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Cúpula dos Povos critica omissão de países na COP30 e defende soluções

Cúpula dos Povos abriu em Belém (PA) nesta quarta-feira (12), criticando a omissão de países na COP30 e defendendo soluções populares e a Palestina.
Cúpula dos Povos alternativas
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil.

A Cúpula dos Povos foi oficialmente aberta nesta quarta-feira (12), na cidade de Belém, Pará, marcando um evento de grande relevância. Em seu início, a Cúpula lançou críticas contundentes à omissão de diversos países no que diz respeito às discussões e preparativos para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). Além disso, a iniciativa ressaltou a importância de soluções forjadas pelas comunidades e manifestou forte apoio à causa palestina, consolidando-se como um espaço de resistência e proposição.

Críticas à COP30 e a Urgência Climática

Desde o seu lançamento, a Cúpula dos Povos sublinhou a preocupação com a falta de participação popular mais abrangente nas deliberações da COP30. Para as organizações e movimentos ali reunidos, governos e tomadores de decisão têm demonstrado inação ou, pior ainda, apresentado propostas insuficientes para lidar com a crise climática. Consequentemente, estas abordagens inadequadas colocam em xeque a crucial meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, conforme estabelecido no Acordo de Paris. Portanto, a Cúpula busca preencher essa lacuna, oferecendo uma plataforma para a sociedade civil.

O evento congrega uma impressionante rede de aproximadamente 1.300 movimentos sociais, coletivos e organizações populares oriundos de todas as partes do mundo. A programação se estenderá até o dia 16 de novembro, com atividades concentradas na Universidade Federal do Pará (UFPA), localizada às margens do Rio Guamá, em Belém. Esta vasta mobilização reflete uma resposta direta ao que os participantes descrevem como a inércia e a carência de compromisso da COP, que, mesmo em sua trigésima edição, tem revelado resultados práticos limitados e mantido as populações mais afetadas à margem das decisões.

A Força da Mobilização Popular

Ayala Ferreira, uma das integrantes da comissão organizadora da Cúpula e membro do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), destacou o planejamento cuidadoso por trás do evento. Ela explicou que, há mais de dois anos, ao tomarem conhecimento de que a COP30 seria realizada no Pará, os organizadores decidiram construir um dos maiores levantes da classe trabalhadora no Brasil, visando mobilizar trabalhadores de todo o mundo para enfrentar os desafios impostos pela conferência oficial. Por conseguinte, a Cúpula emergiu como uma alternativa vital.

A expectativa é que mais de 30 mil pessoas circulem pelos espaços da Cúpula, transformando-a em uma manifestação concreta das comunidades globais. Ainda segundo Ferreira, o movimento expandiu-se significativamente, mobilizando parceiros de diversas nacionalidades, tanto no ambiente universitário quanto em outros movimentos sociais, culminando na formação de uma ampla coalizão com mais de 1.300 representações internacionais. Ela expressou orgulho por essa articulação, salientando que a atual Cúpula dos Povos representa um esforço coletivo do campo popular para confrontar e, em certos momentos, até mesmo pressionar a COP30. Em síntese, a Cúpula é fruto da colaboração de inúmeras vozes e mãos de homens e mulheres de todo o planeta.

Diversidade de Lutas e Solidariedade Global

Antes da cerimônia de abertura, centenas de pessoas participaram de uma vibrante passeata, exibindo bandeiras em defesa das águas, manifestando-se contra a exploração por mineradoras e os combustíveis fósseis. Ademais, a diversidade dos movimentos presentes foi notória, com representações de comunidades ribeirinhas, sem-terra, quilombolas, quebradeiras de coco, atingidos por barragens, pessoas com deficiência e mulheres, que percorreram os espaços da universidade. Simultaneamente, bandeiras palestinas tremulavam por toda parte, acompanhadas de gritos enfáticos de “Palestina livre”, ecoando um forte sentimento de solidariedade internacional.

Jamal Juma, um ativista palestino, traçou um paralelo contundente, afirmando que os crimes contra a humanidade e a resistência popular persistem tanto na Palestina quanto na Amazônia. Ele denunciou que o genocídio na Palestina já se estende por dois anos, sem interrupção, e que as ações israelenses continuam, mesmo após um acordo firmado entre Israel e Hamas dois meses antes. Em suma, sua fala ressaltou a interconexão das lutas por justiça em diferentes partes do globo.

Temas e Objetivos da Cúpula

Ao longo de sua programação, a Cúpula dos Povos prevê uma série de debates cruciais. Entre os temas a serem abordados, destacam-se discussões sobre territórios e soberania alimentar, a necessidade de reparação histórica e o combate ao racismo ambiental. Igualmente relevantes são os painéis sobre transição energética justa, o enfrentamento ao extrativismo fóssil, governança participativa, democracia e o internacionalismo dos povos, cidades justas e periferias vivas, e, por fim, feminismo popular e as diversas resistências das mulheres. Portanto, a agenda é abrangente e profundamente engajada.

O propósito central, conforme expresso pelos organizadores, é “fortalecer a construção popular e convergir pautas de unidade das agendas: socioambiental, antipatriarcal, anticapitalista, anticolonialista, antirracista e de direitos, respeitando suas diversidades e especificidades, unidos por um futuro de bem-viver”. Esta visão, contida no manifesto da Cúpula dos Povos, outro importante ato de resistência climática, serve como um guia para as deliberações e ações planejadas. Em outras palavras, busca-se uma transformação sistêmica baseada na justiça e equidade.

O Desafio de Influenciar e as Soluções Populares

Ivan González, integrante da organização da Cúpula e da Confederação Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA-TUCA), refletiu sobre o árduo, porém exitoso, esforço para concretizar o evento. Ele observou que, ao contrário de grandes corporações, as pessoas comuns carecem dos recursos financeiros milionários necessários para influenciar decisões governamentais em conferências como a COP e em outros espaços de governança. Portanto, enfatizou a presença dos participantes na Cúpula como uma manifestação da defesa popular do planeta, especialmente contra um sistema capitalista que, segundo ele, explora corpos, trabalho e a própria natureza. Em sua fala, González também expressou solidariedade às lutas em Burkina Faso, Congo, Nepal, Palestina, América Latina e Caribe.

Um dos pontos cruciais destacados na Cúpula dos Povos é a constatação de que os países com poder de decisão têm falhado, seja por omissão ou pela apresentação de soluções ineficazes para a crise climática. Eles argumentam que eventos climáticos extremos – como secas, inundações e deslizamentos de terra – juntamente com as chamadas “falsas soluções climáticas”, aprofundam as desigualdades e injustiças ambientais. Tais impactos afetam desproporcionalmente os territórios e as populações mais vulneráveis. Assim sendo, a Cúpula se dedica a propor alternativas.

Um representante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) citou as cozinhas solidárias como um exemplo notável de “tecnologia popular”. Segundo ele, essas iniciativas, surgidas durante a pandemia e a gestão Bolsonaro, foram cruciais para forjar alianças em prol da agroecologia entre movimentos rurais, urbanos e indígenas. Elas se mostraram, ainda, como a resposta popular mais imediata e eficaz em situações de emergência climática, como as que resultam em milhares de desabrigados, a exemplo do ocorrido no Rio Grande do Sul. Concluiu, portanto, que a construção de tais “tecnologias populares” diretamente nos territórios emerge como a principal via para encontrar as soluções necessárias ao enfrentamento da atual crise climática.

Além dos intensos debates, a Cúpula dos Povos oferecerá uma vasta programação cultural, que incluirá a Feira dos Povos, a Casa das Sabedorias Ancestrais e inúmeras apresentações de artistas e grupos populares da Amazônia e de outras regiões do Brasil. Este componente cultural complementa a agenda política, reforçando a identidade e a resiliência das comunidades envolvidas.