Paulo Frateschi, ex-deputado e figura histórica do Partido dos Trabalhadores, está sendo velado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) nesta sexta-feira (7), após seu falecimento trágico na quinta-feira (6). A causa da morte foi uma agressão a facadas perpetrada pelo próprio filho, Francisco Frateschi, em sua residência na Lapa, zona oeste da capital paulista. Familiares, amigos e notáveis figuras políticas, como o ministro Fernando Haddad, unem-se para prestar as últimas homenagens ao petista, cuja vida foi marcada pela dedicação à democracia brasileira.
Último Adeus a um Veterano Político
Desde as primeiras horas da manhã de sexta-feira, o Salão Nobre da Alesp acolhe a cerimônia fúnebre de Paulo Frateschi. Este espaço simbólico, palco de muitas de suas lutas políticas, recebeu um fluxo contínuo de pessoas que desejavam se despedir. A notícia de sua morte, ocorrida um dia antes, chocou a comunidade política e a sociedade, dada a natureza do incidente que envolveu um de seus filhos. A comoção é palpável entre os presentes, que relembram a trajetória de um homem que dedicou grande parte de sua existência ao serviço público e à construção de um país mais justo.
Homenagens Marcantes de Figuras Nacionais
Entre as personalidades que se fizeram presentes para expressar solidariedade e admiração, destacou-se o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele interrompeu sua agenda na COP30, em Belém, para viajar até São Paulo e honrar a memória de seu amigo de mais de quatro décadas. Emocionado, Haddad descreveu Frateschi como uma “figura excepcional” e “uma das pessoas mais queridas” no PT, reconhecendo sua generosidade e a postura exemplar que sempre o caracterizou. De acordo com o ministro, Frateschi permaneceu “sempre disponível, sereno e determinado” mesmo diante das adversidades, sendo um dos “grandes construtores” da história do partido e do país.
Adicionalmente, Haddad fez questão de salientar a resiliência notável de Frateschi, mencionando que poucas pessoas enfrentaram “tantos acontecimentos trágicos” e conseguiram se “refazer e superar” com tal dignidade. Apesar de todas as provações, Frateschi “estava sempre disponível para lutar por um país melhor”, participando ativamente na organização de movimentos populares e, em particular, na campanha das Diretas Já, um marco fundamental para a redemocratização brasileira. Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, impossibilitado de comparecer, enviou uma mensagem de pêsames que foi lida pelo irmão de Paulo, o ator Celso Frateschi. Outros políticos de renome, como Ivan Valente, José Dirceu, José Genoíno, Rui Falcão, Adriano Diogo e Eduardo Suplicy, além do escritor Fernando Morais, também marcaram presença, reforçando o alcance e a importância da figura de Frateschi no cenário político nacional.
O Legado de um Visionário e a Despedida Final
O presidente do PT, Edinho Silva, também expressou sua profunda consternação e admiração pelo legado de Paulo Frateschi. Em entrevista aos jornalistas, Silva enfatizou a “capacidade de liderança” do ex-deputado e sua incansável batalha pela redemocratização do Brasil. Conforme Edinho, Frateschi era “uma liderança muito forte” na história do partido, dedicando sua vida à edificação de um “sonho” e à materialização de um “Brasil mais justo e humano”. Para ele, a perda é “trágica”, mas o legado de Paulo é “inesquecível e imortal”, alicerçado na construção da democracia e de uma sociedade igualitária.
Posteriormente, às 14h, um cortejo fúnebre partiu da Alesp, acompanhando o corpo de Paulo Frateschi em direção ao Cemitério Memorial Parque Jaraguá. O sepultamento estava agendado para as 15h30, marcando o momento final de despedida física. O ex-parlamentar deixa sua esposa, Yolanda Maux Vianna, filhas, netos e irmãos, que agora enfrentam a dor da perda e a complexidade dos acontecimentos recentes.
O Drama Familiar e o Pedido de Compreensão
Em meio à tristeza do velório, a filha mais velha de Paulo Frateschi, Yara, concedeu declarações emocionadas à imprensa, abordando a tragédia familiar. Ela descreveu o pai como um “lutador” e “guerreiro” que dedicou a vida à democracia brasileira, enfatizando que ele “merece ser tratado com amor e respeito”. Entretanto, Yara também trouxe à luz a delicada situação de seu irmão, Francisco, explicando que ele está passando por “sofrimento psíquico” e, portanto, “não tem consciência sobre seu ato”.
Ainda mais, Yara defendeu veementemente a índole de Francisco, afirmando que ele é um “menino maravilhoso”, que “nunca levantou a voz” ou agrediu alguém, e que sempre levou “alegria e amor” por onde passou, nutrindo um “carinho imensurável” pelo pai. Ela revelou que Francisco “sofreu um acidente há alguns anos” e foi profundamente “machucado” por perdas anteriores, incluindo a de dois irmãos mais novos em acidentes. Segundo Yara, o que Francisco teve foi uma “doença psíquica”, e “ele não sabe o que ele fez”. Em suma, ela apelou por compreensão, ressaltando que, embora a família sinta uma “dor imensa”, Francisco “não é um monstro”.
Uma Trajetória Política de Luta e Pioneirismo
A carreira política de Paulo Frateschi foi verdadeiramente notável e permeada por um profundo engajamento social. Ele foi um membro histórico do Partido dos Trabalhadores, com uma longa folha de serviços à nação. Desde seus tempos de estudante, Frateschi destacou-se por sua firme oposição e combate à ditadura militar, período em que, em 1969, foi preso e submetido a torturas pelo regime. Após essa experiência, ele participou ativamente da fundação do PT, tornando-se filiado nos primeiros anos de sua existência e contribuindo significativamente para a consolidação da agremiação.
Posteriormente, seu compromisso com a causa pública o levou a ser eleito deputado estadual em 1982, exercendo o mandato entre 1983 e 1987 na Alesp, o mesmo local onde agora é velado. Além de sua atuação parlamentar, Frateschi presidiu o Partido dos Trabalhadores no estado de São Paulo e ocupou uma posição de destaque na direção nacional da legenda. Adicionalmente, ele desempenhou o cargo de secretário municipal de Relações Governamentais em importantes gestões na prefeitura de São Paulo, tanto sob a administração de Marta Suplicy quanto na de Fernando Haddad, demonstrando sua versatilidade e capacidade de gestão em diferentes esferas do poder público.



