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Boiuna “engole” combustíveis fósseis em ato artístico na UFPA

Em Belém, um ato artístico na UFPA usou a Boiuna como símbolo para o "Funeral dos Combustíveis Fósseis" durante a Cúpula dos Povos, denunciando seus impactos climáticos.
Boiuna engole combustíveis fósseis
Foto: Rafael Cardoso / Agência Brasil

Em Belém, um impactante ato artístico marcou a abertura da Cúpula dos Povos no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), utilizando a figura mítica da Boiuna para simbolizar o “Funeral dos Combustíveis Fósseis”. A iniciativa, ocorrida a partir de quarta-feira, 12 de novembro, teve como objetivo primordial denunciar veementemente os severos impactos climáticos resultantes do uso intensivo de energias poluentes. Desse modo, movimentos sociais e lideranças de povos tradicionais participaram ativamente de uma programação recheada de eventos e manifestações políticas, conferindo visibilidade às pautas urgentes da Amazônia.

A Simbologia da Boiuna no Funeral Fóssil

Esta particular manifestação artística foi idealizada e liderada pela professora Inês Antônia Santos Ribeiro, que atua na Escola de Teatro e Dança da UFPA e coordena o programa de extensão Alto do Círio, com forte conexão ao Círio de Nazaré. Durante o ato inaugural da Cúpula dos Povos, um grupo de participantes, interligados como um corpo de cobra gigante, encenou o “Funeral dos Combustíveis Fósseis”. Essa performance dramática tinha a intenção clara de alertar sobre os efeitos devastadores no clima, provocados pela queima de derivados de petróleo, gás natural e carvão mineral.

A Boiuna, também reverenciada como cobra grande, é um componente fundamental da riquíssima cultura amazônica. Assim, foi estrategicamente escolhida para representar a abertura de novos caminhos e fortalecer as reivindicações e lutas das comunidades tradicionais que habitam a Amazônia. A professora Inês Antônia Santos Ribeiro esclareceu a profundidade da escolha simbólica. “Nossa intenção é que a Boiuna enterre simbolicamente os combustíveis fósseis, afinal, ela reside sob Belém, sustentando a própria terra. Portanto, ela os engolirá e os levará para as profundezas”, explicou a educadora, reforçando a conexão mística e territorial da performance.

Arte como Ferramenta de Conscientização e Mobilização

Ainda assim, a professora Inês Antônia Santos Ribeiro enfatiza que a arte desempenha um papel crucial na conscientização sobre a crise climática. Através de suas diversas formas, a arte consegue recordar à sociedade que os efeitos da mudança do clima não atingem apenas a fauna e a flora, mas também as populações que vivem nos territórios mais ameaçados. Consequentemente, a mensagem transmitida ganha um peso ainda maior.

Conforme suas palavras, “a arte é inerentemente política e cultural. Por meio de seus símbolos potentes, ela é capaz de transmitir a mensagem central que almejamos: que somos vítimas de uma violência climática sistêmica. Neste território amazônico, existem vidas que dependem do sustento de nossos encantados, seres espirituais que atuam como guardiões da natureza e da floresta”, disse Inês. Além disso, ela acrescentou que os símbolos possuem uma capacidade singular de mobilizar e sensibilizar a população sem a necessidade de muitas palavras. Por conseguinte, tais manifestações trazem mensagens essenciais para a Cúpula dos Povos, instigando a necessidade urgente de frear a destruição e salvaguardar o nosso planeta para as futuras gerações.

A Cúpula dos Povos e Suas Mobilizações

A Cúpula dos Povos, evento de grande relevância, ocorreu na UFPA entre os dias 12 e 16 de novembro, funcionando como um contraponto e um espaço paralelo à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). Neste fórum, indivíduos e grupos que frequentemente não ocupam os espaços de destaque e as mesas de decisão da COP se uniram para articular forças, debater pautas e, finalmente, propor um documento colaborativo. Esse documento visa influenciar diretamente os líderes mundiais na formulação de compromissos mais robustos para o combate ao aquecimento global e à persistente injustiça climática.

O primeiro dia da Cúpula foi marcado por uma vibrante barqueata pelas águas da Baía do Guajará, uma demonstração poderosa de mobilização popular. Mais de 200 embarcações participaram deste evento, transportando cerca de 5 mil pessoas, de acordo com as estimativas dos organizadores. Na barca principal, que congregou movimentos sociais e jornalistas, povos tradicionais realizaram apresentações culturais, com músicas e poesias, ao mesmo tempo em que compartilhavam suas principais bandeiras de luta e resistência.

Na UFPA, as delegações de diversos movimentos sociais foram calorosamente recebidas, encontrando um ambiente propício para o diálogo e a troca de experiências. Em várias salas de debate, especialistas de diversas áreas compartilharam estudos aprofundados sobre temas como a transição energética e a interseccionalidade de gênero, raça, classe e território. Por outro lado, o evento também sediou uma roda de “artivismo” com foco feminista popular e antirracista, demonstrando a amplitude e a diversidade das abordagens propostas pela Cúpula dos Povos.