Cerca de 546 mil pessoas perdem a vida anualmente em decorrência do calor excessivo em todo o planeta, enquanto a fumaça de incêndios florestais causou 154 mil mortes somente em 2024. Esses dados alarmantes emergem de um relatório abrangente, fruto do trabalho de mais de cem cientistas globais para a renomada revista The Lancet, em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS), alertando que a vida de 8 bilhões de pessoas está agora em risco iminente devido às profundas alterações climáticas.
O documento, intitulado “Contagem regressiva em saúde e mudanças climáticas”, foi divulgado nesta quinta-feira na Inglaterra, com o propósito de anteceder a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), agendada para iniciar em 10 de novembro em Belém, no Pará. Conforme o texto, os impactos das mudanças climáticas se intensificam globalmente, colocando em xeque a saúde e a existência dos oito bilhões de habitantes do mundo. Os especialistas fazem um apelo veemente por uma redução significativa no consumo de combustíveis fósseis e nas emissões de gases de efeito estufa. Além disso, eles enfatizam a necessidade urgente de implementar adaptações que possam mitigar os efeitos adversos para a população mundial.
Ainda de acordo com o relatório, 2024 foi registrado como o ano mais quente da história, um cenário que impulsionou doze dos vinte indicadores de riscos à saúde relacionados às mudanças climáticas a patamares sem precedentes. Entre 2020 e 2024, a população global experimentou, em média, 19 dias de exposição a ondas de calor anualmente. Impressionantemente, 16 desses dias adicionais de calor extremo não teriam ocorrido se não fosse pelo aquecimento global. Este dado sublinha a influência direta das alterações climáticas na frequência e intensidade de eventos climáticos extremos.
O Impacto no Brasil e na América Latina
Em um recorte específico para o Brasil, o estudo revela um panorama preocupante. Entre 2020 e 2024, o país registrou uma média de 7,7 mil mortes anuais associadas diretamente à fumaça proveniente de incêndios florestais. Adicionalmente, no período de 2012 a 2021, estimou-se a ocorrência de 3,6 mil óbitos por ano no território nacional relacionados ao calor intenso. Outrossim, os pesquisadores calcularam que os brasileiros foram expostos, em média, a 15,6 dias de ondas de calor, sendo que uma expressiva maioria, 94% desses dias, seria evitada sem a ocorrência das mudanças climáticas.
Seca Extrema e Aquecimento Regional
A problemática da seca também se manifesta de forma acentuada. A proporção de terras brasileiras que enfrentaram pelo menos um mês de seca extrema por ano atingiu um patamar alarmante de 72% no quinquênio de 2020 a 2024. Este número representa quase dez vezes mais do que o observado durante as décadas de 1950 e 1960, demonstrando uma deterioração ambiental acelerada. Adicionalmente, uma publicação dedicada à América Latina salienta que a temperatura média na região tem exibido um crescimento constante desde o início dos anos 2000, culminando em um recorde de 24,3 graus Celsius (°C) em 2024. Consequentemente, as mortes atribuídas ao calor na América Latina somam cerca de 13 mil por ano, um número que ressalta a vulnerabilidade da região.
Ações Urgentes e a Esperança na COP30
Apesar do cenário desolador, o relatório da Lancet manifesta otimismo em relação às negociações internacionais, sublinhando que “construir um futuro resiliente exige transformar fundamentalmente nossos sistemas de energia e reduzir nossa dependência de combustíveis fósseis”. Conforme o documento, a adaptação climática “não é mais opcional, mas sim uma necessidade essencial e inegociável” para mitigar os riscos climáticos, fortalecer a resiliência das comunidades e combater as desigualdades socioeconômicas existentes. Neste contexto, o Brasil emerge com um papel crucial.
À medida que a COP30 se aproxima em Belém, o país se posiciona como um símbolo de esperança e transformação. A nação possui uma oportunidade singular de liderar iniciativas de adaptação e mitigação climática, priorizando a saúde da população. Dessa forma, é possível promover o desenvolvimento sustentável e garantir o bem-estar para todos os seus cidadãos e para o mundo.



