Edição Brasília

MiniCops na COP30: Crianças debatem futuro e cobram ação climática

Em dia temático na COP30 em Belém (PA), crianças e jovens MiniCops debateram o futuro e cobraram ações climáticas urgentes de líderes globais.
MiniCops COP30 Belém
Foto: Fabíola Sinimbú/Agência Brasil

Crianças e jovens, os autoproclamados “MiniCops”, protagonizaram um dia temático na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém do Pará, na última segunda-feira (17). Eles defenderam ativamente seu futuro e exigiram ações climáticas imediatas e decisivas de líderes globais, trazendo uma perspectiva única e urgente aos debates.

A Voz da Próxima Geração na COP30

Os corredores da COP30, em Belém do Pará, foram preenchidos pela presença vibrante de crianças e adolescentes. Este dia especial, inteiramente dedicado a eles, transformou a dinâmica dos debates e negociações, oferecendo uma nova e urgente perspectiva: a dos futuros cidadãos que mais sentirão os impactos das decisões tomadas hoje sobre o clima.

Uma dessas jovens vozes é Sofia de Oliveira, de 15 anos, de São Paulo. Ela expressa uma preocupação profunda: “Se não alcançarmos as metas necessárias, o planeta se deteriorará, e nós, crianças, seremos privados de um futuro que realmente desejamos, um futuro de paz entre as pessoas e a natureza.” Sua fala ressalta a ligação intrínseca entre a saúde do planeta e a qualidade de vida das gerações vindouras, enfatizando a urgência da situação.

Impactos Globais e Ações Locais

Do outro lado do Atlântico, na Tanzânia, vive Georgia Magessa, uma menina de 11 anos que também está em Belém para a COP30. Ela compreende a urgência das mudanças climáticas de forma muito vívida e pessoal. Georgia relata que o calor extremo dificulta atividades cotidianas: “As altas temperaturas impedem que as crianças brinquem ao ar livre, e em casos de calor intenso, o acesso à escola se torna um desafio ainda maior para muitas, especialmente as mais vulneráveis ou com deficiência, como as cegas. Portanto, os jovens são afetados de diversas maneiras.”

Diante desses desafios e da percepção de que a ação era crucial, Georgia decidiu agir proativamente. Em vez de aguardar passivamente por intervenções de líderes e governos, ela fundou uma organização dedicada a mobilizar outras crianças. Seu objetivo é engajá-las em iniciativas climáticas diretas em suas comunidades. Ela explica: “Assim, eu e outras crianças nos dedicamos a plantar árvores, limpar praias e, consequentemente, preservar o meio ambiente local, fazendo a nossa parte.”

Na Amazônia brasileira, André da Luz, de 17 anos, compartilha uma percepção semelhante sobre as alterações ambientais. Criado entre Belém e Cametá, no interior do Pará, ele testemunhou de perto as mudanças nos padrões naturais. Consequentemente, André observa: “Em Belém, o regime de chuvas amazônicas sofreu alterações significativas. Há uma década, as chuvas ocorriam em períodos e horários muito mais definidos. Porém, agora, essa regularidade se perdeu consideravelmente. Além disso, percebemos períodos de calor ou frio muito mais intensos e uma quantidade de chuva bem maior do que antes.”

O Movimento MiniCops: Engajamento Jovem na COP30

Sofia, Georgia e André são parte integrante do movimento MiniCops, uma iniciativa estratégica lançada pela presidência da COP30. Este programa foi concebido para assegurar a participação ativa de crianças e adolescentes no complexo processo multilateral da conferência, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e consideradas.

A proposta original veio do Instituto Alana, uma organização social focada na infância, e foi integrada à estrutura do Balanço Ético Global, que facilita a participação da sociedade civil na conferência. JP Amaral, gestor de Natureza do Instituto Alana, enfatiza a seriedade do engajamento: “Estamos cumprindo um compromisso da presidência brasileira da COP30 de realizar um processo de escuta contínuo ao longo de um ano, garantindo que as vozes das crianças sejam trazidas para este espaço. Não se trata apenas de uma oportunidade para fotos, mas de uma representatividade e participação genuínas no processo decisório, o que é fundamental para a legitimidade das discussões.”

Impacto e o Caminho a Seguir

Na prática, esses jovens ativistas atuam por meio de uma constituinte de crianças e adolescentes, sob a liderança de Marcele Oliveira, a campeã da juventude para a COP30. Ademais, essa participação ativa já demonstra resultados concretos nos processos de formulação de políticas climáticas.

Um estudo conduzido pelo Instituto Alana analisou como a infância foi mencionada nos compromissos resultantes de COPs anteriores. A pesquisa revelou que, até a COP16, as crianças foram consideradas em decisões apenas duas vezes. Contudo, nos últimos seis anos, houve um salto impressionante para 77 menções. Amaral explica: “Isso evidencia o avanço do tema e como as menções se tornam cada vez mais estratégicas, incorporando textos de negociações que impactam diretamente a vida das crianças, o que é um grande passo para a inclusão.”

Apesar desse progresso notável, tanto a campeã climática da juventude quanto o gestor do Instituto Alana concordam que ainda há um longo caminho a percorrer. Eles expressam a expectativa de que a COP30 resulte em um texto que coloque a consideração das crianças como primordial. Além disso, desejam que a linguagem, conforme estabelecido na Convenção dos Direitos das Crianças, seja reconhecida e aplicada de forma transversal em todas as deliberações. Isso inclui temas cruciais como transição justa, questões de gênero e indicadores de adaptação, garantindo que o futuro das próximas gerações esteja no centro de cada decisão, promovendo uma governança climática mais equitativa e sustentável.