando-se a compor um consenso.

Anteriormente à votação, deputados da base governista tentaram, inclusive, que o projeto fosse retirado da pauta, argumentando que o texto original havia sido completamente desconfigurado. Entretanto, Hugo Motta manteve a votação, defendendo que o projeto representava a resposta “mais dura” e eficaz da história da Câmara no enfrentamento ao crime organizado. Ele reconheceu que a proposta original do governo federal continha pontos positivos, mas enfatizou a necessidade de integrar perspectivas de outros setores e bancadas para enriquecer o texto e torná-lo mais abrangente.

Adicionalmente, Motta criticou veementemente a tentativa de distorcer os efeitos de um “Marco Legal de Combate ao Crime Organizado”, cuja finalidade é, na sua visão, fortalecer a capacidade do Estado em segurança pública. “Não vamos enfrentar a violência das ruas com falsas narrativas. Precisamos estar unidos neste momento”, escreveu Motta, reiterando seu apelo por união e condenando a postura do governo em não se juntar a essa corrente para combater a criminalidade de maneira coesa.

Próximos Passos: Análise no Senado

Portanto, com a aprovação na Câmara e o intenso debate público entre os poderes Executivo e Legislativo, o PL Antifacção agora segue para análise no Senado Federal. A expectativa é que os senadores conduzam uma revisão minuciosa, ponderando as diferentes visões e buscando um consenso que fortaleça, de fato, os mecanismos de segurança pública e o combate às organizações criminosas, sem gerar insegurança jurídica ou fragilizar a legislação existente. O processo promete ser acompanhado de perto por diversos setores da sociedade.