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Peças pré-colombianas do Marajó ganham vida em 3D na PUC-RJ

PUC-RJ digitaliza 47 artefatos pré-colombianos do Museu do Marajó em 3D, permitindo reconstrução virtual e acesso futuro à cultura marajoara.
digitalização peças marajó 3d
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Peças arqueológicas pré-colombianas da Ilha do Marajó, que representam um legado cultural de valor inestimável, estão sendo revitalizadas e preservadas através de uma iniciativa pioneira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). O projeto, focado na digitalização em 3D de artefatos do Museu do Marajó, visa não apenas documentar, mas também reconstruir virtualmente e garantir o acesso futuro a essa rica herança marajoara. Ao todo, 47 itens, incluindo vasos, urnas funerárias e outras cerâmicas de importância histórica, foram meticulosamente catalogados e transformados em modelos tridimensionais. Além disso, a tecnologia tem sido empregada para a reconstituição virtual de peças danificadas ou incompletas, permitindo uma visualização fidedigna de como elas eram em sua forma original.

Preservação e Acesso à Cultura Marajoara

O professor Jorge Lopes, que lidera o Biodesign Lab da PUC-RJ e é o responsável por esta empreitada, destaca a importância fundamental dos arquivos digitais. Ele explica que a digitalização possibilita a recriação virtual dos artefatos, um recurso essencial caso surjam necessidades de restauração física ou para fins de estudo. Mais do que isso, a iniciativa assegura que as futuras gerações possam conhecer e se conectar com a complexa e sofisticada cultura marajoara. Conforme salientou Lopes, algumas das peças digitalizadas já estão disponíveis em realidade aumentada, permitindo que sejam remontadas e exploradas digitalmente. Adicionalmente, os arquivos matemáticos gerados possibilitam a impressão em 3D, abrindo ainda mais caminhos para a interação, seja por meio de realidade aumentada ou realidade virtual.

A expertise de Jorge Lopes nesta área é notória, acumulando cerca de duas décadas de experiência em digitalização de acervos. Anteriormente, ele colaborou na digitalização de peças do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Essa vasta experiência foi crucial para o sucesso do projeto, especialmente considerando que a catalogação digital auxiliou na recuperação de informações sobre artefatos perdidos no trágico incêndio de 2018. Agora, esse conhecimento está sendo replicado e aplicado em Cachoeira do Arari, na Ilha do Marajó, um local de imensa importância histórica e cultural.

A Ilha do Marajó, situada no estado do Pará, na região Norte do Brasil, ostenta a distinção de ser o maior arquipélago flúvio-marítimo do mundo. Estudos apontam que a cultura marajoara se destacou como uma das mais avançadas entre as civilizações brasileiras pré-colombianas. Sua notoriedade reside na notável complexidade de suas produções em cerâmica, que abrangiam tanto artefatos de uso cotidiano quanto peças com propósitos ritualísticos e simbólicos.

Metodologia de Digitalização e Desafios

Digitalização das Peças

A metodologia empregada no projeto combina escaneamento 3D de alta resolução com técnicas de realidade aumentada. A equipe da PUC-RJ realizou visitas presenciais ao Museu do Marajó, onde cada peça foi cuidadosamente escaneada individualmente a partir de múltiplos ângulos. Posteriormente, um software especializado processa essas informações, transformando-as em arquivos digitais brutos e manipuláveis. Estes arquivos passam por um processo de refinamento, ou “polimento”, até que a representação digital se torne indistinguível do objeto original em termos de forma, textura e cor.

Gerson Ribeiro, especialista em escaneamento 3D do Biodesign Lab, descreveu os desafios enfrentados durante o processo. O principal obstáculo residia em capturar com precisão os detalhes intrínsecos das peças, como sua textura, nuances de cor e o volume tridimensional, assegurando que fossem fielmente transpostos para o modelo digital. Ele comparou o funcionamento do escaneamento ao do olho humano, observando que, assim como o olho, o scanner não consegue captar o que está obstruído. Deste modo, obstáculos físicos diretos poderiam comprometer a fidelidade da captura.

Um dos desafios particulares mencionados por Ribeiro foi a impossibilidade de mover os maiores artefatos do acervo, como grandes vasos e urnas funerárias. Essa limitação impôs dificuldades operacionais para os equipamentos de scanner e para a técnica de fotogrametria. A fotogrametria, explicou Ribeiro, envolve a captura de inúmeras fotografias de um objeto a partir de diferentes perspectivas. Um software então analisa essas imagens, cruzando pontos de referência e calculando a profundidade com base nas variações entre as fotos.

Para superar essas barreiras, a equipe utilizou diferentes tecnologias de escaneamento. Foi empregado um scanner de luz infravermelha menor, ideal para objetos de dimensões reduzidas. Contudo, o principal instrumento utilizado para a maioria das peças foi um scanner de luz branca, reconhecido por sua alta precisão. Essa tecnologia, além de capturar a forma com exatidão, também preserva a textura e as cores originais do objeto, garantindo uma representação digital rica em detalhes.

Projeto Amazonizar e Impacto Social

Amazonizar

A digitalização do Museu do Marajó representa uma vertente fundamental do projeto “Amazonizar”, uma iniciativa abrangente da PUC-RJ dedicada a consolidar e divulgar as ações da universidade voltadas para a região amazônica e suas questões ambientais e culturais. Em colaboração com a prefeitura de Cachoeira do Arari, a universidade tem promovido pesquisas focadas na conservação da cultura marajoara. Paralelamente, o projeto “Amazonizar” engloba ações de desenvolvimento profissional e social.

Em um esforço para capacitar a comunidade local, foram oferecidas oficinas de empreendedorismo para as artesãs bordadeiras do município. Além disso, jovens de comunidades próximas receberam aulas de tecnologia, com o objetivo de ampliar suas oportunidades e conhecimentos. Este intercâmbio de saberes e habilidades visa fortalecer a economia local e preservar as tradições culturais da região.

A Professora Jackeline Lima Farbiarz, Vice-reitora de Extensão e Estratégia Pedagógica da PUC-RJ, ressaltou a ambição do “meta-projeto Amazonizar”. Ela declarou que o projeto busca simultaneamente trazer a Amazônia para o centro dos debates acadêmicos e científicos da PUC-Rio e levar a universidade para a região amazônica. O objetivo é duplo: sensibilizar a comunidade acadêmica para a relevância da Amazônia e gerar conhecimento que possa ser amplamente compartilhado, promovendo um impacto positivo e duradouro.