A ativista palestina Salma Barakat, em declarações proferidas durante eventos paralelos à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém, fez um apelo contundente por justiça climática, ao mesmo tempo em que denunciou as ações do governo de Israel. Barakat, que lidera o movimento Stop the Wall (Pare o Muro) há duas décadas, estabeleceu conexões claras entre a crise ambiental e a ocupação territorial, destacando as violações de direitos humanos sofridas pelo povo palestino e ressaltando paralelismos com as lutas de povos indígenas.
Denúncia contra o Muro e Ocupação
Salma Barakat, residente em Jerusalém – parte oriental cuja anexação por Israel não é reconhecida pela ONU –, explicou que a principal bandeira do Stop the Wall é a luta contra a construção do muro que, segundo ela, fragmenta a população palestina e a separa de Israel. A mensagem central levada para os fóruns de discussão é a recusa à ocupação, à colonização e ao que ela descreveu como o “genocídio que está acontecendo em Gaza”. Ela traçou um paralelo entre o muro palestino e outras barreiras físicas erguidas ao redor do mundo, como a existente entre o México e os Estados Unidos, enfatizando a natureza de movimento popular e de base que o Stop the Wall representa.
Ademais, Barakat estendeu essa crítica a todas as formas de colonização, não se limitando apenas à situação palestina. Ela condenou a exploração colonial em países africanos, na América Latina e em outras regiões, reforçando a ideia de um movimento global contra a dominação territorial. Consequentemente, o movimento busca o fim de qualquer tentativa de implantação de colônias em qualquer parte do globo, o que demonstra uma visão ampla e interconectada de justiça social e territorial.
Conflito de Narrativas e Percepções
Questionada sobre como o movimento é percebido em Jerusalém e Israel, Salma Barakat apontou para uma profunda dissonância. Ela afirmou que Israel não reconhece o ato de colonizar, mas sim se considera o legítimo proprietário da terra. Por conseguinte, todas as ações do Stop the Wall são categorizadas por Israel como atos de terrorismo, acompanhadas de diversas acusações. O cerne do problema, na perspectiva da ativista, reside na recusa israelense em reconhecer os palestinos como os povos originários da terra, atribuindo essa condição a imigrantes europeus brancos.
Essa narrativa, segundo Barakat, ecoa dinâmicas históricas observadas em outras partes do mundo, como a África do Sul. Ela salientou que a justificativa para a violência contra povos colonizados sempre se baseou na ideia de inferioridade humana, uma tática que, segundo ela, se repete no contexto palestino. A forma como Israel lida com a situação em Gaza, bombardeando e vitimando civis, é descrita por ela como um reflexo dessa desumanização, onde as vítimas são retratadas como animais que precisam ser eliminados.
Justiça Climática e a Conexão com a Palestina
A ligação entre a emergência climática e a situação na Palestina foi um dos pontos centrais da intervenção de Salma Barakat. Ela destacou que, enquanto Israel se promove internacionalmente como um líder em soluções climáticas e tecnológicas verdes, suas ações na prática contradizem essa imagem. A destruição de árvores, o roubo de água e os bombardeios em Gaza são exemplos diretos de como Israel prejudica o meio ambiente e a vida palestina, privando a população de recursos essenciais como a água potável, um privilégio reservado aos israelenses.
“Israel se vende ao mundo como um país que tem soluções verdes, soluções climáticas. Eles dizem isso porque têm grandes corporações e depois divulgam ao mundo que podem oferecer essas soluções. Mas são soluções falsas.”, declarou Barakat. Ela enfatizou que as mesmas corporações que operam em Israel e contribuem para a destruição na Palestina também estão envolvidas em práticas danosas em outras regiões, como na América Latina, evidenciando uma cadeia global de exploração e impacto ambiental.
Paralelismos com as Lutas Indígenas
A ativista traçou fortes conexões entre a causa palestina e as lutas de povos indígenas, especialmente no contexto brasileiro, onde a COP30 está sendo realizada. Ao presenciar relatos de comunidades indígenas e negras no Brasil, Barakat sentiu uma afinidade pessoal e política profunda. Ela identificou um padrão comum: a negação do direito à terra por parte de grandes corporações e governos, que buscam o deslocamento forçado de povos originários de seus territórios ancestrais. A conexão espiritual e intrínseca dos povos com a terra é um ponto de convergência fundamental.
Em um plano estratégico, Barakat argumentou que a luta pelo fim do agronegócio destrutivo, da energia suja e da indústria militar na Palestina também beneficia os povos indígenas. A libertação da Palestina e a libertação dos povos indígenas são vistas como processos interdependentes. Ela também comparou as táticas de desapropriação e destruição ambiental que levam ao deslocamento forçado de indígenas com a situação em Gaza. A destruição de árvores, a contaminação da água e a consequente fome e sede impostas aos palestinos são ações que espelham a violência sofrida por comunidades indígenas.
Neste período, que marca a tradicional colheita das oliveiras na Palestina, um símbolo cultural importante, Barakat lamentou que a prática seja dificultada pela violência de colonos e soldados, que destroem árvores e roubam a produção. A participação na COP30, para Barakat e sua delegação, transcende as demandas palestinas; trata-se de construir pontes e se conectar com outros movimentos sociais. “Quando viemos para a COP30, não pensamos só nas demandas palestinas. Queremos nos conectar com pessoas. Somos um movimento popular e isso é o que importa.”, afirmou.
Estratégias para Influenciar a COP30 e Relações Internacionais
Para garantir que as vozes palestinas sejam ouvidas e resultem em ações concretas na COP30, a Coalizão Palestina elaborou uma petição solicitando a exclusão de Israel do evento. A questão levantada é como um Estado acusado de matar e deslocar palestinos pode debater justiça climática. A expectativa é que, no próximo ano, Israel não tenha mais espaço para participar da conferência, um sinal do impacto do trabalho de denúncia, pois, segundo Barakat, a delegação israelense neste ano foi menor em comparação com anos anteriores.
Além da petição, as demandas palestinas foram incluídas na Declaração dos Povos, a ser entregue à presidência da COP30. Outra frente de atuação envolve pressionar pela interrupção das relações diplomáticas e econômicas entre o Brasil e Israel. A ativista defende o fim de acordos de livre comércio e de qualquer tipo de relação econômica, argumentando que a normalização de laços significa aceitar a banalização de crimes contra a humanidade. Ela citou o caso da Colômbia como um exemplo de sucesso nessa linha e expressou confiança na capacidade do Brasil de seguir o mesmo caminho.



