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Brasil registra maior queda de emissões de GEE em 16 anos: 16,7% em 2024

O Brasil registrou em 2024 a maior queda de emissões brutas de GEE em 16 anos, com 16,7% a menos, impulsionada pela redução do desmatamento, segundo o Observatório do Clima.
Brasil maior queda GEE
Foto: Arquivo/Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Brasil alcançou um marco significativo em 2024 ao registrar a maior queda nas emissões brutas de gases do efeito estufa (GEE) em 16 anos, com uma redução de 16,7%. Este resultado notável, conforme divulgado pelo Observatório do Clima, é amplamente impulsionado pela diminuição do desmatamento em diversos biomas nacionais. Tal performance posiciona o país em uma posição de destaque no cenário climático global.

Panorama Geral das Emissões Nacionais

Durante o ano de 2024, o Brasil emitiu um total de 2,145 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (GtCO2e). Esta cifra representa uma diminuição de 16,7% em relação ao ano anterior, quando as emissões brutas atingiram 2,576 GtCO2e. Quando se consideram as emissões líquidas, que descontam a captura de carbono por florestas secundárias e áreas protegidas, a queda é ainda mais expressiva, chegando a 22%.

Estes dados foram tornados públicos em 3 de junho, pela rede Observatório do Clima, através da 13ª edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). O estudo oferece uma análise abrangente de 2024, avaliando o inventário de cinco grandes setores: mudança de uso da terra, agropecuária, energia, processos industriais e resíduos. É importante notar que esta redução é a mais significativa em 16 anos e a segunda maior desde o início da série histórica em 1990, quando uma diminuição de 17,2% foi observada.

Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, enfatizou a relevância desse resultado. Ele destacou que é improvável que outros países do G20 ou mesmo entre os dez maiores emissores consigam apresentar uma redução total de suas emissões na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que terá início em 10 de novembro, comparável ao desempenho demonstrado pelo Brasil.

Detalhes por Setor e o Papel do Uso da Terra

Ao analisar as emissões brutas por setor em 2024, a mudança de uso da terra foi o principal contribuinte, respondendo por 42% do total de 2,145 bilhões de toneladas de CO2e. Em seguida, a agropecuária foi responsável por 29%, enquanto o setor de energia emitiu 20%. Os resíduos e os processos industriais contribuíram com 5% e 4%, respectivamente.

Historicamente, o setor de mudança de uso do solo tem sido o maior gerador de emissões no Brasil. Em 2024, este setor foi responsável pela emissão de 906 milhões de toneladas de CO2e, e desse total, 98% originou-se do desmatamento. A pesquisadora Bárbara Zimbres, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), explicou que o aumento do controle do desmatamento tem sido crucial para a queda das emissões neste setor desde 2022. Ela salientou que, no último ano, essa categoria registrou a maior queda nas emissões brutas, alcançando 32%.

Desempenho Regional e Variações Setoriais

A nível regional, a Amazônia registrou uma queda expressiva de 41% nas emissões de GEE, enquanto o Cerrado também reduziu a poluição climática em 20%. Contudo, o Pantanal demonstrou a diminuição mais significativa em proporção ao seu território, com uma redução de 66%. Por outro lado, apenas o bioma Pampa viu suas emissões aumentarem em 6% no último ano.

Em 2024, o setor de agropecuária também apresentou uma leve queda de 0,7% nas emissões. Entretanto, os demais setores registraram aumentos no volume de poluição climática. O setor de energia cresceu 0,8%, os processos industriais expandiram 2,8% e o setor de resíduos teve um acréscimo de 3,6% em suas emissões. No recorte por estado, Rondônia, Pará e Mato Grosso lideraram a redução de emissões brutas, com quedas de 65%, 44% e 44% respectivamente. Apenas Minas Gerais, Piauí, Roraima, Rio Grande do Sul e Sergipe registraram aumento nas emissões em 2024, comparado ao ano anterior.

O Cenário das Emissões Líquidas

O total de emissões líquidas do Brasil em 2024 atingiu 1,49 GtCO2e, considerando as remoções de carbono realizadas por áreas protegidas e florestas secundárias. Este cálculo leva o setor de uso da terra a uma queda ainda mais acentuada de 64% no total das emissões, reduzindo de 685 milhões para 249 milhões de toneladas de CO2 equivalente entre 2023 e 2024.

Consequentemente, esta diminuição reposiciona o setor de uso da terra para o segundo lugar em emissões líquidas no país, respondendo por 17% do total em 2024. Por outro lado, a agropecuária assume a maior parcela da poluição líquida do Brasil, sendo responsável por 42% no último ano, evidenciando uma inversão na hierarquia de contribuição para as emissões líquidas.

O Desafio das Queimadas e seu Impacto Não Computado

É fundamental observar que, no âmbito do SEEG, as queimadas que não caracterizam uma mudança no uso do solo não são associadas ao desmatamento e, portanto, são analisadas em um estudo à parte, sem serem contabilizadas no inventário principal. Bárbara Zimbres, entretanto, ressaltou uma preocupação: o Brasil enfrentou um ano de intensas queimadas, com aumentos significativos na área afetada em praticamente todos os biomas em 2024. Isso, conforme Zimbres, resultou em um acréscimo de duas vezes e meia nas emissões líquidas decorrentes do fogo nos biomas nacionais.

A pesquisadora enfatizou a magnitude desse impacto, indicando que, se o processo das queimadas fosse incluído no inventário de emissões, haveria um aumento de 20% a 30% nas emissões líquidas dos últimos dez anos. Mais alarmante ainda, em 2024, as emissões de queimadas representaram quase 100% das emissões líquidas. Assim, se essas fossem contabilizadas, as emissões líquidas no setor de uso do solo poderiam dobrar, alterando significativamente a percepção do balanço de carbono do país.