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Museu do Pontal celebra cultura afro com festival, shows e 3 exposições no Rio

Em novembro, o Museu do Pontal, no Rio, promove um festival vibrante e inaugura três exposições dedicadas à cultura e ancestralidade afro-brasileira, com shows e contação de histórias.
Museu Pontal programação afro
Foto: João Liberato/Divulgação

O Museu do Pontal, localizado na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, prepara um mês de novembro repleto de celebrações dedicadas à rica ancestralidade afro-brasileira. A programação especial inclui um vibrante festival, performances musicais e a inauguração de três exposições significativas, além de atividades de contação de histórias para todas as idades, reforçando o compromisso da instituição com a cultura nacional.

Atividades Educativas e Contação de Histórias

As festividades de novembro começam com uma agenda cultural diversificada. Neste primeiro fim de semana do mês, o público infantil terá a oportunidade de mergulhar em narrativas envolventes. Por exemplo, a contadora Paulinha Cavalcanti apresentará “Contos Africanos” no sábado (1º), às 16h, uma sessão recheada de música e histórias do continente africano. Intitulada “Negras Palavras”, a apresentação explorará tradições orais, lendas, fábulas e mitos, revelando a sabedoria e os valores de diversas culturas.

Em seguida, no domingo (2), também às 16h, será a vez da escritora e professora Anamô Soares, que, igualmente sob o projeto “Negras Palavras”, promoverá atividades interativas para crianças e adolescentes. Sua abordagem se baseia na literatura de autoria negra, complementada por músicas e acesso a uma biblioteca com cerca de 50 títulos. A iniciativa, portanto, visa estimular a leitura e o interesse do público jovem pelas ricas expressões do cancioneiro popular e da literatura afro-brasileira.

Três Novas Exposições Celebram a Herança Negra

A temática da ancestralidade negra permeia igualmente as três exposições que o Museu do Pontal abrirá no fim de semana seguinte. Estas mostras prometem transformar o espaço, criando um ambiente dinâmico para diversas manifestações culturais, como sambas, maracatus, folias, reisados, jongos, bois-bumbá e carimbós. A diretora do Museu, Angela Mascelani, afirmou que a programação dos dias 8 e 9 de novembro abre o espaço para as grandes festas brasileiras, o movimento afrodiaspórico e suas consequências.

Festas, Sambas e Outros Carnavais: Um Ano de Celebração

No sábado (8), às 15h, os visitantes poderão conferir a exposição coletiva “Festas, Sambas e Outros Carnavais”. Esta mostra, que permanecerá em cartaz por um ano, reúne obras de mais de 60 artistas de dez estados brasileiros. Anteriormente, a exposição foi apresentada em 2023 no Sesc Casa Verde, em São Paulo, e em 2024 no Centro Cultural Bienal das Amazônias, em Belém, antes de chegar ao Rio de Janeiro. A curadoria é assinada pelos diretores Angela Mascelani e Lucas Van de Beuque.

A mostra está organizada em ilhas temáticas, exibindo uma rica coleção de esculturas, fotografias e pinturas, complementadas por textos de autores convidados. Além disso, jovens talentos como Guilherme Kid, Manuela Navas e Elian Almeida participam desta edição. Um dos destaques é Juan Pablo, artista visual e performático, originário da Vila Nova Aliança, em Bangu. Suas pinturas e esculturas em fio de cobre refletem a cultura dos bailes funk e dos bate-bolas, elementos marcantes de sua região. Da mesma forma, Rona, artista visual e performático da comunidade Pretos Forros, no Lins, contribuiu com duas obras originais, sendo uma delas exposta no foyer para convidar o público a uma jornada festiva.

A exposição também homenageia ícones da música brasileira por meio de retratos em diversas mídias. Entre os músicos imortalizados, destacam-se Cartola, Dona Ivone Lara, Martinho da Vila e Pixinguinha, sob o olhar do fotógrafo Walter Firmo. Ismael Silva é representado por Elian Almeida; Paulo Moura, por Sergio Vidal; e Luiz Gonzaga, em uma escultura de Adalton Lopes. Completam a homenagem Dona Onete, em foto de Walda Marques, e Mestre Damasceno, pelas lentes de Luiz Braga.

Sérgio Vidal: Nas Batucadas da Vida

Duas galerias no mezanino do museu serão palco da primeira retrospectiva da obra de Sérgio Vidal, intitulada “Sérgio Vidal, nas batucadas da vida”, com inauguração no domingo (9), às 15h. Aos 80 anos, o artista continua em plena atividade e possui obras em importantes instituições brasileiras, como o Masp, a Pinacoteca, o Museu AfroBrasil e o MAR, bem como no Museum of Fine Arts, em Boston, nos Estados Unidos.

As pinturas de Vidal revelam uma clara influência do compositor e pintor Heitor dos Prazeres, retratando, segundo o diretor executivo Lucas Van de Beuque, “os registros do dia a dia, principalmente do subúrbio do Rio de Janeiro”. Dessa forma, mais de 30 obras traçam a trajetória e a carreira do artista para o público. Nascido na Gamboa, zona portuária do Rio, em 15 de janeiro de 1945, Vidal passou sua infância e parte da vida adulta em Bonsucesso. A inspiração para se tornar pintor surgiu após uma visita ao ateliê de Heitor dos Prazeres, que ele conheceu por intermédio do filho do artista, Heitorzinho, seu amigo de escola. Autodidata, Vidal trabalhou em segredo por muitos anos. Posteriormente, somente após a morte de Heitor dos Prazeres, ele reuniu coragem para mostrar seus quadros a Heitorzinho, que prontamente o introduziu ao universo das artes. Após um período em São Paulo, onde conviveu com nomes como Gildemberg, R.Griot, Aloysio Zaluar, Holmes Neves, Fernando V. da Silva, Di Cavalcanti, Delson Pitanga e Rubens Gerchman, o artista atualmente reside em Pedra de Guaratiba com sua esposa, Leila de Sousa Neto, com quem compartilha 50 anos de união.

Ocupação Naná Vasconcelos: Uma Experiência Imersiva

A terceira exposição a ser inaugurada é “Ocupação Naná Vasconcelos – uma experiência imersiva”, que promete estimular os sentidos com elementos sonoros e visuais. Esta mostra apresenta um vasto acervo de fotografias, documentos, entrevistas, objetos e instrumentos do icônico percussionista. Trata-se de um recorte da exposição realizada pelo Itaú Cultural em São Paulo, em 2024.

Naná Vasconcelos, conhecido por seu domínio do berimbau, instrumento emblemático da cultura afro-brasileira, mesclava sons com o jazz e outros ritmos, criando uma sonoridade única. A inauguração ocorrerá em 9 de novembro, e contará com a presença de Patrícia Vasconcelos, viúva do músico. Além disso, um show especial, “Tá na Roda Tá”, será apresentado em homenagem ao percussionista, às 16h30, com performances de Lui Coimbra, Carlos Malta, Bernardo Aguiar, Aline Paes e Negadeza. A curadoria descreve a exposição como uma oportunidade singular de aprofundar o conhecimento sobre o artista que sempre afirmava: “eu sou o Brasil que o Brasil não conhece”.

Festival de Abertura com Mart’nália e Destaque para Escolas de Samba

A abertura oficial dos festejos será marcada por um grandioso festival, que contará com a presença da renomada cantora Mart’nália e mais de 20 atrações. Entre elas, estão o Terreiro de Crioulo, o Jongo da Serrinha, o grupo-show da escola de samba Unidos de Vila Isabel, Tambores de Olokun e Tá na Roda Tá. Para facilitar o acesso do público, vans gratuitas estarão disponíveis, partindo do Jardim Oceânico e do Terminal Alvorada, ambos na Barra da Tijuca.

Angela Mascelani, diretora do Museu, enfatizou a importância das escolas de samba representadas na programação. Conforme sua visão, as escolas são “espaços não só de sociabilidade, de formação de identidade, mas escolas de vida mesmo, escolas onde se aprende a ter disciplina, organização e expertise em várias áreas, porque são espaços de desenvolvimento de talentos”. Lucas Van de Beuque, diretor executivo, ressaltou que o Museu do Pontal trabalha com a cultura afro durante todo o ano, e que ela estará “presente nas três exposições que vamos inaugurar nos dias 8 e 9 de novembro, com um grande festival, também com esse ponto muito importante, que é a cultura afro-brasileira”. Ele ainda mencionou o lançamento de uma publicação sobre os 100 anos das escolas de samba, sublinhando a relevância histórica e cultural dessas instituições.

Legado e Significado da Cultura Afro-Brasileira

Angela Mascelani também explicou que as oficinas programadas abordarão a questão da ancestralidade, visto que as festas destacadas na mostra foram guardadas e preservadas pela oralidade, transmitidas por gestos e modos de fazer. Em suas palavras, muitas são “peças que não foram registradas com fotografias e, por isso, chegaram por práticas de vida”. Ela citou o maracatu, o jongo, o caxambu e o bumba meu boi como festas sempre presentes no Museu do Pontal. Nesse sentido, a diretora destacou que a articulação da programação de novembro de 2025 se alinha com “um país atravessado por heranças negras, pela recuperação, e por pensarmos nestas heranças e no que elas se constituem e nos dão, enquanto sociedade brasileira, e o quanto elas nos ajudam a articular a organização social”.

O Museu do Pontal é reconhecido como o maior e mais significativo museu de arte popular do Brasil. Seu acervo, resultado de 45 anos de pesquisas e viagens do designer francês Jacques Van de Beuque por todo o país, compreende mais de 9.000 peças de cerca de 300 artistas brasileiros, todas produzidas a partir do século XX. Lucas Van de Beuque concluiu que este é “um momento particular de celebração dos quatro anos do museu celebrando também a cultura afro-brasileira tanto neste fim de semana como nos fins de semana seguintes”, reforçando a importância contínua dessa valorização.