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Após 183 vítimas, alertas no RS chegaram a 100% da população em 42,9% das cidades

Pesquisa do IBGE aponta que alertas sobre as chuvas de abril de 2024, que causaram 183 mortes no RS, só alcançaram 100% da população em 42,9% das cidades atingidas.
Alerta chuvas abril 2024 RS
Foto: TV Brasil

A mais recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta sexta-feira (31), aponta que os alertas sobre as intensas chuvas de abril de 2024 no Rio Grande do Sul, que resultaram em 183 vítimas fatais, alcançaram a totalidade da população em apenas 42,9% dos municípios afetados. Esta descoberta crucial, parte da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic 2024), realça falhas significativas na comunicação e na preparação diante de um dos mais graves eventos climáticos registrados no estado.

Abrangência dos Alertas e Cenário Municipal

O levantamento detalhado do IBGE revela que, dos 459 municípios gaúchos atingidos pelas chuvas — o que corresponde a impressionantes 92,4% do total estadual —, a comunicação de alerta chegou a 100% dos habitantes em menos da metade deles. Além disso, embora as autoridades públicas tenham emitido avisos em aproximadamente 63% das cidades impactadas (ou seja, seis em cada dez), a cobertura universal dessa comunicação permaneceu como um obstáculo notável. Este panorama, portanto, suscita questionamentos pertinentes sobre a eficiência dos sistemas de alerta precoce e a capacidade da proteção civil de garantir a segurança de todos os cidadãos em momentos críticos.

Desafios na Execução dos Planos de Contingência

A pesquisa Munic 2024 também indicou que uma parcela considerável dos municípios afetados pelas chuvas, totalizando 388 (equivalente a 84,5%), dispunha de um Plano de Contingência de Proteção e Defesa Civil. Contudo, a efetivação desses planos durante a crise climática foi consideravelmente inferior, visto que apenas 323 cidades (70,4% das que possuíam planos) conseguiram implementá-los. Por outro lado, nas 65 localidades onde a execução foi falha, diversos impedimentos foram identificados. Oito municípios, por exemplo, atribuíram a não execução à escassez de recursos financeiros. Outros entraves incluíram a insuficiência de recursos humanos, apontada por nove cidades; a falta de treinamento adequado do setor e da equipe responsável pela implantação do plano, mencionada por dez municípios; e a carência de equipamentos e viaturas, problema para onze deles. Em adição a essas razões, cinquenta e uma outras cidades citaram diferentes motivos para a inexecução de seus respectivos planos.

A Diversidade de Impactos dos Desastres Naturais

A calamidade que assolou o Rio Grande do Sul entre abril e maio expôs a profunda vulnerabilidade do estado a uma gama de eventos climáticos extremos. Os dados compilados revelam que 496 municípios foram atingidos por enchentes ou enxurradas, enquanto 336 sofreram com alagamentos e 316 com inundações generalizadas. A erosão afetou 296 cidades; ademais, 250 registraram quedas de barreiras, e um número igual de municípios enfrentou o solapamento das margens dos rios. Em seguida, 230 cidades lidaram com escorregamentos e deslizamentos de terra. A corrida de massa, que arrasta lama e troncos, foi um evento em 179 localidades, e o desabamento de edificações ocorreu em 116 municípios. Além disso, 104 cidades reportaram queda, tombamento e rolamento de blocos, ao passo que dez enfrentaram incêndios. Curiosamente, apenas quatro municípios declararam não terem sido impactados por outros eventos além das chuvas torrenciais.

Danos à Infraestrutura de Saúde e Serviços Essenciais

O evento climático de grande escala gerou severas consequências para a infraestrutura de saúde e para a oferta de serviços públicos essenciais. Conforme indicado pela Munic 2024, 172 municípios gaúchos reportaram danos em suas unidades de saúde, e 142 enfrentaram prejuízos significativos nos equipamentos dessas instalações. Por conseguinte, 137 cidades viram-se obrigadas a suspender total ou parcialmente suas atividades ou serviços de saúde. A demanda por remanejamento de pacientes foi uma realidade em 111 municípios, enquanto 110 necessitaram urgentemente de suprimentos de combustível. Ademais, 80 cidades participaram ativamente de campanhas de vacinação direcionadas tanto à população impactada quanto aos profissionais envolvidos na linha de frente da resposta ao desastre.

O Balanço Humano e Material da Catástrofe

Os números da pesquisa desenham um quadro trágico no que concerne ao impacto humano da calamidade. Durante o período das chuvas, 338 cidades registraram ocorrências que afetaram diretamente seus moradores, com um balanço de 54 óbitos confirmados. Vinte e nove pessoas ainda permanecem desaparecidas, e 329 foram forçadas a se tornar desabrigadas ou desalojadas de seus lares. Além disso, 82 pessoas sofreram ferimentos e 67 desenvolveram enfermidades como dengue e leptospirose, diretamente relacionadas às inundações. No que tange aos danos materiais, 412 municípios reportaram prejuízos em equipamentos e estruturas. A maior parte dessas perdas, atingindo 397 cidades, concentrou-se na infraestrutura viária, comprometendo gravemente pontes, rodovias e ferrovias, o que, por sua vez, dificultou ainda mais as operações de socorro, resgate e a subsequente recuperação da região.